Em laboratório, pitaia ajuda a controlar glicemia, colesterol e ansiedade
por Embrapa
em 15/10/2020 às 9h59
10 min de leitura
As qualidades da pitaia vão além do sabor suave, doce e refrescante. Estudos laboratoriais realizados com animais mostraram que a fruta apresenta um grande potencial para auxiliar no controle do colesterol, da glicemia e da ansiedade.
A pitaia foi eficaz na redução do colesterol total, do LDL e dos triacilgliceróis e na elevação do HDL (conhecido como “colesterol bom ”). Em animais diabéticos, as doses de 200 mg/kg e 400 mg/Kg apresentaram atividades farmacológicas promissoras, reduzindo significativamente a glicemia no grupo tratado. Os testes demonstraram efeito ansiolítico e ausência de toxicidade nas concentrações avaliadas.
Os resultados são promissores para tratá-la como um alimento funcional. Ou seja, que contribui para a manutenção da saúde. Essa característica é especialmente importante porque a fruta atua contra problemas que atingem a saúde pública.
No entanto, a pesquisadoraAna Paula Dionísio, do Laboratório de Processos Agroindustriais daEmbrapa Agroindústria Tropical(CE), ressalta que há um longo caminho entre os estudos realizados e os testes clínicos com humanos, efetuados por instituições de saúde. Embora favoráveis, os resultados “não significam que as pessoas devam substituir seus remédios pela fruta ”, alerta a pesquisadora
Os estudos com a pitaia foram liderados por um grupo de cientistas da Embrapa especializados em alimentos funcionais, com a participação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Fortaleza (Unifor). Além dos testes para determinação de atividades funcionais da fruta, os pesquisadores observaram os efeitos do processamento na composição metabólica, química, físico-química, enzimática e volátil da polpa.
Fonte para produtos inovadores
“A pitaia se mostrou promissora para as indústrias de alimentos, ou até mesmo farmacêutica, como alimento funcional e fonte de compostos de interesse, que podem ser concentrados ou isolados, para amplificar seu efeito ”, dizGuilherme Julião Zocolo, pesquisador da Embrapa que coordena os estudos.
“Diante da alta e crescente prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, e dos transtornos de ansiedade, existe uma busca por terapias alternativas para o auxílio na prevenção dessas enfermidades com foco na alimentação. Principalmente para identificar novos alimentos funcionais para preveni-las ”, declara Zocolo.
Os cientistas avançam no desenvolvimento de produtos industriais que podem contribuir com a saúde. O engenheiro de alimentos da EmbrapaFernando Abreureforça que a fruta apresenta características bem favoráveis para o desenvolvimento de produtos industriais, como a cor vibrante e o sabor neutro.
Uma das possibilidades é utilizá-la como ingrediente na indústria de sucos, mas as pesquisas avançam para outros produtos mais inovadores com possível aplicação em várias indústrias, como as de alimentos e de cosméticos. No momento, estão em estudo os melhores processos para o aproveitamento industrial, preservando as propriedades funcionais. Abreu salienta que uma das preocupações é desenvolver produtos que aproveitem todas as partes da fruta. “A pitaia tem um rendimento de 50% de polpa, o resto é casca, que também tem componentes funcionais ”, reforça.
Ensaio sobre o colesterol
A administração diária de pitaia vermelha em ratos com dislipidemia (distúrbio do metabolismo lipídico), por 60 dias, elevou o HDL (colesterol de alta densidade, popularmente conhecido como o “colesterol bom ”) e reduziu o colesterol total, o LDL (colesterol de baixa densidade, conhecido como “colesterol ruim ”), triacilgliceróis e as enzimas indicadoras de lesão no fígado alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase.
Para chegar a esses resultados, os cientistas do Laboratório de Biotecnologia e Biologia Molecular da Universidade Estadual do Ceará (LBBM-UECE) dividiram os animais em seis grupos: três receberam doses diferentes de pitaia vermelha, um grupo recebeu uma dieta rica em colesterol, outro recebeu uma dieta padrão e o último grupo usou uma droga amplamente utilizada para controle do colesterol alto, a Sinvastatina. Os animais que foram alimentados com a pitaia nas doses de 100, 200 e 400mg/Kg apresentaram redução significativa no nível de colesterol total, quando comparados ao grupo não tratado, ao fim do teste.
“Esse resultado é relevante, pois mostra a pitaia como um alimento com grande potencial no auxílio ao controle do colesterol ”, comenta Ana Paula Dionísio. Conforme a pesquisadora, o resultado pode ter relação com a presença de betalaínas, flavonoides e oligossacarídeos, compostos bioativos presentes na fruta.
Mais Conexão Safra
Bom para controle da diabetes
Para testar o efeito na diabetes, os animais foram separados em grupos. Um foi submetido a tratamentos com polpa com semente liofilizada da pitaia nas doses de 200 e 400 mg/Kg de peso do animal. Outro recebeu Metformina na dose de 200mg/kg de peso do animal. Outro grupo não foi tratado e um terceiro grupo era formado por animais saudáveis. O teste observou glicemia, colesterol, HDL, triglicérides, ureia, creatinina, aspartato amino transferase (AST) e alanina (ALT).
“A pitaia vermelha pode ser uma alternativa alimentar promissora não só para o auxílio no tratamento da dislipidemia, mas também para hiperglicemia. Estudos pré-clínicos e clínicos são necessários para verificar tais resultados em humanos ”, diz a professoraMaria Izabel Florindo Guedes, que coordenou os ensaios com animais no LBBM da UECE.
Estudando a ansiedade
A avaliação do efeito da fruta no controle da ansiedade utilizou um modelo com um pequeno peixe, com cerca de três centímetros de tamanho, ozebrafish(Danio rerio) ou peixe-zebra. Os cientistas avaliaram se houve alteração na coordenação motora, seja por sedação ou relaxamento muscular. O teste, baseado na aversão desse tipo de peixe a áreas bem iluminadas, foi realizado em um aquário com zonas clara e escura.
Os animais foram divididos em três grupos, um recebeu pitaia, o outro água destilada e o outro Diazepam. Após uma hora de tratamento, foram adicionados individualmente na zona clara do aquário e o efeito ansiolítico foi quantificado como porcentagem de permanência nessa zona.
Os resultados sugerem que a pitaia tem efeito positivo no controle da ansiedade, envolvendo a via GABAérgica, pois os animais diminuem a sua atividade locomotora e a sua aversão ao ambiente claro. A via GABAérgica refere-se à atuação do principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central.
Casca valiosa
Esses achados sugerem que a pitaia apresenta potencial como uma terapia ansiolítica alternativa e complementar. “Além do mais, a casca de pitaia, que geralmente é descartada durante o processamento e acaba sendo um resíduo e uma fonte de poluição, deve ser considerada um produto valioso, com potencial como ingrediente econômico de valor agregado para auxílio nos transtornos de ansiedade ”, completa Ana Paula Dionísio.
O estudo observou, também, os metabólitos secundários presentes na polpa de pitaia e a sua toxicidade em peixes-zebra adultos. Além disso, foi realizada a caracterização e avaliação dos efeitos biológicos da casca de pitaia para estimar seu potencial como agente ansiolítico alternativo.
Publicações científicas
Dois artigos sobre os estudos com pitaia foram publicados na edição 127 da revistaFood Research International, do Instituto Canadense de Ciência e Tecnologia de Alimentos (CIFST). Os trabalhos continuam e novas publicações devem sair nos próximos meses.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0963996919305964
Um dos artigostrata da determinação do perfil metabólico da pitaia (espécieHylocereus polyrhizus) usando a técnica UPLC-QTOF-MSE (cromatografia líquida de ultraperformance, de elevada resolução e sensibilidade) e da avaliação da toxicidade e efeito ansiolítico em peixes-zebra (Danio rerio) adultos. O estudo reúne cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical, da Universidade Estadual do Ceará, da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza.
A pesquisa demonstrou que a fruta apresentou elevada atividade ansiolítica. No entanto, esses efeitos foram reduzidos pelo pré-tratamento com o flumazenil, sugerindo que a polpa e a casca da pitaia são agentes ansiolíticos mediados pelo sistema GABAérgico, um inibidor do sistema nervoso central.
Esses achados sugeriram que a espécie da fruta testada tem o potencial para o desenvolvimento de uma terapia ansiolítica alternativa e complementar derivada de plantas. Os resultados mostraram também 16 compostos na polpa e 15 na casca. Nos modelos testados, não foi identificada toxicidade na polpa e nem na casca da pitaia.
Ooutro trabalhoaborda dos efeitos do processamento nas substâ,ncias químicas, físico-químicas, enzimáticas e composição metabólica volátil da fruta. A pesquisa, que reúne cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical, Universidade Federal do Ceará e Universidade de Fortaleza, retratou pela primeira vez esses parâ,metros na polpa processada da fruta. Para isso, foram utilizados três tipos de tratamento: apenas a polpa sem ácido ascórbico e a fruta inteira com e sem ácido ascórbico.
A fruta inteira com ácido ascórbico não apresentou alteração química ou físico-química significativa na maioria dos parâ,metros avaliados. Além disso, apresentou altos rendimentos e teor de fibras em comparação com os demais tratamentos. A análise metabólica com a técnica de Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massa (GC-MS) determinou simultaneamente 80 metabólitos voláteis. Análises quimiométricas foram usadas para distinguir eficientemente os compostos voláteis de cada tratamento e demonstraram que a fruta inteira processada com ácido ascórbico apresenta um perfil volátil interessante devido à conservação ou agregação de compostos.
A equipe de pesquisa é formada porGuilherme Julião Zocolo,Ana Paula Dionísio,Fernando Antônio Pinto de Abreu,Maria Izabel Florindo Guedes,Ana Carolina Viana de Lima,Marcelo Oliveira Holanda,Gisele Silvestre da Silva,Chayane Gomes Marques,Sandra Machado LiraeRodolfo Dantas Lima Junior.
Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!