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Artigo

 Limão, laranja, tangerina, feno e fumo?

O inusitado hobby que virou um negócio muito interessante

por Felipe Marinho Masid

em 02/12/2024 às 5h00

6 min de leitura

 Limão, laranja, tangerina, feno e fumo?

Foto: divulgação

Alterando a rotina, vou sair do Rio de Janeiro um pouquinho, para contar uma história inusitada que ouvi, sobre um fazendeiro da Bahia, de Alagoinhas, no recôncavo baiano.

Em meio ao tema que norteia minhas escritas, sempre conto alguma história inspiradora, de famílias de agricultores que tive o prazer em conhecer nas minhas viagens pelo interior do nosso estado, quando trabalhei por quase quatro anos na Empresa de Pesquisa Agropecuária vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento. Sou fã de todos eles, e tenho muitas histórias boas para contar, pois nossos agricultores dão uma aula de perseverança, garra e amor ao que fazem.

Estava eu, em busca de uma história diferente, sobre fazendas de policultura, buscando agregar algum exemplo de propriedade sustentável, moderna, com georreferenciamento, turismo rural, empreendedorismo, e me deparei com um hobby que virou um negócio muito interessante, uma fábrica de charutos premium, altamente pontuado, entre os melhores do mundo.

A história de José Antonio Martins Monteiro

Tudo começou em 2005, após o nascimento do seu segundo filho, quando viajou em família para o Canadá, local onde sua esposa residiu por cinco anos, em uma oportunidade de apresentar sua família completa às amigas. Lá estava ele, turista no Canadá, quando o destino resolveu lhe apresentar Jack, marido de uma das amigas da esposa, português que, após uma noite de bate-papo e bebida, resolveu fumar um charuto e convidou José Antônio para experimentar, já que ele nunca havia fumado um charuto antes.

A noite rendeu e José Antônio acabou numa mesa de Black Jack, na área VIP de um cassino, à beira das Cataratas do Niágara, acompanhando seu novo amigo “Jack”, aprendendo a fumar charuto raro e de altíssimo estilo, um Cohiba Bahike 56, que custa em torno de R$2.700,00 a unidade.

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Foto: divulgação

Essa amizade rendeu outras viagens e José Antônio percebeu na mala de seu amigo as letras das iniciais de seu nome, J.A.M.M. Imediatamente José Antônio disse: “Jack, essa mala é minha, José Antonio Martins Monteiro”, e Jack respondeu: “Não, é minha. Joaquim Alfredo Mesquita Moreira”. Além de boas risadas, esse momento singular inspirou José Antonio a empreender, e criar a JAMM Cigar, cujo nome é uma homenagem à amizade com Jack e às iniciais de seus nomes.

Mas um sonho desses não nasce do dia para a noite. Em 2016, adquiriu a Fazenda Feanbe, em Alagoinhas, Bahia, cultivando limão, laranja e tangerina, além de algumas cabeças de gado. Sempre degustando charutos, hábito que adquiriu desde 2005. Ao lado do administrador da fazenda, ele começou a arquitetar seu plano: “Que tal produzirmos nossos próprios charutos? Mas não qualquer charuto – o melhor charuto!”. E José Antonio já começava a imaginar um futuro grandioso com cheiro de tabaco. Adquiriu um fardo de fumo, capote, capa, e começou a produzir.

A exigência era clara: qualidade premium

A produção começou ainda em pequena escala, de forma experimental. Conheceu então, especialistas da região, oriundos das fabricantes de charutos Suerdieck e Pimentel, e fabricava de forma bastante artesanal, sob a supervisão de Antônio César, um especialista com 36 anos de experiência há época. Após algum tempo, se deu conta que tinha produzido milhares de charutos para consumir e presentear os amigos, o que lhe dava imenso prazer.

Em visita ao amigo Jack, em sua residência, José Antônio perguntou para o amigo qual charuto ele estaria habitualmente fumando, e se surpreendeu quando ele disse que só fumava os charutos JAMM produzidos pelo amigo. Foi então que entendeu o nível de qualidade que havia alcançado na produção de charutos, como hobby, e passou a realmente a produzir para venda.

Em 2021 sua fabricação era realizada por duas mulheres, que se tornaram especialistas na arte de fabricar charutos, formadas no local, assim como é feito em Cuba. Em fevereiro de 2022, José Antônio foi ao mercado para vender seus charutos, e percebeu a necessidade de conhecer ainda mais os seus concorrentes e a dinâmica do mercado consumidor. Foi então, que em setembro do mesmo ano, adquiriu 70% da sociedade da Tabacaria do Ouvidor, no Rio de Janeiro, onde intensificou sua venda, e, consequentemente, a produção dos charutos JAMM, com um blend de fumo negro mata fina e Cubra, fumo nacional produzido no Recôncavo Baiano, que graças ao terroir da região, com a combinação do solo, clima, relevo, altitude e vegetação, proporciona ao tabaco um sabor exclusivo. Reconhecida a exclusividade pelo mercado, atualmente, está em processo de estudos para solicitação de Identidade Geográfica ao INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

Para garantir a qualidade do seu produto, antes do lançamento dos vários modelos, conta com a opinião técnica de 21 especialistas espalhados pelo Brasil, que degustam e aprovam.

Gestão social, qualidade e turismo rural

A fábrica da JAMM Cigar foi crescendo com a gestão voltada também à qualidade de vida dos colaboradores, formando uma mão de obra feminina, que totaliza um time de cinquenta especialistas, colaborando com a dignidade, independência e autoestima dessas mulheres, além de outros empregos diretos e indiretos, chegando a 100 colaboradores, incluindo um experiente cubano, que veio ao Brasil especialmente para coordenar a produção.

Foto: divulgação

Essa equipe fabrica manualmente um produto exclusivo que reverencia à tradição do tabaco brasileiro, com um sabor que chegou para conquistar não só o Brasil, mas o mundo, com charutos que possuem pontuações acima de 91 pontos, conferidos por especialistas em publicações oficiais da área, como a revista Cigar Journal.

A Fazenda Feanbe é uma propriedade de policultura, georreferenciada, licenciada, com projetos sustentáveis e turismo rural, com uma experiência voltada à degustação de charutos, shows, passeios pelas plantações, visita guiada pela fábrica de charutos, numa linda paisagem, contando com uma estrutura de onze suítes e ambientes comuns, numa área aproximada de 4.000m².

O ousado José Antônio trabalha com sua equipe para que um a cada três charutos brasileiros consumidos no mundo seja JAMM. Quem diria que uma amizade à beira das Cataratas do Niágara e uma boa dose de  ousadia seriam os ingredientes principais de uma história que, agora, se desdobra em cada folha de tabaco?

Foto: divulgação

Felipe Marinho Masid, Especialista em Gestão e Estratégias em Agronegócios pela UFRRJ. Administrador de Empresas, Gestor Público e Mestrando em Controladoria e Gestão Pública.

 

 

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