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Indicação Geográfica

Revisão do processo da Indicação Geográfica da Carne de Sol Montanha

por Leandro Fidelis

em 03/07/2023 às 8h57

6 min de leitura

Revisão do processo da Indicação Geográfica da Carne de Sol Montanha

*Fotos: Divulgação

O processo de obtenção da Indicação Geográfica (IG) da Carne de Sol de Montanha passará por revisão no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), após pedido de restrição da notoriedade do produto apenas ao município de Montanha, excluindo outros municípios do Vale do Itaúnas, como Pinheiros, Mucurici, Ponto Belo, Conceição da Barra, Pedro Canário e Boa Esperança. Fontes envolvidas no projeto afirmam que o processo está sendo revisto, mas a associação gestora da IG foi desmantelada. No entanto, o Instituto Inovates, responsável pelos diagnósticos, estruturação e gestão das IGs, deverá assinar em breve um contrato com o Sebrae/ES para a repaginação da IG.

Um dos locais conhecidos pela produção da iguaria é a fazenda da família de Caio Wand-Del-Rey, proprietário da agroindústria e da loja Arroba Montanha. A propriedade adota um regime conhecido como pecuária regenerativa, que inclui o pastejo rotacionado móvel e o uso das fezes e urina dos animais como fertilizantes para o solo. Além disso, a fazenda implementou medidas de reflorestamento, incluindo o plantio de quase 600 árvores de mogno africano, e prevê espécies da Mata Atlântica, como Ipê, Jacarandá, Pau-Brasil, Braúna e Itapecuru ainda este ano, totalizando 3.000 árvores. A propriedade também possui nascentes preservadas e conta com uma usina fotovoltaica com capacidade de 130% de toda necessidade energética.

Caio Wand-Del-Rey destaca a importância da IG da Carne de Sol, mencionando que traz padronização, conscientização sobre a necessidade de seguir processos rigorosos e agrega valor aos produtos que atendem aos requisitos da IG. Ele também ressalta o potencial da IG para promover o turismo local, a culinária dos restaurantes e realizar eventos na cidade, beneficiando o comércio local, hotéis e atraindo turistas, considerando a diversidade de atrativos em Montanha. “Temos café especial, cachaça artesanal, produção de frutas como mamão, maçã, escalada em pedra e ainda existem trilhas para motociclismo e bike, lindas igrejas e águas limpas e transparentes. O belo que nos acostumamos é muito diferente para quem é de fora e não tem contato. Acredito que isso seja uma grande riqueza”, diz.

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No entanto, o produtor também aponta os desafios envolvidos na obtenção da IG, especialmente em relação às legislações sanitárias, boas práticas de manipulação, condicionamento, armazenamento, embalagem, temperatura, origem dos produtos e identificação em lotes. Ele destaca a necessidade de investimentos em infraestrutura e adequações, além dos desafios logísticos relacionados à comercialização dos produtos fora da região. O produtor acredita que a IG trará reconhecimento à região e proporcionará oportunidades de negócios, incluindo a expansão da Arroba Montanha para São Paulo, Rio de Janeiro e até mesmo exportação. “Hoje a Arroba Montanha está presente em todo o Espírito Santo, sendo a única marca artesanal com selo de inspeção estadual e certificação federal. A IG será um marco importante em nossa trajetória, levando o nome da nossa cidade e do nosso produto para o mundo todo”, conta.

A família já investiu mais de R$ 500 mil em infraestrutura, consultorias, treinamentos e viagens em busca de conhecimento sobre carne de qualidade para aprimorar a carne de sol. “Somente neste ano, faremos um investimento de mais de R$ 300 mil em expansão e melhorias na agroindústria. O caminho não foi fácil e continuará sendo desafiador, mas nos dedicamos integralmente à empresa nos últimos 12 anos, projetando um crescimento de 200% nos próximos três. Temos certeza de que isso é apenas o começo de uma história de sucesso”. Wand-Del-Rey afirma ser a família quem introduziu no mercado a inovação dos cortes especiais em carne de sol, a tecnologia a vácuo e patenteou o hambúrguer, a linguiça e o carpaccio de carne de sol. “Somos pioneiros no Brasil em oferecer carne de sol de alta qualidade”.

Caio ressalta que a IG contribuirá para a geração de empregos, renda e riqueza, além de promover a educação da população em relação às boas práticas e à melhoria da qualidade dos produtos. Ele enfatiza a importância das capacitações, aumento da produção e agregação de valor, e destaca a necessidade de políticas públicas que apoiem os produtores, oferecendo capacitação, crédito e assistência técnica. O produtor sugere ainda a facilitação do acesso ao crédito, serviços de inspeção com mão de obra qualificada, treinamentos, oficinas, regulamentação de produção e incentivos fiscais.

O prefeito de Montanha, André Sampaio, comenta que houve negativas do INPI ao longo do processo e enfraquecimento da associação gestora da IG, mas afirma que ela será retomada. Ele destaca que o município possui uma pequena indústria registrada e liberada pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) para comercializar a carne de sol, além de uma boutique especializada no produto. O maior desafio, segundo o prefeito, é adequar o espaço para a industrialização da matéria-prima de acordo com as exigências do Idaf.

Para Sampaio, mais pessoas produzindo com qualidade permite o acesso a diversos subprodutos à base da carne de sol e o reconhecimento dos pequenos produtores. Como a carne em geral vem de açougue, essa robustez de detalhes sanitários dificulta muito o município ter mais empreendimentos ligados à carne de sol. “Nenhum açougueiro quis migrar para essa parte, somente pessoas mais novas que investiram no produto, como a Arroba Montanha, que tem inclusive o Selo Arte. Ao longo de mais de 40 anos, a Prefeitura vem apoiando os pequenos negócios em participações em feiras, a exemplo da próxima Feira dos Municípios, de 31 de agosto a 03 de setembro, em Carapina (Serra), oportunizando quem quer expor e vender o seu produto. A municipalidade tem esse papel de engajar, de levar e trabalhar os produtores para ter acesso a esses mercados”.

O prefeito ressalta que a IG da Carne de Sol será um importante impulsionador das boas práticas e das condições do município para o seu desenvolvimento. Ele destaca que a certificação trará visibilidade de alto nível para os produtos, permitindo acesso a mercados desconhecidos anteriormente e promovendo a qualidade e a proteção dos produtos. André Sampaio acredita que a região se tornará um atrativo turístico nos próximos anos, oferecendo pacotes de passeios que incluirão degustação e visitação às unidades de produção de carne de sol.

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