Negócios fortalecidos

Rotas do Socol e do Inhame valorizam gastronomia e impulsionam turismo

(*Fotos: Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

Venda Nova do Imigrante e Alfredo Chaves, na região Serrana do Espírito Santo, estão apostando na valorização dos seus produtos de Indicação Geográfica (IG) para impulsionar o turismo local. Com a criação das rotas do Socol e do Vale do Inhame, respectivamente, as duas cidades buscam promover a gastronomia regional e atrair visitantes interessados em degustar e conhecer a origem dessas iguarias tradicionais. 

O projeto de lei que prevê a implementação da Rota do Socol já foi aprovado na Câmara Municipal de Venda Nova, enquanto em Alfredo Chaves a iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com produtores locais. Com a certificação de IG, o socol e o inhame ganham ainda mais destaque, impulsionando o desenvolvimento dos pequenos negócios nessas regiões.

O Projeto de Lei Substitutivo (PSL) nº 43/2023 propõe incluir pontos estratégicos nos bairros Alto Bananeiras, Vila da Mata, Vila Betânea, Providência e Tapera, abrangendo empreendimentos como Angelim Socol, Caprinova, Dona Martha Delícias, Família Brioschi, Fazenda Carnielli, Sítio Lorenção e Tio Vé Socol, todos membros da Associação dos Produtores de Socol de Venda Nova do Imigrante (Assocol), com 21 associados. A rota tem o objetivo de orientar os turistas a visitarem esses estabelecimentos e fortalecer a produção local.

Segundo o presidente da Câmara, Erivelto Uliana, a criação da rota é uma maneira de incentivar os empreendimentos e a organização produtiva local, além de atrair visitantes interessados em conhecer esse produto icônico para o município. “Venda Nova do Imigrante já é referência no agroturismo nacional, e a rota é mais uma forma de atrair visitantes que querem conhecer esse produto tão importante para o desenvolvimento do município”, disse.

A conquista da IG em 2018 proporcionou aos produtores uma parceria valiosa para expandir o produto no mercado. Formado em duas engenharias e após uma década em Aracaju (SE), Lorenzo Zandonade Carnielli (Fazenda Carnielli) voltou há dois anos para tocar os negócios familiares no agroturismo. Ele destaca que a IG fortalece os produtores, permitindo que eles se unam e se tornem mais visíveis como grupo. “Quando a gente consegue a certificação, você que é muito pequeno e não tem apoio de grande marketing, dinheiro da indústria e das comunicações, passa a ter um parceiro que te ajuda a fazer acontecer. Então, você tem dez produtores de socol em Venda Nova, sendo seis aptos para a venda, e esses seis juntos são mais fortes do que um só sozinho”.

Ele ressalta ainda que a IG trouxe profissionalização ao setor, garantindo um produto padronizado e de qualidade. “Hoje, temos produtores dentro da IG com registros que garantem um produto muito mais limpo, organizado e padronizado, a exemplo do Selo Arte. Temos um nível hoje de organização do produto bem diferente do passado. A origem da carne tem que ser muito bem determinada. Tudo isso trouxe uma profissionalização para os negócios. Isso é fundamental para conseguirmos transmitir essa cultura daqui para frente, mantê-la viva, num cenário de equilíbrio financeiro e profissionalização dos produtores. Tradicional, deve ser só a receita do socol”, analisa.

Para Carnielli, o socol, com mais de 140 anos de história, surpreende as pessoas com seu sabor diferenciado, tornando-se destaque no mercado. O quilo é vendido em média a R$ 130. “O produto é reconhecido por sua excelência, sendo apreciado não apenas localmente, mas também pelos chefs de cozinha, que o incluem em suas receitas”, diz. Lorenzo enfatiza que a IG não apenas aumentou a visibilidade e o respeito pelo socol na comunidade, mas também abriu portas para o mercado internacional, como é o caso da Cachaça de Paraty (RJ), que obteve participação no mercado global após a obtenção da IG.

Apesar dos desafios burocráticos e do trabalho em equipe necessário para administrar a IG, os benefícios são significativos, avalia o produtor. “O coletivo o tempo todo para gerenciar uma IG é intenso. Em Venda Nova, o público da IG do Socol está envolvido em outras atividades, a exemplo do agroturismo. Os horários são muito concorridos. Tivemos uma reunião recente à noite em pleno feriado. Nada vem de graça”.

A importância do presunto maturado na economia local é indiscutível. Conforme a Secretaria Municipal da Agricultura, em 2021 foram produzidos, em Venda Nova, 14 mil quilos de socol, gerando receita de R$ 1,2 milhão naquele ano. Este ano, uma reportagem especial de TV em rede nacional gerou uma verdadeira corrida ao produto nas prateleiras e no e-commerce. No domingo em que foi exibida, faltou socol nos supermercados da Grande Vitória e as vendas pela internet bombaram. “O nome socol vende muito. Naquele dia, não sobrou nada. Atendi 700 pedidos pelo site e teve entrega até no Acre”, conta Leandro Carnielli, atual presidente da Assocol.

Oportunidades

A Rota do Vale do Inhame é um percurso estimado de 24 km, com início no km 71 da BR-262, em Victor Hugo, Marechal Floriano. Essa rota atravessa a BR-383 em São Bento de Urânia, Alfredo Chaves, e segue até Castelinho, na ES-164, em Vargem Alta. De acordo com a diretoria da Associação dos Produtores de Inhame de São Bento do Espírito Santo (Apisbes), a Prefeitura de Vargem Alta já realizou a aplicação de Revsol em 4 km do trajeto, enquanto outros 7 km devem receber o material pavimentoso com o apoio da Prefeitura de Alfredo Chaves.

Elson Antônio De Nadai, diretor presidente da Apisbes, destaca a importância da melhoria das estradas para o funcionamento da rota. Na região, existem cerca de 600 famílias, sendo que 90% delas são de produtores de inhame. Ele relata o desafio de escoar a produção, mencionando que um sobrinho realiza em média 50 viagens de caminhão por semana para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

O diretor executivo da associação, Jandir Gratieri, enfatiza que a Indicação Geográfica (IG) do Inhame de São Bento foi a mais rápida concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a um produto de origem vegetal no Brasil. Atualmente, a Apisbes conta com 15 associados. No entanto, o selo de IG ainda não está sendo utilizado, pois o planejamento estratégico para sua aplicação encontra-se na fase final de execução pelo Conselho Regulador.

Segundo Gratieri, a busca é por um processo de padronização, pois a produção tem atingido esse objetivo para atender às demandas dos supermercados. No entanto, o varejo ainda quer quantidade e não faz distinção da IG uma vez que o consumidor ainda não está habituado. “Por isso, o turismo de experiência é uma estratégia importante para o meio rural. E é nesse contexto que a Rota do Vale do Inhame desempenha um papel crucial, pois a venda direta ocorrerá nas propriedades”. De Nadai complementa: “a agregação de valor do socol é um exemplo clássico. O lucro está ali embutido no produto para o consumidor final”.

Embora o tubérculo seja vendido principalmente in natura, os diretores ressaltam que existem inúmeras oportunidades para a produção artesanal de subprodutos de inhame pelos moradores da área de IG, o que pode gerar renda para pequenos empreendimentos. Gratieri menciona exemplos como leite vegetal de inhame, pães, doces como cocada, farinha e até mesmo bebidas. De acordo com eles, já existem no mercado brasileiro produtos como carne vegetal, suplemento nutricional infantil e até mesmo queijo de inhame. “Nosso produto é saudável e pode proporcionar uma infinidade de possibilidades de negócio”, afirma Jandir Gratieri.

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos