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Indicação Geográfica

A luta do quilombo pela Indicação Geográfica do Beiju do Sapê do Norte

O movimento não se limita apenas ao aspecto econômico, mas também representa uma batalha pela valorização e reconhecimento das comunidades quilombolas

por Leandro Fidelis

em 05/07/2023 às 13h00

4 min de leitura

A luta do quilombo pela Indicação Geográfica do Beiju do Sapê do Norte

*Foto: Inovates/Divulgação

A riqueza cultural e gastronômica das comunidades quilombolas do território de Sapê do Norte, situadas nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, está prestes a receber o merecido reconhecimento. Em dezembro de 2022, foi feito o depósito da Indicação Geográfica (IG) do Beiju do Sapê do Norte, e atualmente encontra-se em processo de análise, com previsão de duração ao longo de todo o ano de 2023 até obter o reconhecimento oficial.

A importância dessa conquista vai além do aspecto simbólico, pois traz consigo oportunidades de desenvolvimento socioeconômico para as comunidades envolvidas. Com o apoio do Sebrae/ES, os integrantes já estão sendo treinados sobre como utilizar o selo da IG, visando analisar as questões de controle, aplicação das normas e atuação da associação constituída especificamente para esse fim.

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Os municípios de São Mateus e Conceição da Barra abrigam cerca de 33 comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares em 2021. Essas comunidades estão distribuídas predominantemente nas áreas rurais, ao longo do território denominado Sapê do Norte. O nome desse território quilombola tem origem na ligação e identificação das comunidades negras e camponesas com a natureza local, especialmente por uma determinada vegetação presente nas terras cultivadas.

Com o objetivo de afirmar sua identidade quilombola e fortalecer sua presença, as comunidades se organizaram e criaram a Comissão Quilombola do Sapê do Norte, despertando o interesse e apoio de diversos atores envolvidos nessa luta. Um exemplo disso foi a participação dos quilombolas em um estande na 3ª RuralturES, de 15 a 18 de junho, em Venda Nova do Imigrante, que contou até mesmo com a visita do governador Renato Casagrande.

Domingas Verônica Florentino dos Santos, presidente da Associação das Produtoras Quilombolas de Beiju do Sapê do Norte, expressa a importância dessa conquista para as comunidades quilombolas. “A nossa promoção é através da união, do fortalecimento da agricultura e da tradição de geração em geração. Unificamos dois municípios para fortalecer a conquista da IG.

Reconhecemos que um município produtor de beiju isolado não é suficiente para alcançar um feito tão grandioso. Ao adquirirmos o selo, não seremos reconhecidos apenas dentro da comunidade, mas teremos a possibilidade de expandir nosso alcance. Essa expansão garantirá a sustentabilidade de nossas famílias e nos permitirá alcançar objetivos que, sozinhos, não conseguiríamos”.

Ainda segundo Domingas, a união dessas comunidades de produtores de beiju, muitas vezes esquecidos, destaca a ausência de políticas públicas voltadas para os quilombolas. “Ao apresentarmos o beiju ao poder público, governo, mostramos nossa existência. Estamos aqui, negros, construindo e resistindo em nosso quilombo. Por meio do beiju, podemos impulsionar o mercado de trabalho, por isto a obtenção desse selo será um passo enorme, pois não temos algo certificado que ateste ser o produto proveniente das comunidades quilombolas. Isso contribuirá para o nosso senso de pertencimento”, analisa a presidente.

A batalha pela Indicação Geográfica do Beiju do Sapê do Norte é uma demonstração de perseverança e resgate da cultura ancestral, representando a luta por reconhecimento e valorização das comunidades quilombolas. Essa conquista não apenas promoverá a sustentabilidade econômica dessas famílias, mas também preservará sua história e tradições para as gerações futuras. “Estamos determinados a escrever nossa história e mostrar ao mundo que somos uma força viva, capaz de contribuir e prosperar. A obtenção do selo da IG será um marco significativo, um símbolo de nossa identidade e um impulso para nossa comunidade. Estamos prontos para enfrentar os desafios e construir um futuro melhor para nós e para as próximas gerações”, conclui Domingas.

Os quilombolas que mantêm a tradição do Beiju do Sapê do Norte participaram da última RuralturES. (*Foto: Leandro Fidelis)

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