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Tecnologia

Pesquisadores identificam gene que pode aumentar eficiência na produção de etanol

Manipulação de gene relacionado à dureza da parede celular das plantas também deve tornar gramíneas mais digeríveis para o gado

por Redação Conexão Safra

em 09/01/2018 às 0h00

4 min de leitura

Pesquisadores identificam gene que pode aumentar eficiência na produção de etanol

Foto: NeideFurukawa



Uma equipe multinacional de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos identificou um gene envolvido na dureza das paredes celulares de vegetais. Trata-se de um considerável avanço para a produção de etanol de segunda geração, feito a partir da biomassa vegetal. A supressão desse gene aumentou a liberação de açúcares em até 60%. As descobertas do grupo foram apresentadas hoje (8) na revista
New Phytologist. Outra aplicação prática desses resultados será o desenvolvimento de gramíneas mais digeríveis com maior valor nutricional para os animais ruminantes.


A biomassa vegetal possui considerável poder calorífico, mas a maioria dessa energia está contida nas robustas paredes celulares, uma vantagem evolutiva que ajudou as gramíneas forrageiras a sobreviverem e prosperarem por mais de 60 milhões de anos. O problema é que essa robustez dificulta a digestão no rúmen de bovinos e ovinos e é um obstáculo para a produção de etanol nas biorrefinarias.


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Impacto global

“”O impacto da pesquisa é potencialmente global, pois todos os países utilizam pastagens para alimentar seus animais e várias biorrefinarias em todo o mundo usam essa matéria-prima””, diz Rowan Mitchell, biólogo de plantas do Rothamsted Research, no Reino Unido, e colíder da equipe.


Hugo Molinari, pesquisador no Laboratório de Genética e Biotecnologia da Embrapa Agroenergia (DF), que também coordena os trabalhos, informa que o setor envolve cifras bilionárias. “”Somente no Brasil, os mercados potenciais dessa tecnologia foram avaliados no ano passado em R$ 1,3 bilhão (US$ 400 milhões) para o segmento de biocombustíveis e de R$ 61 milhões para alimentação de bovinos. Além do impacto econômico, é importante dizer que é uma descoberta muito importante para a comunidade científica “”, afirma o cientista da Embrapa.


Bilhões de toneladas de biomassa de pastagens são produzidas todos os anos, observa Mitchell, e uma característica-chave dessas forrageiras é a sua digestibilidade, o que determina quão econômico é produzir biocombustíveis e quão nutritivo será para os animais. O aumento da rigidez da parede celular, ou a chamada feruloilação, reduz sua digestibilidade.


“”Há dez anos,
identificamos genes específicos de gramíneas candidatos ao controle da feruloilação da parede celular, mas provou-se ser muito difícil demonstrar esse papel, embora muitos laboratórios tenham tentado. Nós produzimos a primeira forte evidência para um desses genes identificados””, conta o cientista.


A equipe de transformação de plantas utilizou um transgene para suprimir o gene endógeno responsável pela feruloilação para cerca de 20% de sua atividade normal. Dessa forma, a biomassa produzida tornou-se menos feruloilada (apresenta menor rigidez nas paredes celulares) em comparação a uma planta não modificada.


“”A supressão não mostrou efeito óbvio sobre a produção de biomassa ou sobre a aparência das plantas transgênicas com menor feruloilação””, observa Mitchell. “”Cientificamente, agora queremos descobrir como esse gene atua no processo de feruloilação. Dessa forma, podemos tornar o processo ainda mais eficiente,”” prevê o pesquisador.


Avanço para o etanol brasileiro

As descobertas irão beneficiar o Brasil, detentor de uma indústria de bioenergia em expansão que usa os resíduos de gramíneas, como milho e cana-de-açúcar, como biomassas utilizadas para produzir bioetanol. A descoberta do gene permitirá o desenvolvimento de plantas com paredes celulares mais fáceis de serem quebradas. A consequência será o aumento da eficiência na produção de bioetanol, o que, na avaliação de Molinari, da Embrapa, irá ajudar na substituição de combustíveis de origem fóssil e na redução da emissão de gases de efeito estufa.


“”De forma econômica e ambiental, o setor agropecuário se beneficiará de uma forragem mais eficiente e nossa indústria de biocombustíveis se beneficiará da biomassa que precisa de menos enzimas para quebrá-la durante o processo de hidrólise””, detalha o cientista brasileiro.


Para o professor de Bioquímica da Universidade de Wisconsin-Madison e pesquisador do Centro de Pesquisa de Bioenergia dos Grandes Lagos do Departamento de Energia dos EUA, John Ralph, a descoberta era há muito esperada e foi duramente conquistada. “”Vários grupos de pesquisa estiveram muito perto da proteína / gene responsável pela feruloilação e [os trabalhos nessa área] começaram há cerca de 20 anos””, conta o cientista, coautor da pesquisa e um dos pioneiros de pesquisas nessa área.


“”Nosso grupo vem trabalhando desde o início dos anos 1990 nas ligações cruzadas de ferulatos na parede celular de plantas e desenvolveu métodos de ressonância magnética nuclear (RMN) úteis na caracterização deste estudo””, observa Ralph. “”A descoberta desse processo foi muito difícil””.


fonte: EMBRAPA

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