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Indicação Geográfica

Rotas do Socol e do Inhame valorizam gastronomia e impulsionam turismo

por Leandro Fidelis

em 26/06/2023 às 9h29

7 min de leitura

Rotas do Socol e do Inhame valorizam gastronomia e impulsionam turismo

(*Fotos: Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

Venda Nova do Imigrante e Alfredo Chaves, na região Serrana do Espírito Santo, estão apostando na valorização dos seus produtos de Indicação Geográfica (IG) para impulsionar o turismo local. Com a criação das rotas do Socol e do Vale do Inhame, respectivamente, as duas cidades buscam promover a gastronomia regional e atrair visitantes interessados em degustar e conhecer a origem dessas iguarias tradicionais. 

O projeto de lei que prevê a implementação da Rota do Socol já foi aprovado na Câmara Municipal de Venda Nova, enquanto em Alfredo Chaves a iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com produtores locais. Com a certificação de IG, o socol e o inhame ganham ainda mais destaque, impulsionando o desenvolvimento dos pequenos negócios nessas regiões.

O Projeto de Lei Substitutivo (PSL) nº 43/2023 propõe incluir pontos estratégicos nos bairros Alto Bananeiras, Vila da Mata, Vila Betânea, Providência e Tapera, abrangendo empreendimentos como Angelim Socol, Caprinova, Dona Martha Delícias, Família Brioschi, Fazenda Carnielli, Sítio Lorenção e Tio Vé Socol, todos membros da Associação dos Produtores de Socol de Venda Nova do Imigrante (Assocol), com 21 associados. A rota tem o objetivo de orientar os turistas a visitarem esses estabelecimentos e fortalecer a produção local.

Segundo o presidente da Câmara, Erivelto Uliana, a criação da rota é uma maneira de incentivar os empreendimentos e a organização produtiva local, além de atrair visitantes interessados em conhecer esse produto icônico para o município. “Venda Nova do Imigrante já é referência no agroturismo nacional, e a rota é mais uma forma de atrair visitantes que querem conhecer esse produto tão importante para o desenvolvimento do município”, disse.

A conquista da IG em 2018 proporcionou aos produtores uma parceria valiosa para expandir o produto no mercado. Formado em duas engenharias e após uma década em Aracaju (SE), Lorenzo Zandonade Carnielli (Fazenda Carnielli) voltou há dois anos para tocar os negócios familiares no agroturismo. Ele destaca que a IG fortalece os produtores, permitindo que eles se unam e se tornem mais visíveis como grupo. “Quando a gente consegue a certificação, você que é muito pequeno e não tem apoio de grande marketing, dinheiro da indústria e das comunicações, passa a ter um parceiro que te ajuda a fazer acontecer. Então, você tem dez produtores de socol em Venda Nova, sendo seis aptos para a venda, e esses seis juntos são mais fortes do que um só sozinho”.

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Ele ressalta ainda que a IG trouxe profissionalização ao setor, garantindo um produto padronizado e de qualidade. “Hoje, temos produtores dentro da IG com registros que garantem um produto muito mais limpo, organizado e padronizado, a exemplo do Selo Arte. Temos um nível hoje de organização do produto bem diferente do passado. A origem da carne tem que ser muito bem determinada. Tudo isso trouxe uma profissionalização para os negócios. Isso é fundamental para conseguirmos transmitir essa cultura daqui para frente, mantê-la viva, num cenário de equilíbrio financeiro e profissionalização dos produtores. Tradicional, deve ser só a receita do socol”, analisa.

Para Carnielli, o socol, com mais de 140 anos de história, surpreende as pessoas com seu sabor diferenciado, tornando-se destaque no mercado. O quilo é vendido em média a R$ 130. “O produto é reconhecido por sua excelência, sendo apreciado não apenas localmente, mas também pelos chefs de cozinha, que o incluem em suas receitas”, diz. Lorenzo enfatiza que a IG não apenas aumentou a visibilidade e o respeito pelo socol na comunidade, mas também abriu portas para o mercado internacional, como é o caso da Cachaça de Paraty (RJ), que obteve participação no mercado global após a obtenção da IG.

Apesar dos desafios burocráticos e do trabalho em equipe necessário para administrar a IG, os benefícios são significativos, avalia o produtor. “O coletivo o tempo todo para gerenciar uma IG é intenso. Em Venda Nova, o público da IG do Socol está envolvido em outras atividades, a exemplo do agroturismo. Os horários são muito concorridos. Tivemos uma reunião recente à noite em pleno feriado. Nada vem de graça”.

A importância do presunto maturado na economia local é indiscutível. Conforme a Secretaria Municipal da Agricultura, em 2021 foram produzidos, em Venda Nova, 14 mil quilos de socol, gerando receita de R$ 1,2 milhão naquele ano. Este ano, uma reportagem especial de TV em rede nacional gerou uma verdadeira corrida ao produto nas prateleiras e no e-commerce. No domingo em que foi exibida, faltou socol nos supermercados da Grande Vitória e as vendas pela internet bombaram. “O nome socol vende muito. Naquele dia, não sobrou nada. Atendi 700 pedidos pelo site e teve entrega até no Acre”, conta Leandro Carnielli, atual presidente da Assocol.

Oportunidades

A Rota do Vale do Inhame é um percurso estimado de 24 km, com início no km 71 da BR-262, em Victor Hugo, Marechal Floriano. Essa rota atravessa a BR-383 em São Bento de Urânia, Alfredo Chaves, e segue até Castelinho, na ES-164, em Vargem Alta. De acordo com a diretoria da Associação dos Produtores de Inhame de São Bento do Espírito Santo (Apisbes), a Prefeitura de Vargem Alta já realizou a aplicação de Revsol em 4 km do trajeto, enquanto outros 7 km devem receber o material pavimentoso com o apoio da Prefeitura de Alfredo Chaves.

Elson Antônio De Nadai, diretor presidente da Apisbes, destaca a importância da melhoria das estradas para o funcionamento da rota. Na região, existem cerca de 600 famílias, sendo que 90% delas são de produtores de inhame. Ele relata o desafio de escoar a produção, mencionando que um sobrinho realiza em média 50 viagens de caminhão por semana para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

O diretor executivo da associação, Jandir Gratieri, enfatiza que a Indicação Geográfica (IG) do Inhame de São Bento foi a mais rápida concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a um produto de origem vegetal no Brasil. Atualmente, a Apisbes conta com 15 associados. No entanto, o selo de IG ainda não está sendo utilizado, pois o planejamento estratégico para sua aplicação encontra-se na fase final de execução pelo Conselho Regulador.

Segundo Gratieri, a busca é por um processo de padronização, pois a produção tem atingido esse objetivo para atender às demandas dos supermercados. No entanto, o varejo ainda quer quantidade e não faz distinção da IG uma vez que o consumidor ainda não está habituado. “Por isso, o turismo de experiência é uma estratégia importante para o meio rural. E é nesse contexto que a Rota do Vale do Inhame desempenha um papel crucial, pois a venda direta ocorrerá nas propriedades”. De Nadai complementa: “a agregação de valor do socol é um exemplo clássico. O lucro está ali embutido no produto para o consumidor final”.

Embora o tubérculo seja vendido principalmente in natura, os diretores ressaltam que existem inúmeras oportunidades para a produção artesanal de subprodutos de inhame pelos moradores da área de IG, o que pode gerar renda para pequenos empreendimentos. Gratieri menciona exemplos como leite vegetal de inhame, pães, doces como cocada, farinha e até mesmo bebidas. De acordo com eles, já existem no mercado brasileiro produtos como carne vegetal, suplemento nutricional infantil e até mesmo queijo de inhame. “Nosso produto é saudável e pode proporcionar uma infinidade de possibilidades de negócio”, afirma Jandir Gratieri.

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