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Pecuária

Pecuarista do ES inova e usa sistema de bem-estar animal no gado de corte

Com base em testes feitos na Fazenda Salgadinho, em Cachoeiro de Itapemirim, pecuarista confirma a mesma rentabilidade da raça Brahman confinada em Compost Barn

por Redação Conexão Safra

em 19/08/2021 às 11h01

8 min de leitura

Pecuarista do ES inova e usa sistema de bem-estar animal no gado de corte

Foto: Leandro Fidelis

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O médico e pecuarista Paulo José Machado quer ser pioneiro na pecuária de corte no sistema que visa ao bem-estar animal (Foto: Leandro Fidelis)

“O manejo faz o animal”. Com esse pensamento, o pecuarista referência em bois Brahman no Espírito Santo, o médico Paulo José Machado, comemora mais um resultado positivo. Com base em testes feitos na Fazenda Salgadinho, em Cachoeiro de Itapemirim, ele confirma a mesma rentabilidade da raça confinada em Compost Barn, que visa ao bem-estar animal.

Machado quer ser pioneiro no país nesse sistema já popularizado na pecuária leiteira, só que na pecuária de corte, na produção de carne Premium. As raças que participam da experiência são a Brahman (50 vacas, dez delas já pariram e estão amamentando), 29 novilhas Brangus e duas novilhas Nelore. Todos os animais são registrados e estão confinados desde o início de maio.

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As vacas passam o dia entre a sombra do confinamento e renovam a vitamina D pegando sol num pequeno cercado acoplado ao galpão (Foto: Leandro Fidelis)

A propriedade fica localizada em Baixada de Soturno, próxima às margens da rodovia Cachoeiro x Vargem Alta. Na primeira quinzena deste mês nasceram os primeiros bezerros Brangus, mas a maioria dos animais vai criar em dezembro. Os Brangus têm em sua genética 5\8 de Angus e 3\8 de Zebu.

No Compost Barn, os animais apresentam desenvolvimento expressivo, com ganho de peso, mudança na pelagem e comportamento mais sereno a cada dia. A incidência de ectoparasitas, como carrapato, berne e miíase praticamente zerou.

“Há tempos eu vinha procurando solução para intensificar a cria, ou seja, produzir mais bezerros, tanto machos quanto fêmeas, para a comercialização de genética e também para o abate”, conta o pecuarista filiado à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

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O galpão de tem 800 metros de área coberta e camas de 12 metros de largura, explica. No interior da construção, são 600 m² de cama à base de carbono. Além disso, há vários bebedouros abastecidos com água de qualidade e três cochos para sal proteinado, destinados aos animais adultos. “E construímos no pátio de acesso às vacas paridas uma pequena estrutura de alimentação complementar para os bezerros, chamada de creep feending”, explica.

Entretanto, embora o experimento mantenha foco em Brahman, o galpão abriga outras raças bovinas, também com potencial para carnes superiores. A marca ZRM já conta com o selo Premium para bois Brahman, resultado do cruzamento de Nelore, Gir, Guzerá e Krishna Valley.

Capacidade ampliada

A capacidade atual do galpão é para abrigar 80 cabeças, média de oito a dez metros por animal, mas dentro de 60 dias uma nova estrutura com 750 m² estará pronta para transferir as vacas Nelore e Brangus. A previsão é confinar 70 vacas no segundo galpão, sem contar os bezerros.

A estrutura acomodou todas as fêmeas da Fazenda Salgadinho. Portanto, os pastos ficaram livres e em descanso no período de inverno. Os touros continuaram no pasto, mas em regime de suplementação. “Quando entrarmos na primavera, teremos a opção de retornar o rebanho ao pasto ou adquirirmos mais animais, ocorrendo assim a intensificação e, com certeza, o aumento de arroba por hectare ao ano, que se traduz em maior rentabilidade”, explica o pecuarista.

“Há tempos tinha vontade de aumentar o número de animais na fazenda e não achava solução que me interessasse. Assim, foram dois anos de pesquisa e, conversando com um amigo especialista e consultor em Compost Barn, decidi apostar no gado de corte a partir de uma experiência em Minas com gado F1 (cruzamento taurino x zebuíno)”, conta Machado.

Machado acrescenta que, em função da rusticidade e qualidade dos animais, o objetivo do projeto é, em primeiro lugar, o bem-estar animal. “E isso nos propicia maior produtividade, mas com sustentabilidade, além do ganho em precocidade, já que as fêmeas emprenham mais cedo. Temos ainda o controle das prenhezes e gestações que chegam ao término de maneira satisfatória, sem mortalidade das crias, devido a fatores externos”.

Então, tudo é pensado para melhor otimizar o meio onde os animais vivem. “O meio ambiente é controlado, oferecendo aos animais alimentação com qualidade (capim-açu e sorgo), que é picado no cocho, na pista de trato, sem necessidade do esforço físico de carregar balaios cheios. O trator com o vagão distribui a alimentação três vezes por dia”.

Além disso, segundo o pecuarista, o confinamento diminui em 50% os dejetos e a demanda energética. Os dejetos são transformados em adubo orgânico de qualidade. Enquanto uma vaca de leite que produz 30 litros/dia gera, em média, 120 kg de dejetos por dia devido à ingestão altíssima de água, a vaca de corte vai necessitar de, no máximo, 40 kg de alimento/dia para produzir de 30 kg a 40 kg de dejetos/dia. Além de facilitar trato e manejo, os custos diminuem consideravelmente.

“A fêmea produz leite suficiente para o bezerro, com desmame de, no mínimo, dez arrobas e trezentos quilos, variando assim, o peso bruto de 260 kg a 300 kg na desmama. Daí para ser comercializado, basta acrescentar no filhote oito arrobas. Saindo da desmama, o bezerro entra direto no confinamento, onde pode ser PO (Puro de Origem) quanto F1. Com idade de oito meses, atinge 18 arrobas, peso bom para o abate. Se for PO, vai para a reprodução”, explica.

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“Na pecuária, todos sabem da importância de um bezerro bem criado e pesado na desmama”, diz o pecuarista (Foto: Leandro Fidelis)

Assim, o pecuarista destaca que esse cuidado gera benesses para o animal e também para os criadores. Água e cama de qualidade e proteção contra a chuva, o sol quente ou o frio fazem com que os animais se sintam protegidos. Isso se reflete em filhotes saudáveis, com ganho de peso expressivo, quando desmamados com oito ou dez arrobas.

“Na pecuária, todos sabem da importância de um bezerro bem criado e pesado na desmama. Esse é o bezerro que o mercado quer e exige. Veja o exemplo do Boi China, que tem limite de idade e qualidade da carcaça. O macho que desmama com nove ou dez arrobas pode ir direto para o confinamento, pulando a fase da recria, sendo abatido com dezoito arrobas com mais seis meses de trato”, explica.

Dessa forma, o macho com destino a gerar filhos, ou doar genética, está apto ao cruzamento com 18 meses, transferindo aos filhos os genes da precocidade, carne macia e saborosa, além de bastante valorizada. As fêmeas emprenham mais cedo e podem parir com 24 até 30 meses de idade, conta o pecuarista, “trazendo o rendimento mais cedo e com possibilidade de, na sua vida reprodutiva, dar-lhe um bezerro a mais”.

Economia verificada

Paulo Machado estudou – e estuda – a pecuária a fundo. Assim, ele constatou os custos de vacas no composto e fez a comparação de forma simples da vaca de leite. Se o animal produzir 20 litros de leite por dia, quanto de água tem necessidade de ingerir? Quanto de ração farelada ou concentrada tem de ingerir por litro de leite produzido? Quanto dejetos (urina e fezes) produz por dia? Qual o destino a maioria dá?

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A fazenda produz milho, sorgo, capim-açu e capim napier, além de dar destinação correta a tudo que é gerado (Foto: Leandro Fidelis)

É uma economia verificada na dieta e na saúde dos animais. A fazenda mantém produção de silo de milho, sorgo, capim-açu e capim napier, que garante o alimento em até 30 dias e é adubada com os dejetos gerados no composto.

“Vaca de leite tem que comer milho, soja ou ração comprada, enquanto o de corte, se tiver capineira boa, você sustenta a vacada com capim, que pode ser o açu ou sorgo misturado com capim-açu mais um sal proteinado de boa qualidade. O custo com alimentação acaba”, diz.

Na prática, na fazenda, é dada a destinação correta para tudo o que é gerado, ou seja, transformam-se os dejetos em adubos, e agrega-se ainda a decomposição dos restos de galhos, palha de café, arroz, e outras culturas.  Dessa forma, fica composta a sustentabilidade da propriedade, com possibilidade de produzir o que se consome. Ela fica praticamente autossuficiente.

Prevenção de doenças

A prevenção a doenças é outra vantagem do Compost Barn na pecuária de corte, ou seja, fica mais barata e simples. Os gastos são apenas com as vacinas. O criador afirma não ter mais problemas com ectoparasitas, como carrapato e berne, miíase. Praticamente zerou a incidência dessas pragas.

A cama do Compost deve ser revirada pelo menos duas vezes ao dia, para facilitar a sua secagem e a eliminação das bactérias que podem produzir danos. “Quando reviramos a cama, trazemos para a superfície o que estava no fundo a uma temperatura que varia de 40 a 70 graus Celsius. No processo, claro, colocamos para o fundo a superfície, ocorrendo assim uma fermentação aeróbica, dificultando a proliferação de bactérias danosas aos animais”.

A proposta da criação ZRM- Brahman e Brangus, na Fazenda Salgadinho, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), é divulgar as novas técnicas e métodos da pecuária, viabilizando a permanência do produtor na sua propriedade. “Nós temos o prazer de receber visitas, e transmitir esses pequenos avanços tecnológicos aos colegas produtores”. O contato é pelo telefone (28) 99999-5574.

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