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Indicação Geográfica

Cafés capixabas: qualidade reconhecida e desenvolvimento com as IGs

por Leandro Fidelis

em 20/06/2023 às 10h48

7 min de leitura

Cafés capixabas: qualidade reconhecida e desenvolvimento com as IGs

Segundo Rodrigo Dias (presidente da Acemes), os produtores que conquistaram a Indicação Geográfica (IG) do Café das Montanhas do Espírito Santo estão na fase de implantação do selo. (*Fotos: Divulgação)

O café continua a liderar como o produto com o maior número de Indicações Geográficas (IG) no Brasil, contando atualmente com 14 registros no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), de acordo com a Embrapa Café. Dentre esses registros, nove são de Indicação de Procedência (IP), incluindo o Conilon do Espírito Santo; e cinco de Denominação de Origem (DO), como o Café do Caparaó e o Café das Montanhas do Espírito Santo, todos conquistados em 2021.

 

Um dos casos particulares é a Região do Cerrado Mineiro, registrada na modalidade IP e também como Denominação de Origem. Apesar de dois registros, o Ministério da Agricultura (Mapa) informou, por meio da assessoria, ter conhecimento de que os produtores atualmente utilizam apenas a DO para comercializarem os seus produtos.

 

Luiz Carlos Bastianello, presidente da Federação dos Cafés do Espírito Santo (Fecafes) e da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), destaca que as IGs garantem a qualidade mínima dos produtos e conferem segurança aos consumidores.

 

“Além disso, agregam valor aos pequenos negócios, trazendo benefícios para a economia. A visibilidade e a competitividade proporcionadas pelas IGs têm impulsionado o comércio, gerando negociações com valor agregado. O maior benefício é para quem consome esses produtos”, ressaltou.

 

Atualmente, os produtores que conquistaram a Indicação Geográfica (IG) do Café das Montanhas do Espírito Santo estão na fase de implantação do selo. Para isso, eles devem procurar a Associação, os escritórios locais do Incaper e as secretarias de Agricultura para credenciar suas propriedades nos 16 municípios da região. Segundo Rodrigo Dias, presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais das Montanhas do Espírito Santo (Acemes), esse processo inclui o cadastramento da propriedade com mapeamento de talhões, informações sobre variedades, idades e produtividade, garantindo uma rastreabilidade completa. Pelo menos 80 produtores associados estão envolvidos nesse processo.

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Além disso, os produtores precisam obter o laudo emitido por laboratórios credenciados, que ateste a qualidade e os padrões do café de acordo com as especificações técnicas da IG. Dias afirmou que a intenção é colocar cafés com o selo ainda este ano no mercado. Ele destaca que o selo é concedido para cafés especiais com pontuação acima de 85 pontos e que já foram realizados leilões e premiações para promover o produto.

 

O presidente da Acemes ressalta a importância da sustentabilidade e do desenvolvimento econômico, especialmente para os pequenos negócios na cadeia produtiva do café.

 

“O registro da IG permitirá uma gestão mais eficiente das propriedades e trará benefícios não apenas para os produtores, mas também para o turismo local dos municípios. A cafeicultura está intrinsecamente ligada ao agroturismo, e a IG proporcionará acesso a um mercado diferenciado, onde os consumidores poderão se aprofundar no universo dos cafés especiais”.

 

Essas ações visam elevar a cadeia produtiva do café aos padrões desejados pelo mercado consumidor internacional, garantindo a qualidade e sustentabilidade dos produtos e impulsionando o turismo e o comércio local nas regiões produtoras. “Com o registro, é possível gerir com mais eficiência, beneficiando não somente os produtores, mas o turismo regional. Antes, você não chegava numa propriedade produtora de café e topava com uma cafeteria. É o acesso a um mercado diferenciado, o consumidor buscando se aprofundar sobre cafés especiais”, analisa Dias.

Luiz Carlos Bastianello, presidente da Federação dos Cafés do Espírito Santo (Fecafes) e da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel).

 

Cecília Nakao, presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec), destaca que as IGs não são apenas uma concessão de selo, mas uma forma de preservar a cultura, a tradição e a paisagem das regiões. A produtora cita o exemplo do Vale dos Vinhedos (RS), onde a DO tem se mostrado uma ferramenta poderosa de proteção da paisagem vitivinícola. 

 

“Lá, a construção de um resort em uma área de DO foi impedida com base na premissa da IG, que visa preservar e valorizar o ambiente. Essa medida não só melhora a vida dos produtores, garantindo a sustentabilidade da atividade, como também proporciona vantagens para todos os envolvidos. No nosso caso, isso acontece mesmo com aqueles que não possuem o café selado. A IG promove a organização em torno da rastreabilidade e da comprovação da origem, antecipando as futuras exigências do mercado e fortalecendo a narrativa sobre o produto”, disse Cecília.

 

Ainda segundo a presidente da Apec, além de contribuir para o desenvolvimento do território, a IG impulsiona o turismo. “A economia local é afetada de forma positiva, com o turismo caminhando lado a lado e a valorização da origem atraindo olhares externos para a região. Há mais chances de os pequenos produtores se inserirem nesse mercado promissor, recebendo visitas na propriedade e vendendo seu próprio café torrado no estabelecimento. Esse vínculo com o comércio vai se ampliando”.

 

Vitrine internacional

Feiras estaduais como a Sabores da Terra e a ESX 2023, realizadas em maio, em Vitória, conectam produtores e compradores e aumentam a visibilidade das três IGs de cafés capixabas. Com apoio do Sebrae/ES, as três origens de cafés capixabas foram representadas com stands e muitos negócios foram gerados.

 

Mas a rede vem se ampliando em eventos de nível internacional, a exemplo da já citada SIC, sempre em novembro em Belo Horizonte, e feiras pelo mundo. De 22 a 24 de junho, o trio de IGs capixabas participará, em Atenas, na Grécia, da feira de cafés especiais “World of Coffee 2023”, com apoio da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) por meio do projeto setorial “Brazil. The Coffee Nation”. Dentre as amostras do Espírito Santo, um dos destaques é uma do Café das Montanhas acima de 87 pontos.

 

Estande da DO Montanhas do Espírito Santo no ESX, em Vitória.

 

Chico Ribeiro (Balaio) atesta que essa é a importância das associações ao gerirem a entrada dos produtores em novos mercados e ampliar suas perspectivas. “Ao invés de vender apenas uma saca de café, é possível comercializar um contêiner, abrindo portas para oportunidades de mercado mais amplas. A valorização da procedência se torna essencial, oferecendo uma importante visibilidade mercadológica e atraindo compradores que desejam estar associados ao selo, o qual agrega maior valor aos produtos”. 

 

Segundo o designer, um exemplo desse sucesso é a Cachaça de Paraty (RJ), que conquistou presença no mercado internacional e participa de feiras e exposições, visando expandir sua abordagem em níveis de mercado mais amplos, incluindo o processo de exportação da bebida.

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