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Dete Lorenção: inspiração feminina na Capital Nacional do Agroturismo

por Leandro Fidelis

em 19/10/2023 às 6h12

4 min de leitura

Dete Lorenção: inspiração feminina na Capital Nacional do Agroturismo

*Fotos: Leandro Fidelis/Arquivo 2019/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização

*Matéria publicada originalmente em 24 de março de 2023

Bernadete Lorenzoni, popular “Dete Lorenção” (65), é um dos primeiros nomes que remetem ao empreendedorismo feminino no agroturismo de Venda Nova do Imigrante, na região Serrana capixaba. Discípula da sogra, Cacilda Caliman (86), na produção do socol no Sítio Lorenção, a produtora rural inspira outras mulheres da cidade com sua fórmula: coragem e atitude.

“A gente vive em um uma comunidade onde a gente foi criada no meio de muito machismo, onde as mulheres tinham medo de aparecer. Daí o agroturismo veio e deu essa abertura, levantou essas mulheres que estavam escondidas”, analisa Dete.

Para a produtora, a figura da sogra foi extremamente importante para criar esse encorajamento feminino no meio rural. “Lá no início, ela falou do jeito dela na televisão, para as revistas… Isto foi dando força para nós mulheres e vimos que podíamos não estar somente dedicadas à casa, aos filhos, mas que dentro da nossa realidade, poderíamos fazer igual no agroturismo, sem perder o nosso modo de ser.  Saiu uma força de dentro de nós que desconhecíamos”.

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Os filhos Bernardo (39) e Graccielli Lorenção (36) e ainda Natália, que morreu aos 14 anos, em 2006, eram ainda pequenos quando Dete costurava para fora, enquanto o marido, Edines José Lorenção (64), tocava a produção de café e verduras. Juntamente com a cunhada, ela produzia roupas em geral, vestidos típicos para candidatas a Rainha da Festa da Polenta e até de noiva. Segundo Dete, a atividade era para ajudar nas despesas de casa, numa época em que só Cacilda fazia poucas peças de socol e apenas sob encomenda para conhecidos.

Antes mesmo das costuras, a produtora teve experiência de anos com a fabricação caseira de pães, massa de lasanha, macarrão caseiro e ovos de páscoa. Todos os sábados, ia na caminhonete do irmão para a feirinha do colégio. Ela recorda o tempo anterior ao período das costuras para reafirmar o gosto pela culinária, principalmente aquela ligada às tradições dos antepassados italianos.

Por volta de 1997, o agroturismo “começou a dar as caras” e se tornar opção de renda para muitas famílias de Venda Nova. Dete conta que o marido não sabia se permanecia na roça ou assumia a produção do embutido italiano feito com lombo de porco. “Acabamos ficando nas duas atividades. Comecei a me dedicar ao atendimento aos turistas no sítio e sobrava pouco tempo para costurar”, diz.

E foi preciso romper barreiras para receber os turistas. De acordo com Dete, a participação em feiras dentro e fora do Estado e de cursos do Sebrae/ES foi um aprendizado que trouxe como lição a necessidade de ser simples e verdadeira.

“Produzir socol é uma coisa, vendê-lo é outra. Os cursos do Sebrae e a participação nas feiras foram importantes porque eu tinha que dar conta do recado, vender a minha história. Tem que ter boa vontade e estar aberta a receber. São os primeiros passos”.

Esse foi o tempero para empreender com sucesso em negócios além do socol. Atualmente, o Sítio Lorenção se destaca pela produção de antepastos, limoncello e geleias e também pelo culatello, outro presunto italiano curado naturalmente, mas feito com o pernil suíno. Todos os produtos não levam conservante e fazem tremendo sucesso junto aos turistas.

“Para chegar num sabor apurado de antepasto, que o seu público vai gostar, não é fácil. Tem que ter alguma coisa sua que colabore com isso. Sempre pensei em muitas possibilidades a partir das próprias tradições dos imigrantes que poderiam somar ao socol. Primeiro, foi o antepasto de berinjela, daí fui me entusiasmando com outros sabores. Um tempo a gente para de produzir e chego a dormir sonhando em fazer alguma coisa nova. É muita criatividade dentro da gente, porém muitas vezes não acontece rapidamente por conta de outras prioridades, mas tenho muito ainda a criar”, conta Dete, que gosta de fabricar os produtos a partir de alimentos do sítio e tem vendas certas na loja da propriedade e em supermercados parceiros.

*Esta matéria faz parte da edição especial “Mulheres no Agro” (março 2023) da Revista Conexão Safra. Baixe aqui!

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