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Meio Ambiente

Pesquisa aponta impactos de mudanças nos manguezais de Aracruz sobre os caranguejos

Os manguezais dos Rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim são a maior área desse ecossistema em um único município do Espírito Santo.

por Pesquisa aponta impactos de mudanças nos manguezais de Aracruz sobre os caranguejos

em 30/12/2021 às 16h09

4 min de leitura

Pesquisa aponta impactos de mudanças nos manguezais de Aracruz sobre os caranguejos

*Fotos: Site Ufes

A professora Mônica Tognella, do Programa de Oceanografia Ambiental (PPGOAM) da Ufes, apresentou aos catadores de caranguejos de Aracruz o resultado de 15 anos de pesquisas sobre os manguezais e seus crustáceos da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Municipal Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim.

Os manguezais dos Rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim são a maior área desse ecossistema em um único município do Espírito Santo. A reserva, que tem aproximadamente 2.080 hectares, destaca-se pelo seu modelo de uso sustentável e pela preservação do meio ambiente junto a comunidades tradicionais e povos indígenas que têm a área como fonte de subsistência e sustento econômico, e entrou em evidência por ter sido atingida por rejeitos da barragem de Fundão, do município de Mariana-MG, que se rompeu em novembro de 2015.

A sequência histórica parte de um levantamento realizado entre 2004 e 2005. “Naquele momento, tinha acabado de acontecer a doença do caranguejo letárgico, e a professora Cássia Conti conseguiu mapear o seu impacto, apontando para uma diminuição do tamanho da população”, lembra a pesquisadora.

Já em 2015, Vanessa Spinassé, aluna do PPGOAM orientada por Mônica Tognella, apresentou resultados que demonstram uma recuperação melhor do que a anteriormente observada, indicando que a população de caranguejos no mangue havia se recuperado. “A população flutua, mas ela tende a uma taxa de estabilização, isso porque o manguezal é muito resiliente e tende a se ajustar”, destaca a orientadora.

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Por meio de uma metodologia que acompanha sistematicamente uma mesma população, a pesquisadora teve a oportunidade de acompanhar diversos eventos que impactaram a população de caranguejos no período. “Acho que só conseguimos ter manejo e monitoramento quando fazemos sistematicamente a análise da população num local conhecido”, detalha. Dessa forma, é possível mapear, por exemplo, como se distribui a população e momentos e consequências de eventuais pressões de captura.

Impactos de Mariana

Por desenvolver pesquisa ao longo de pelo menos uma década nos manguezais dos rios Piraquê-Açu e Mirim, Tognella conseguiu acompanhar os impactos do rompimento da barragem de Mariana na população de caranguejos daquela área. Ela integra o grupo de pesquisadores que monitoram as consequências do rompimento, financiado pela Fundação Renova, em convênio científico com a Ufes.

“Houve um aumento da concentração de ferro na região. Podemos atribuir uma parte dela à característica mineralógica da bacia e outra parte aos rejeitos. Junto a isso, há o uso indevido da bacia, uma salinização excessiva do Piraquê e uma grande variabilidade climática. Isso modifica toda a estrutura da floresta de manguezal”, afirma a pesquisadora.

Ela destaca que o sal é benéfico. Entretanto, seu excesso no ciclo de vida do caranguejo pode drenar a energia, levando a um crescimento menor do que o normal, e forçando os catadores a capturarem mais indivíduos para alcançar uma mesma pesagem.

A professora aponta também a preocupação com a captura excessiva, que causa um problema de reposição de jovens caranguejos. “Se coletam muitos jovens adultos, que são menos densos, transfere-se o problema para daqui alguns anos, e podemos chegar a um cenário em que não haverá caranguejos com tamanho ideal para captura”, aponta.

Próximos passos

Mônica Tognella pretende estreitar ainda mais as relações com a população local na continuação de sua pesquisa. “Eu tenho uma proposta de trabalhar com um plano de manejo dos caranguejos. A comunidade quer isso, e isso precisa partir deles. Não posso chegar lá e impor nada, isso é construído de maneira conjunta”, afirma.

Além do financiamento da Fundação Renova, Mônica Tognella já teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Fundo Nacional de Biodiversidade (Funbio) nos seus estudos pelos manguezais capixabas.

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