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Série especial Mulheres do Agro 2023

Mulheres no agronegócio: crescimento e protagonismo no setor

Apesar do esforço para se capacitar e enfrentar os desafios, as mulheres ainda são minoria em cargos de destaque na cadeia do agro capixaba

por Rosimeri Ronquetti

em 10/03/2023 às 0h05

5 min de leitura

Mulheres no agronegócio: crescimento e protagonismo no setor

Christiany Fitaroni (49) foi nomeada para o cargo de secretária Municipal de Agricultura de Guaçuí há dois anos (*Fotos: Arquivo Pessoal)

O abismo que separava as mulheres da educação no século passado vem sendo superado. E a boa notícia é que a mulherada é maioria também nos cursos relacionados ao agronegócio. Enquanto na época das nossas avós, as mulheres do interior não tinham oportunidade se quer de serem alfabetizadas, na atualidade o sexo feminino está cada vez mais presente em formações da área. Só para se ter ideia, 60% dos alunos da turma do curso técnico em agropecuária do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) campus Santa Teresa, matriculados em 2023, são mulheres. Em 2022, esse número foi ainda maior, 62%.

Para Paola Alfonsa Vieira Lo Monaco, professora e diretora de ensino da unidade, esse cenário é resultado de vários fatores. “O mercado está cada vez mais exigente e busca por profissionais capacitados e com maior qualificação profissional, e menos quanto ao fator ‘gênero’, o que coloca a mulher num cenário de protagonismo. Elas, em geral, têm buscado se qualificar e se especializar mais, o que as torna mais competitivas. Além disso, a mulher contemporânea tem buscado superar mais os desafios, com persistência, sensibilidade, aliando o lado racional com o emocional, proporcionando ao setor agrícola um relacionamento mais humano e afetivo”, revela a diretora

Para o coordenador do curso de agronomia da Faesa, em Linhares, Renan Batista Queiroz, com o passar dos anos o número de mulheres que buscam o curso tem crescido. Na primeira turma, em 2016, eram apenas três do total de 40 alunos. Já a última turma conta com oito mulheres dentre os 18 estudantes do curso. Queiroz explica que a visão existente da agricultura hoje é outra, o que justifica o aumento na procura da graduação por parte das mulheres. Ele acrescenta ser essa uma tendência não só no Estado, mas em todo o país, o que e ajuda a acabar com o preconceito.

“Esse crescimento é verificado a cada semestre. Vejo que esse avanço tem relação com a visão atual da agricultura. Não tem mais aquela questão de sofrimento na roça, de pegar sol, enxada. A agricultura tem mudado de patamar e se tornado algo mais empresarial. Elas estão vendo a possibilidade de ser empresária rural. Até mesmo pela questão de tomar conta do próprio negócio e da sucessão familiar. Esse crescimento é uma tendência no país, não é só aqui no Espírito Santo. Acho importante porque acaba com o preconceito de que é algo estritamente masculino e aumenta a diversidade”, esclarece o coordenador.

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E se tem mais mulheres na faculdade de agronomia, tem mais mulheres também registradas no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-ES). Nos últimos cinco anos, esse número cresceu 31,77% no órgão, passando de 129 para 309 profissionais do sexo femino.  Os homens ainda são maioria absoluta, um total 1.689 registrados.

“Para nós, esse crescimento é de grande valia, principalmente porque entendemos que a dedicação, a sensibilidade e o tom feminino ajudam muito, não só nos aspectos da orientação ao produtor rural, como também no campo, porque elas estão deixando de ser orientadoras para serem produtoras de modo geral. Além disso, também estamos notando um aumento da participação dessas profissionais na atualização e no aperfeiçoamento profissional com muita dedicação. A tendência para os próximos anos é crescer ainda mais”, avalia Jorge Silva, presidente do Conselho.

Para Rafaela Tesch (35), secretária Municipal de Agropecuária em Santa Maria de Jetibá, é preciso continuar buscando espaço.

Pouca representatividade  

Não é somente no Crea-ES onde elas ainda são minoria. Quando olhamos para as secretarias de Agricultura dos municípios capixabas é possível perceber poucas mulheres ocupando o principal cargo da pasta. Segundo dados do Fórum de Secretários Municipais de Agricultura do Estado do Espírito Santo (Fosemag), dos 78 municípios do Estado, apenas sete têm mulheres no comando das secretarias.

Guaçuí é um deles. Christiany Fitaroni (49) foi nomeada para o cargo há dois anos. Engenheira agrônoma há 23, ela considera ter a pasta “peculiaridades de trabalhos diversificados que exigem força, coragem, resistência, resiliência, mas que também requer habilidade e sensibilidade para a construção de estratégias de liderança. E nós mulheres somos, sim, capazes de fazer esse trabalho”, enfatiza a gestora.

À frente de uma equipe de 39 colaboradores, destes apenas duas são mulheres. Chistiany acredita que o inexpressivo número de mulheres ocupando esse cargo se deve a questões culturais, mas também é necessária uma mudança de comportamento do público feminino.

“Muitos ainda enxergam, por questões culturais, a agricultura como um universo de protagonismo masculino em que a mulher ocupa um papel de ‘coadjuvante’. Por outro lado, sendo um cargo de agente político, para que a realidade mude se faz necessário também as mulheres envolvidas no agro se permitirem atuar como lideranças políticas em suas comunidades, municípios, se colocando disponíveis para ocuparem cargos afins, e desta forma somarem força a outras mulheres”.

Para Rafaela Tesch (35), secretária Municipal de Agropecuária em Santa Maria de Jetibá, apesar de ser minoria neste e em tantos outros cargos, é preciso continuar buscando espaço por meio do empoderamento feminino, fortalecimento das raízes culturais, força de vontade, energia e persistência para assumir o protagonismo da própria história.

“Com sutileza, amor e dedicação que nós sabemos transmitir é possível mudar essa realidade. Precisamos continuar, ajudar a promover a importância do trabalho das mulheres, mostrar que o sexo não nos inferioriza, que podemos ser tão qualificadas e competentes quanto o sexo oposto, e mostrar, principalmente, que não estamos conquistando espaço para competir ou dividir, mas sim para unir e contribuir”, explica Rafaela.

CONTINUA…

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