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Cafeicultura de Brejetuba ganha reconhecimento nacional

por Redação Conexão Safra

em 23/05/2014 às 0h00

10 min de leitura

Cafeicultura de Brejetuba ganha reconhecimento nacional

*Leandro Fidelis


No próximo dia 25 de abril, o agronegócio capixaba tem um fórum importante na Região Serrana do Espírito Santo. É o 13º Encontro de Cafeicultores de Brejetuba, um dos maiores eventos técnicos do setor produtivo de café arábica do Estado. Com expectativa de receber 800 pessoas, o encontro tem como objetivo principal a difusão de novas tecnologias e promover intercâmbio entre produtores, técnicos, estudiosos e empresários da cadeia do café.


Em Brejetuba, quantidade e qualidade caminham de mãos dadas. O município é o maior produtor de arábica do Espírito Santo, com uma produção de 400 mil sacas por ano, e também está entre os cinco maiores produtores dessa variedade no Brasil. As lavouras avançam o horizonte a perder de vista.


O município também é destaque na produção de café de qualidade superior. São cerca de 120 mil sacas do tipo cereja despolpado bebida fina por ano, safra considerada a maior do Brasil. O diferencial de preço entre os cafés especiais e o bebida rio injeta R$ 8 milhões a mais por ano na economia local.


O mercado internacional já descobriu a qualidade do grão brejetubense. “Só em Brejetuba compradores de todo o mundo encontram cafés em quantidade e qualidade no mesmo patamar ”, destaca Fabiano Tristão, engenheiro agrônomo do Incaper e especialista em café.


As primeiras lavouras do fruto foram plantadas no município por volta do ano de 1900. Até então, existia apenas um pequeno povoado que vivia basicamente da agricultura de subsistência. A cafeicultura foi se expandindo, gerando renda e empregos e atraindo pessoas de todas as regiões do Espírito Santo e até de outros Estados.


As riquezas geradas pela cafeicultura foram fatores determinantes para o desenvolvimento da vila de Brejetuba, que se tornou município em 15 de dezembro de 1995. Atualmente, 90% da renda do município são provenientes da cafeicultura, gerando um valor bruto de produção de R$ 140 milhõespor ano.




O 13º Encontro de Cafeicultores vem brindar essa história de sucesso. O evento é realizado através de parceria entre a Prefeitura de Brejetuba, o Governo do Estado e o Incaper. Nas próximas páginas, você vai conhecer personagens que a Safra encontrou em diferentes pontos do município serrano. Bem vindo à “Capital Capixaba do Café Arábica ”!



União familiar fortalece atividade em Vargem Grande


No início eramsó José CôcoCamporez (65) e uma cafeicultura “”sem nenhuma tecnologia””, como conta esse cafeicultor de Vargem Grande, localidade a oito quilômetros da sede de Brejetuba, às margens da rodovia que liga a BR-262 ao município. Ali, pela força da união, o conceito de qualidade entrou na pauta dos pequenos produtores, fazendo toda a diferença na vida das suas famílias.


A estruturação começou na própria lavoura. Camporez lembra que o espaçamento entre os pés de café era grande, permitindo apenas 1.250plantaspor hectare. Além da dificuldade de mão-de-obra e dos cafeeiros muito altos, o custo de produção era elevado. Aos poucos, o agricultor foi renovando e introduzindo variedades mais produtivas, sempre com orientação técnica.

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Até os tratos culturais foram modificados em adaptação ao novo conceito. “Antes a limpeza era feita com enxada, o que causava muita erosão. Hoje, com o uso da roçadeira e os espaçamentos entre os pés menores, garanto um solo mais rico em matéria orgânica ”, diz o cafeicultor.


Depois de reorganizar a lavoura, Camporez conta que não tinha recursos para equipar a propriedade. Não era possível ter um terreiro coberto, por exemplo. O cafeicultor procurou crédito rural junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e a saída foi se unir com outros produtores da mesma família para trabalhar com café de qualidade.


Até 2007, um único descascador atendia tios, irmãos, sobrinhos e primos. Investir em cafés finos foi um negócio tão lucrativo que deu para quitar o equipamento em pouco tempo. O diferencial chegou a R$ 100 por saca. “Com a diferença de preçopor causa da qualidade, deu para pagar o financiamento com tranquilidade. ”


Já no segundo ano produzindo grãos especiais, José Camporez instalou um secador e ampliou os terreiros cobertos. A área coberta, que era de 300m², passou para 540m². “É importante na nossa região porque atua como proteção ao mau tempo e ali dá para formar o lote e esperar o secador desocupar. Muitas vezes concluí a própria secagem no terreiro coberto ”, conta o cafeicultor.


Camporez comercializa o seu café na região, mas já iniciou parceria junto a uma cooperativa local para vender cafés finos para o exterior. Produto de qualidade comprovada ele já tem: por dois anos consecutivos,o cafeicultor ficou entre os dez primeiros em um prêmio de cafés especiais nas montanhas.


Outro passo importante será a instalação de mais um despolpador nos próximos 60 dias para fortalecer os trabalhos e aumentar a qualidade do seu grão e dos cafeicultores da sua família.



No início, despolpadores comunitários fomentaram produção


O incentivo à produção de cafés finos teve início no ano de 1997, por meio de capacitações sobre a importância desse tipo de produção e com a implantação dos primeiro despolpadores comunitários, de suma importância para fomentar o preparo de cafés superiores no município.


Atualmente, Brejetuba possui 106 despolpadores particulares e outros14 comunitários, sendo 400 cafeicultores inseridos na produção de cafés de qualidade, o que representa 66% do número total de produtores do município, de acordo com o Incaper.


Brejetuba possui também uma sala de classificação e degustação de café com análise de cerca de 3.000 mil amostras por ano, atendendo cerca de 350 cafeicultores. “A finalidade dessa sala é fornecer um laudo a respeito da qualidade do café, além de informações de como produzir cafés especiais ”, destaca o agrônomo Fabiano Tristão.


O município também realiza um concurso de qualidade já em sua 6º edição, cuja finalidade é incentivar e premiar os agricultores que buscam produzir cafés com excelência.


Ele exporta o café que produz sem intermediários


Na nascente do Rio Doce, a nove quilômetros da sede de Brejetuba, fica a Fazenda Santa Clara, idealizada e construída por seu proprietário para produzir safras especiais. O fundador, Edmar Zuccon (43), faz parte da família pioneira na produção regional de café lavado (fullywashed) e hoje é o único produtor do Espírito Santo que exporta como pessoa física.


O método Zuccon de produção é uma sabedoria passada de pai para filho. Todo o processo é feito com reaproveitamento de insumos, respeito ao meio-ambiente e uma boa pitada de inovação. Os grãos são colhidos ainda maduros (cerejas) e, da lavoura, seguem para uma via úmidaadaptada pelo próprio Edmar.


Nesse processo, o café é lavado, separado (cereja, boia e verde) e despolpado. Na fazenda, a via úmida acontece em um circuito fechado que utiliza cinco vezes menos água que as técnicas usuais. Após essa etapa, passa 12 horas na caixa de degoma, onde fica “de molho ” em torno de 10 a 12 horas. O processo de secagem é iniciado com um aerador e finalizado em secador elétrico, dispensando o tradicional uso do terreiro.


Após 30 dias repousando em galpões cobertos, os grãos estão prontos para o mercado externo. A produção sai do país sem a necessidade de atravessadores e otimiza o controle de qualidade da origem e chegada dos lotes. “Hoje o mercado quer rastreabilidade. Os estrangeiros estão vindo conhecer o café direto da fonte para tirar suas próprias conclusões. Quem ganha com isso é o município e o Estado ”, afirma Zuccon.


Os padrões de excelência do manejo e sustentabilidade da Fazenda Santa Clara garantem um produto de alta qualidade, que atende às exigências dos mercados internacionais de cafés finos (gourmet). Por isso, são colhidas 10 mil sacas da variedade arábica.


Quase metade da produção é beneficiada em via úmida e exportada em grãos para países como Alemanha, Itália e Estados Unidos. Nesse último, Edmar Zuccon estabeleceu um contato mais direto com algumas torrefadoras na busca por preços ainda melhores para o seu café.


“”Minha base é a cotação da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Posso alcançar até R$ 700 por saca, contra R$ 590 em média se tivesse que exportar por outra fonte””, diz o cafeicultor, dono de 1 milhão e 300 pés de café padronizados e produzindo juntos. “”A fazenda trabalha com a visão de crescimento, o meu verdadeiro patrimônio são os pés de café. Nada traz mais rentabilidade que o café em Brejetuba.””


Qualidade está mais democrática


Para obtenção de cafés finos, hoje existe tecnologia apropriada para o pequeno, médio e grande produtor. É o que afirma Edevaldo Costalonga, gerente de qualidade da Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo. Em média, o custo para se produzir café especial é de R$ 350, mas o valor agregado proporcionado por esse diferencial chega a quase R$ 150.


Um importante suporte é a Sala de Degustação e Classificação de Brejetuba. Além de atestar a qualidade dos cafés produzidos no município, com análise de cerca de 2.000 amostras, o espaço conta também com um técnico em degustação e classificação, que repassa aos agricultores as tecnologias necessárias para produção de cafés superiores.


Colheita a dedo e saca a R$ 1.000 em Rancho Dantas


O produtor rural JoselinoMeneguetti (62) possui uma propriedade na localidade de Rancho Dantas, zona rural deBrejetuba, que se destaca por uma produção diferenciada em vários aspectos. Ali, o café divide espaço com banana e palmito pupunha, e a colheita é feita a dedo, indicada para regiões com inverno seco e solo arenoso e também para lavouras superadensadas.


Com apenas três hectares de café em produção, Meneguetti já foi eleito o melhor produtor do município no “Prêmio Café Sustentável de Brejetuba ”. “É o reconhecimento por todo processo que fazemos de colheita seletiva na lavoura, onde colhemos apenas os grãos maduros. Isso contribui muito para a qualidade do café ”, afirmou.


A qualidade do produto de JoselinoMeneguetti pesa na cotação de preço. Uma saca do seu café gourmet já foi vendida a R$ 1.000. E outro reconhecimento é o contrato de três anos com a cafeteria “CoffeeLab ”, de São Paulo, considerada uma das melhores do mundo.


“Mantemos relações próximas com os melhores produtores e nos certificamos de que os cafés foram cultivados de acordo com nossos altos padrões de exigência, tanto em termos de qualidade e atenção no processamento do produto quanto da responsabilidade social e ecológica que foi empregada durante o processo produtivo na lavoura ”, destaca a barista Isabela Raposeiras, proprietária da cafeteria.


A “CoffeeLab ” leva microlotes de cafés especiais selecionados e desenvolve perfis de torra específicos para cada um, com o objetivo de valorizar todo o potencial de cada café na xícara do seu consumidor. E nisso o produto que sai de Rancho Dantas se garante.


Sustentabilidade na agenda do dia no município


Em 2008, o município de Brejetuba lançou o programa “Cafeicultura Sustentável ”, com o objetivo de promover adequação econômica, ambiental e social da propriedade, no sentido de tornar mais sustentáveis as propriedades do município.


O programa trabalha a melhoria da produtividade e da gestão da propriedade, com foco na obtenção de cafés finos. A adequação ambiental consiste no licenciamento das atividades da propriedade, averbação da reserva legal e proteção de matas ciliares e nascentes. Existem ainda normas para a destinação correta do lixo e efluentes domésticos.


Na parte social, são avaliados os seguintes quesitos: respeito às leis trabalhistas e o direito à escola e à liberdade de associativismo. Segundo o Incaper, são cerca de 60 propriedades em processo de adequação no município atualmente.



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