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Anuário 2021

Arroz, feijão, salada e…?

por Fernanda Zandonadi

em 28/04/2022 às 11h30

5 min de leitura

Arroz, feijão,  salada e…?

Fotos: Leandro Fidelis

O ano de 2021 não foi dos mais fáceis para frango de corte, de postura e suínos. Em alguns meses, o produtor e a indústria trabalharam no vermelho por conta dos preços baixos no mercado e a falta de poder de compra do consumidor, que não conseguiria absorver aumentos. A avaliação é do diretor executivo da Associação dos Avicultores do Espírito Santo (Aves) e da Associação dos Suinocultores do Espírito Santo (Ases), Nélio Hand. 

“Mesmo sendo um período de maior consumo, o fim do ano não está gerando recuperação de preços, segundo a indústria. E, pelo que consta nas informações nacionais, não há oferta além da conta. Nós atribuímos essa baixa à queda no poder de compra do consumidor. Isso em todos os segmentos de proteínas. Mesmo que frangos, ovos e suínos sejam proteínas acessíveis, a procura está restrita ao necessário”.

Os preços às indústrias mostram essa queda na procura. No início de dezembro de 2021, a indústria recebia por R$ 7,70 a R$ 8 o quilo. Em meados do mesmo mês, o preço passou a R$ 7,50 a R$ 7,70. “Uma situação atípica, mas que reflete uma procura menor. Percebemos que o consumidor está com o poder de compra estrangulado. Os dados são de dezembro, mas é uma percepção que tivemos em todo o ano”. 

Além da menor demanda, que achata os preços, os insumos caríssimos também sufocam os produtores. “O cenário de 2020 era da saca de milho a R$ 50, R$ 60. Em dezembro de 2021, ficou em torno dos R$ 95, mas teve picos de R$ 115 durante o ano. Quer dizer, tivemos custos que subiram acima dos 100%.  E a proteína animal depende muito desses insumos, mas não conseguiu evoluir em preço”

Mesmo assim, a produção de frango se manteve, avalia Hand, e o Estado permanece com um plantel de 8 milhões de frangos. A preocupação é de esse quadro mudar em 2022. “Se os preços não tiverem recuperação e os insumos voltarem a subir, o que é tendência, isso pode reduzir nossa produção”. 

O impacto dessa equação na produção de ovos é a mesma. Com preços dos alimentos para os animais muito altos, e os produtores não alcançando uma evolução dos ganhos, certamente sobrarão efeitos negativos no setor produtivo. “Constatamos que entre janeiro e outubro deste ano o plantel de postura capixaba teve uma redução de 8%. Isso porque o custo da caixa de ovo para o produtor girou em torno dos R$ 150 e ele recebia pelo produto entre R$ 120 e R$ 130. Há uma dissonância muito grande”, explica. 

A suinocultura também está sofrendo contratempos. Para dar uma ideia, em novembro, a arroba no Espírito Santo era vendida a R$ 155 e R$ 160. Em dezembro, o preço foi de R$ 140. “As três proteínas estão caindo de preço. O suíno teve um período mais tranquilo, pois a alta demanda da exportação ajudou a tirar produto do mercado e deixar preços mais altos. Mas o produtor passa por período mais crítico”. 

 

O que está por  trás da crise?

O diretor executivo avalia que essa “tempestade perfeita” de insumos caros e consumidor sem poder de compra começou há dois anos, com a alta demanda mundial de grãos e o câmbio instável no Brasil. “Há também fatores de especulação que tornaram o acesso ao insumo internamente muito travado. Não faltou, mas os preços subiram muito”.

E uma importante vitória do setor em 2021 foi a suspensão de PIS/Cofins na importação de milho para desonerar o custo do grão no mercado interno. “Isso significou uma outra alternativa de fornecimento de milho. Logisticamente falando, é mais fácil trazer milho da Argentina do que do Centro-Oeste do país. A suspensão dos impostos esfriou o mercado. O setor especulativo enfraqueceu e o milho teve uma redução, em setembro, de R$ 110 para R$ 95 a saca. Essa foi uma ação que trabalhamos fortemente não só pelas associações do Espírito Santo, mas com entidades nacionais, para mostrar para o governo que precisava acalmar o mercado. Estamos numa fase de mostrar para autoridades que esse mecanismo precisa ser mantido. Com outra alternativa de compra de insumo, mantemos o mercado longe do fator especulativo, que não é bom para ninguém, nem para quem compra, nem para quem vende o milho”. 

 

Preocupação com o futuro

Se o cenário foi incerto em 2021, para 2022 há ainda mais incógnitas. Uma das preocupações dos setores de aves e suínos é que a redução de plantel que ocorreu na postura comercial (ovos), em torno dos 8% de janeiro a outubro, contamine o restante do mercado e chegue às aves de corte e suinocultura. “Quando temos um ajuste de oferta em relação à demanda, o mercado reage. Mas não é o que está acontecendo. O problema está no poder de compra do consumidor, que está enfraquecido”, salienta o diretor executivo.

A lógica é: se o comprador não tem dinheiro para pagar o valor justo pelo produto, o mercado degringola, a não ser que o custo do produto também tenha queda. “Tivemos granjas de postura fechando no segundo semestre e tememos que isso se alastre. Menos produtores trabalhando significa perdas para a agricultura familiar, menos empregos e consequências drásticas em longo prazo. Por isso, alertamos às autoridades sobre esse mercado de insumos, que precisa ser acalmado. Novas opções para acessar o mercado de milho eliminaria fatores nocivos, que podem gerar muitos problemas econômicos e sociais“, finaliza Hand.

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