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O maior desafio deste século não é inventar máquinas e produtos sofisticados. A invenção mais necessária, neste crítico momento da humanidade, é uma nova economia regeneradora, que possa recuperar e conservar ecossistemas, reequilibrar o ciclo de carbono, recompor os ciclos das águas e, simultaneamente, incluir, educar, abrigar e alimentar oito bilhões de pessoas, assegurando resiliência social, sanitária e ambiental.
O complexo sistema produtivo do agronegócio é o elo estratégico dessa urgente reinvenção. A agropecuária interliga processos naturais de produção de alimentos, bioenergias e uma infinidade de insumos essenciais, com processos artificiais de cultivo, logística, industrialização, comércio, consumo e geração de resíduos.

Esta exuberante cadeia produtiva, que funde tecnologias de ponta com organismo vivos, depende totalmente de clima, solo, bacias hidrográficas, florestas, biodiversidade e saúde de animais, vegetais e pessoas para ter viabilidade no presente e no futuro. A emergente economia circular é o caminho prático para sincronizar todos os ciclos naturais com os sistemas artificiais, buscando máxima eficiência e neutralizando impactos.
Em síntese, fazer sustentabilidade e garantir, hoje e sempre, uma agroeconomia forte, é entrelaçar harmoniosamente processos artificiais com os ciclos biogeoquímicos do planeta, encaixando produção e consumo nos limites dos fluxos naturais, caminhando no mesmo sentido das forças da vida e não em conflito trágico com nossas bases vitais.
Para reverter poluições, mudanças climáticas e o esgotamento de recursos naturais é fundamental inventar rapidamente um sistema de governança com visão sistêmica e redes circulares, que possibilite interconectar conhecimentos científicos (usando bioinformática); gestão de bens comuns (biosfera); processos socioeconômicos (agroindustrialização, mercados, educação, empregos) e administração pública (política, democracia, estado) para obter um modelo de desenvolvimento justo e efetivamente sustentável.
Ou seja, criar um novo modelo de planejamento multiconectado, com gestão inteligente, integrando governos, empresas, academia e ONGs, usando redes digitais e o melhor conhecimento científico, para acelerar a evolução sustentável da sociedade.
Parece complicado, mas, na verdade, difícil, caro, doloroso e quase impossível será consertar os estragos se não mudarmos imediatamente os velhos modelos degradadores.
Bioinvenção para inspirar o mundo
O Brasil, que já se destaca no cenário internacional com a sua alta capacidade agropecuária e seu enorme patrimônio ecológico, tem todas as condições para desenvolver modelos de BioGovernança e BioEconomia que sejam referência e esperança para o mundo.
Biogovernar é gerenciar múltiplos processos sociais-culturais-econômicos-políticos-ambientais, com visão holística, em plena sintonia com a conservação da vida planetária. Fomentar uma Bioeconomia é construir processos econômicos (agroflorestais, energéticos, hídricos, logísticos e industriais) integrados com resiliências e ciclos dos ecossistemas.
Somando conhecimento multidisciplinar, colaboração e criatividade a esses princípios, é viável criar modelos sustentáveis adequados a qualquer lugar ou bioma, a partir de Hubs ou Labs integradores de práticas de excelência, unindo cientistas, empreendedores, gestores públicos, líderes inovadores das mais diversas áreas e representantes da sociedade.
O Espírito Santo é um ambiente fértil para inovações. O governador Renato Casagrande vem liderando diversas ações nesse sentido, como a iniciativa Governadores Pelo Clima, que avança com velocidade nas articulações nacionais e internacionais, visando impulsionar uma nova economia verde. O secretário estadual de Meio Ambiente, Fabrício Machado, está estudando a implantação de um desses Labs na região do Caparaó.
O Brasil tem a maior biodiversidade da Terra, a maior diversidade cultural formando um só povo (incluindo centenas de comunidades indígenas) e sabemos miscigenar e juntar diferenças para construir o novo. Portanto, temos tudo para fazer a maior invenção brasileira e inspirar o modelo de desenvolvimento planetário.
Chaves e paradigmas para os econegócios
Para essa reinvenção é essencial formular soluções criativas em 6 eixos propulsores: (1) integrar conhecimentos (mapear e conectar inovações e tecnologias multissetoriais); (2) criar interações desburocratizadas, flexíveis e digitalizadas, com modelos transparentes de parcerias entre órgãos públicos, empresas privadas, ONGs e academia; (3) políticas públicas interconectadas e sistêmicas para impulsionar negócios sustentáveis e inclusivos em todos os lugares e setores; (4) leque de fontes de financiamento para atender amplo espectro de projetos (mapa de orientação sobre canais financeiros disponíveis); (5) formação profissional para a sustentabilidade e gestores com visão multidisciplinar; e (6) instrumentos de planejamento e gestão sistêmica – novas ferramentas digitais que facilitem gerenciamentos integrados e simplifiquem tarefas complexas (encadeando processos naturais com rotinas produtivas industriais e uso de energias renováveis).
Para reimaginar o futuro, precisamos mudar paradigmas: saltar do linear (que quebra os ciclos naturais e gera lixo) para o circular (com ecoeficiência e reciclagem); do mecânico (máquinas dispersas) para o sistêmico (organismos vivos); do “ou” (excludente) para o “e” (inclusivo); do individual (egocêntrico e frágil) para o compartilhado (colaborativo e denso); do combustível fóssil para as energias renováveis e das posturas intransigentes para atitudes abertas, tolerantes e criativas.
O surgimento e a longa evolução da vida na biosfera foram processos muito mais impulsionados por relações simbióticas e colaborativas do que por movimentos caóticos e destrutivos. Essa dádiva da natureza é a melhor inspiração para orientar novos caminhos. Hora de reinvenções interconectadas.
Sérgio Xavier é articulador do Centro Brasil no Clima – CBC e desenvolvedor de projetos inovadores para economia circular: HidroSinergia, Plataforma Circularis




