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Anuário 2020

O agroturismo renasce

A pandemia teve um impacto imediato no setor, que encontrou a sobrevivência na tecnologia e em novos pontos de venda

por Fernanda Zandonadi e Leandro Fidelis

em 28/01/2021 às 11h43

8 min de leitura

O agroturismo renasce

*Fotos: Leandro Fidelis/Safra ES

O agroturismo é uma fonte de renda importante para as cidades do interior capixaba. O visitante oferece, em troca da experiência, um dinheiro que não gera riscos ao meio ambiente e fomenta a geração de empregos em vários setores da economia. O caminho foi trilhado aos poucos e a pandemia do novo coronavírus colocou em xeque a sobrevivência de muitos empreendimentos que dependem dos turistas para manterem as portas abertas.

Março e abril de 2020 foram meses críticos para o setor. Com o vírus chegando ao Espírito Santo, foi decretado estado de emergência. Viagens, só as necessárias. A orientação era ficar em casa e deixar o divertimento para depois. Hotéis e restaurantes ficaram vazios. Os empreendedores do agroturismo calculam que, nesses dois meses, o faturamento caiu em torno de 70%.

“Houve redução do fluxo de pessoas, muitos empreendimentos também aderiram à quarentena e fecharam as portas ”, explica a secretária executiva do Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau, Andreia Rosa.

E esse tombo na receita foi geral. O gerente da Unidade de Competitividade e Produtividade do Sebrae/ES, Luiz Felipe Sardinha, estima que, no período de março a novembro, aproximadamente 90% dos negócios da região sofreram com uma queda expressiva do seu faturamento.

Numa crise generalizada, a tentativa de manter o equilíbrio contou com a ajuda de muitas mãos. Desde o início das restrições a estabelecimentos comerciais dos roteiros de agroturismo, o Sebrae/ES disponibilizou aproximadamente R$ 30 milhões em consultorias gratuitas nas áreas de gestão, finanças e marketing. “Identificamos que o empreendedor precisava (e ainda precisa) realizar ajustes rápidos em seus negócios por uma questão de sobrevivência ”, afirma Sardinha.

Além disso, muitos estabelecimentos adotaram o e-commerce ou novas logísticas de distribuição nas cidades de origem da maior parte dos turistas frequentadores da região para manter as vendas. “Tendem a se destacar os empreendimentos que utilizarem estrategicamente a tecnologia para se comunicar e comercializar produtos e serviços, bem como facilitar e agilizar processos como cadastros, pagamentos, entre outros ”, conclui o gerente.

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Andreia Rosa (Montanhas Capixabas Convention & Visitors Bureau) eLuiz Felipe Sardinha (Sebrae/ES).

O setor renasce, mas com parcimônia

A resiliência do agroturismo, no entanto, impressiona. Se, por um lado, as perdas foram iguais ou superiores a outros segmentos da economia, por outro, os agroempreendedores encontraram na adversidade novas formas de chegar ao seu público. Segundo Andreia Rosa, as alternativas encontradas foram levar os produtos aos supermercados &ndash, que mantiveram uma venda estável no período &ndash, às feirinhas que ainda funcionavam e, claro, apostar nas entregas em domicílio. Essas novas alternativas seguraram as vendas no período mais drástico do isolamento.

Além disso, quando os municípios da Região de Montanhas entraram no chamado risco baixo de contaminação, o cenário mudou. Segundo Andreia Rosa, de julho até novembro o movimento na região aumentou 30% em relação ao mesmo período de 2019. Mais do que manter o fluxo semelhante ao ano anterior, o agroturismo chamou ainda mais turistas à região.

“Para quem mora em regiões metropolitanas, há uma percepção equivocada de que o interior do Estado está mais seguro à doença. É muito comum ver turistas circulando sem máscara ou não fazendo uso do álcool gel ”, analisa a secretária executiva.

Mas em tempos de pandemia, todo cuidado é necessário. Alguns empreendimentos desautorizaram excursões em ônibus ou jardineiras para evitar aglomerações, mesmo sob agendamento prévio. Além disso, o Convention lançou uma campanha de conscientização para manter as atividades antes que autoridades estaduais apliquem novas restrições aos comércios.

‘Nossa empresa é 60% diferente de quando a pandemia começou’-Com 29 anos de atuação em Venda Nova do Imigrante, o Grupo Venturim (hotel, restaurante, agroindústria e posto de combustíveis) adotou estratégias para a sobrevivência dos negócios às margens da BR-262, no distrito de São João de Viçosa, nesta pandemia. “A pandemia mudou nossa vida. Nossa empresa é 60% diferente de quando o surto da Covid-19 começou. Estamos colocando o rio em um novo curso ”, relata a sócia-proprietária Ana Venturim.Os negócios da família sempre dependeram do movimento de caminhoneiros e representantes comerciais durante a semana e do fluxo de turistas aos sábados, domingos e feriados. Nos últimos anos, o Grupo Venturim investiu no agroturismo com a produção de macarrões saborizados, café e biscoitos voltados ao público de maior poder aquisitivo.Porém, com os turistas deixando de passear por conta da quarentena, as estratégias da família voltaram a focar no primeiro público, mais fiel e menos sazonal. E para não demitir funcionários, os Venturim baixaram o preço de todos os produtos do complexo comercial, incluindo o valor do prato feito, que custou R$ 10 até agosto.

A medida inclui até a contratação de um funcionário dedicado às compras para manter os custos das matérias-primas. “Voltamos a receber turistas, caminhoneiros e representantes comerciais, que estão em busca de produtos mais baratos ”, diz Ana.

As ações do Grupo Venturim também priorizam a comunidade local. A família abriu uma padaria, iniciou a venda de cerveja nos fins de semana e buscou parcerias para garantir leite para a fabricação de biscoitos. “A ideia é unir pessoas dispostas a viverem este momento com a mesma sensibilidade que nós ”, finaliza.

A gente quer comida, diversão e arte…

Se o agroturismo recuperou as vendas e o fluxo de turistas, o mesmo não pode ser dito sobre o setor de eventos, que ainda sente na pele as consequências da pandemia.

Segundo o presidente do Espírito Santo Convention & Visitores Bureau, Alfonso Silva, o setor de eventos parou completamente durante um período longo, de março a novembro de 2020.

“Todos os eventos pararam 100% neste período por força dos decretos de saúde pública. O turismo parou em torno de 70%, mas a paralisação do setor de eventos foi total e as contas continuaram chegando. Não houve faturamento, por isso o custeio ficou por conta do empresário. Estimamos que, no setor de eventos, 30% a 35% das empresas fecharam efetivamente e as pessoas passaram a dar consultoria. Ainda não foi feito um estudo específico disso, é pesquisa empírica”.

Segundo ele, ainda não há um estudo específico sobre o segmento, mas pela observação dos empresários do setor, a estimativa é de que apenas 4% dos eventos programados no ano devem ter saído do papel. “E foram eventos regionalizados, não nacionais. E sabemos que são os eventos maiores que geram empregos e renda às cidades, pois há demanda por hospedagens e restaurantes. Os regionais, por outro lado, cortam a cadeia produtiva dos eventos ”, ressalta.

Em dezembro, Domingos Martins recebeu o terceiro grupo de visitantes, vindo de Brasília, como parte da ação de promoção do destino Espírito Santo dentro do Plano de Retomada da Economia e do Turismo. (*Divulgação/PMDM)

Verão: turista vai priorizar atrativos onde se sentir seguro

O risco de contaminação pelo novo coronavírus em todo o país e as restrições de alguns países para a entrada de turistas brasileiros favoreceu o turismo interno capixaba. O verão chegou e o turismo capixaba poderá se beneficiar do turismo regional. Tudo vai depender do mapa de risco das cidades para o afrouxamento das atividades no comércio, parques, entre outros.

Para o gerente da Unidade de Competitividade e Produtividade do Sebrae/ES, Luiz Felipe Sardinha, o Estado tem boa infraestrutura para atender ao turista interno, que provavelmente virá de carro de um raio de até 500 km do atrativo.

“As primeiras análises apontam para uma tendência de crescimento do turismo regional. Mas, é preciso entender que essa demanda tende a se consolidar no médio prazo e à medida que o turista se sinta confortável em relação à questão sanitária ”, analisa Sardinha.

O que vai determinar o jogo é se o empreendimento estará adequado às boas práticas de saúde e segurança, tanto sob o ponto de vista dos colaboradores quanto do cliente. “O turista certamente irá priorizar aqueles atrativos onde ele se sentir seguro ”, diz.

Em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo e a Associação Brasileira de Agências (Abav-ES) e municípios, o Sebrae/ES tem promovido ações de “famtour ” e “press trip ” em algumas regiões do Espírito Santo. O objetivo é promover as potencialidades capixabas e contribuir para o aumento do fluxo turístico no Estado.

Socol feito a 1.200 metros com entregas por delivery-O Angelim Socol é uma das marcas detentoras do selo de Indicação Geográfica (IG) de Venda Nova do Imigrante. A produção é comandada pelo casal Karla Falqueto e Alexandre Cesquim na propriedade da família dela, no Alto Bananeiras, zona rural de Venda Nova. O clima de montanha proporcionado pela altitude de 1.200 m imprime sabor especial ao embutido feito com carne de porco.O casal produz o presunto maturado conforme a demanda dos clientes, dentre supermercados, cervejarias e consumidores finais do município, que recebem as encomendas em casa. “O início da pandemia foi mais parado, mas depois os pedidos se normalizaram. Quem sofreu mais foi o produtor que recebe na propriedade, o que não é nosso caso ”, relata Cesquim, o atual presidente da Associação de Produtores de Socol (Assocol).

 

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