Sistema elétrico revoluciona a secagem de café em microlotes
Para pequenos produtores focados em microlotes, o sistema elétrico oferece uma alternativa mais barata e sustentável
por Leandro Fidelis
em 05/02/2025 às 5h00
5 min de leitura

*Fotos: Divulgação
Pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Venda Nova do Imigrante, desenvolveram um sistema elétrico inovador para a secagem de café, voltado especialmente para atender pequenos produtores de microlotes. O projeto, liderado pelo cientista de alimentos Michel Mendonça dos Santos, promete reduzir custos com energia e eliminar a necessidade de mão de obra no processo de pós-colheita, oferecendo maior autonomia aos cafeicultores.
Michel, que é membro do grupo de pesquisa Coffee Designer (Ifes Venda Nova), atualmente trabalha na fazenda de sua família na comunidade Nossa Senhora da Saúde, no distrito de Piracema, zona rural de Afonso Cláudio. Foi no campus Venda Nova que ele conduziu testes com o primeiro protótipo do sistema elétrico de secagem, projetado inicialmente para um secador estático com capacidade para dez sacas de 80 litros.
De acordo com Michel, o grande diferencial do sistema é a eliminação completa da necessidade de supervisão contínua durante a secagem. “Na cafeicultura tradicional, é preciso manejar o secador com intervalos que variam de 40 minutos a três horas, dependendo do tipo de caldeira utilizada. Isso significa contratar mais mão de obra ou sacrificar noites de sono. Com o sistema elétrico, basta ligar o secador e voltar apenas quando o café estiver seco”, explica.
O sistema funciona através de resistências que aquecem o ar, que por sua vez passa pelos grãos para realizar a secagem. Durante os testes, os pesquisadores descobriram que a temperatura ideal para preservar a qualidade dos grãos é de 40°C. O controle de temperatura foi ajustado utilizando uma ou duas resistências, garantindo eficiência energética. Quando comparado a sistemas a gás, o modelo elétrico se mostrou significativamente mais econômico, especialmente quando combinado com energia solar.

Michel, que é membro do grupo de pesquisa Coffee Designer (Ifes Venda Nova), atualmente trabalha na fazenda de sua família, em Afonso Cláudio.
A viabilidade econômica, no entanto, depende diretamente do uso de energia solar, como destaca o engenheiro eletricista Klener Demartim Deriz (na foto abaixo), que participou da instalação e dos cálculos de custo do projeto.
“Sem energia solar, o custo do quilowatt em áreas rurais ou urbanas pode tornar o sistema inviável em comparação ao gás. Mas com energia solar, o cenário muda completamente”, aponta Michel. Para pequenos produtores focados em microlotes, o sistema elétrico oferece uma alternativa mais barata e sustentável.
Outro parceiro no projeto, o cafeicultor e fabricante de máquinas Deidson Delpupo, já opera secadores elétricos em sua propriedade no distrito de Vila Pontões. Ele relata que, em um secador estático para 12 sacas, o custo operacional gira em torno de R$ 4,50 por hora. Além disso, o sistema está sendo adaptado para secadores rotativos maiores, ampliando seu potencial de aplicação.
Michel planeja novos testes em 2025 e pretende calcular com mais precisão os custos totais do sistema, incluindo mão de obra e energia. Ele ressalta que, além do impacto econômico, o sistema proporciona uma qualidade de vida inestimável aos produtores. “Quem prioriza a qualidade de vida no negócio café não pensa duas vezes ao instalar um sistema elétrico ou a gás. A autonomia e a tranquilidade que ele proporciona são impressionantes”, conclui.
Mais Conexão Safra
Com capacidade para gerar até 5.000 kWh por mês, o sistema elétrico de secagem representa uma evolução tecnológica significativa para a cafeicultura de montanha, demonstrando que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas no agronegócio.
OUTROS PROJETOS
Café tecnológico- O Ifes Campus Cachoeiro de Itapemirim, em parceria com o inventor Anathalício dos Reis Silva, desenvolveu e aprimorou um abanador de café, inicialmente criado como protótipo. O projeto, que recebeu propostas internacionais para a compra da patente, passou por ajustes técnicos e análise de mercado, incluindo a construção de protótipos para testes funcionais e a criação de um peneirador para otimizar o processo. Com recursos de R$ 150 mil provenientes de emenda parlamentar, foram confeccionados três novos dispositivos, incorporando melhorias na construção, durabilidade e facilidade de uso, beneficiando os cafeicultores.
Biossensor para café- O professor Jairo Pinto de Oliveira, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), coordenou o desenvolvimento de um biossensor inovador para detectar a ocratoxina A (OTA) em grãos de café, em parceria com a USP. A OTA, produzida por fungos, é tóxica e regulamentada em níveis rigorosos no Brasil e na União Europeia. O biossensor, portátil e de baixo custo, oferece resultados em 30 minutos, superando os métodos convencionais que levam dias. Utilizando insumos nacionais para reduzir custos, a tecnologia ainda aguarda patente e busca parcerias para comercialização. Com financiamento da Fapes e CNPq, a pesquisa visa garantir segurança alimentar e agregar valor à cadeia produtiva do café.
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