Agricultura Familiar muda a realidade rural do Espírito Santo
por Redação Conexão Safra
em 03/02/2016 às 0h00
9 min de leitura
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De norte a sul do estado, a agricultura familiar mostra sua beleza, eficiência econômica e capacidade de gerar empregos e postos de trabalho
Das 84 mil estabelecimentos rurais no estado, 67 mil, ou seja, 80%, são da agricultura familiar
O Espírito Santo possui a vocação agrícola como um fator determinante na economia, e a agricultura é um das principais responsáveis pelo desenvolvimento. Atualmente, 80% dos que estão nesse ramo de atividade fazem parte da agricultura familiar, que é responsável por 44% do valor bruto na produção do estado.
Das 84 mil estabelecimentos rurais no estado, 67 mil, ou seja, 80% são da agricultura familiar. A atividade é responsável por 207 mil dos 317 mil postos de trabalho na agricultura capixaba, de acordo com dados da agricultura familiar no Espírito Santo levantados pelo IBGE no censo de 2006.
É considerado agricultor familiar ou empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades em propriedades de até quatro módulos fiscais utilizando, predominantemente, mão de obra da própria família e que tenha a renda originada da atividade. A agricultura familiar representa 36% da área total agrícola do Espírito Santo.
De acordo com o gerente de Agricultura Familiar da Seag e secretário Executivo do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (CEDRS), Luiz Carlos Bricalli, desde 2003, tanto o governo federal quanto o estadual tem realizado diversos programas, projetos e ações de políticas públicas para fortalecer o segmento, que hoje coloca à mesa dos brasileiros e capixabas quase 70% dos alimentos que consumimos todos os dias.
Os dados do IBGE revelaram que a agricultura familiar foi capaz de reter um maior número de pessoas ocupadas. No ano da pesquisa, foi mais de duas vezes superior aos números de ocupação gerados pela construção civil. “Felizmente, hoje, as áreas rurais têm mais oportunidades e, com isso, os agricultores familiares passaram a ter opção de escolher se querem ou não permanecer no campo. Muitos estão conseguindo produzir mais, vender mais e ter melhor qualidade de vida. A agricultura familiar passou a ser sinônimo de ‘coisa boa’ ”, afirma Bricalli.
“A agricultura familiar coloca na mesa dos brasileirose capixabas quase 70% dos alimentos que consumimos todos os dias ”
A atividade é responsável por 207 mil dos 317 mil postos de trabalho na agricultura capixaba
Mulheres também conquistaram espaço
Quando falamos em agricultura familiar pensamos logo nas atividades que são desenvolvidas pelos homens. Mas não podemos deixar de fora as mulheres. A cada ano, elas vêm conquistando seu espaço e muitas já são responsáveis pela renda familiar. Dentro de agricultura familiar, 52% são de atividades de agroindústria, e cerca de 80% dessas agroindústrias são coordenadas pelas mulheres, outros 78% são de artesanato.
A revista Safra ES já apresentou em suas páginas várias atividades que são coordenadas por elas:
– Associação das Mulheres da Prata, em Anchieta &ndash, uma agroindústria formada por 22 mulheres, que além de aumentar a renda familiar, é exemplo para outras mulheres na atividade rural do Espírito Santo. Elas romperam barreiras e preconceitos e encontraram na atividade o reconhecimento no mercado,
– Maria da Penha Pancieri Pinto, de Conceição do Castelo, é a responsável pela agroindústria Marip. Ela começou com a fabricação artesanal há 28 anos e desde então, a atividade é a principal fonte de renda da família,
– Mulheres de Pedra Lisa &ndash, uma agroindústria formada por sete mulheres na localidade de Pedra Lisa, em Cachoeiro de Itapemirim, que tem sede própria e já conquistou seu espaço. Elas vendem a produção na Feira da Agricultura Familiar na sede do município e em feiras pelo estado,
Já na área de artesanatos, é comum a utilização de materiais existentes dentro da propriedade rural para a fabricação dos produtos. Além disso, em muitas vezes, o trabalho do homem é acompanhado pelo trabalho da mulher. Como por exemplo, eles estão à frente das atividades de pecuária, já elas cuidam do processamento de derivados do leite. O queijo, geralmente, é feito por elas.
As mulheres desempenham um papel muito importante no processo de desenvolvimento sociocultural e econômico no meio rural. Além de participar diretamente das atividades agrícolas ou não, elas contribuem decisivamente para a manutenção de tradições da agricultura familiar.
As mulheres desempenham um papel muito importante no processo de desenvolvimento sociocultural e econômico no meio rural
Segundo Luiz Carlos Bricalli, o resultado esperado é o fortalecimento da dinâmica organizacional e produtiva da agricultura familiar
Para atender a agricultura familiar no Espírito Santo, o Governo do Estado vem realizando diversos programas que ofereçam suporte e qualidade de vida aos agricultores. O mais recente é o Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf), que é uma parceria entre o Governo Estadual e Federal, através do BNDES. De início, o Fundo começa com R$ 12 milhões. O primeiro edital, de R$ 3 milhões, já está disponível e o segundo será publicado no início de 2016.
O programa tem como público alvo as associações e cooperativas de agricultores familiares, e instituições que desenvolvam pesquisas agropecuárias e instituições prestadoras de serviços de assistência técnica e extensão rural, desde que os seus serviços guardem estrita pertinência com a agricultura familiar.
“Não há prioridade no Funsaf. Vamos contratar projetos que podem ser da pecuária, agricultura, piscicultura, organização rural, entre outros. Queremos que seja de fato um bom projeto, e que vá desenvolver a comunidade e o município, além de gerar renda e proteger o meio ambiente ”, disse Luiz Carlos Bricalli.
O resultado esperado é o fortalecimento da dinâmica organizacional e produtiva da agricultura familiar, permitindo que os grupos organizados através de associações e cooperativas possam melhorar os seus processos de produção, beneficiamento e comercialização contribuindo para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável das áreas rurais capixabas, e inovação na gestão dos recursos públicos permitindo um acesso mais democrático e transparente à sociedade.
Prefeituras do Sul do Estado investem nos agricultores
No início de dezembro, a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim lançou o ‘Programa Municipal de Apoio às Organizações da Agricultura Familiar’. Com a iniciativa, associações e cooperativas do campo podem contar com recursos do Fundo de Desenvolvimento Rural Sustentável do município para adquirir equipamentos e materiais necessários para a produção, beneficiamento, armazenamento, transporte e comercialização de produtos.
A lei que institui o programa foi sancionada em reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável. Agora, os empreendimentos coletivos rurais precisam aprovar projetos em chamadas públicas para obter verba do fundo.
Com o programa, as próprias associações e cooperativas selecionadas &ndash, e não mais a prefeitura &ndash, farão o processo de compra, mediante a assinatura de convênio com o município e posterior prestação de contas. A expectativa é investir R$ 300 mil em iniciativas que contribuam para o desenvolvimento no campo.
Além disso, os agricultores podem vender seus produtos na Feira da Agricultura Familiar, que acontece uma vez por semana na sede do município.
“A Feira é uma excelente oportunidade para todos nós, pequenos agricultores. Toda nossa produção é vendida e conseguimos ter uma renda segura para nossa família ”, disse Leonardo Ventura, agricultor e presidente da Cooperativa de Agricultura Familiar (CAF-Cachoeiro).
A Prefeitura de Conceição do Castelo também investe e incentiva a agricultura familiar. A Feira da Agricultura Familiar é uma das ações do município para beneficiar os pequenos produtores. Ao todo, são 17 barraquinhas entre alimentação e artesanato. A Prefeitura oferece a infraestrutura e cursos para os feirantes.
Em Guaçuí, a Feira do Agricultor Familiar é um espaço para comercialização de alimentos livres de agrotóxico, no sistema agroecológico e orgânicos, e também um local para os artesãos do município mostrarem seu trabalho. Atuam na feira grupos de agricultores familiares beneficiários do projeto “Programa Agroecológico Integrado e Sustentável ” (PAIS), uma metodologia de produção de hortaliças, frutíferas e criação de pequenos animais com bases agroecológicas, sem uso de agrotóxicos, grupos de artesãos da Associação Guaçuiense de Produtores de Artesanato (Aguapa), e grupos de artesãos do Centro de Inclusão Sócio Produtiva do município.
O critério para participação na feira é que a produção atenda aos princípios agroecológicos, ou estejam em conversão para o sistema orgânico de produção, conforme legislação federal que estabelece normas para a agricultura orgânica. Além disso, a Prefeitura realiza cursos, em parceria com o Sebrae-ES para fomentar a atividade entre as famílias rurais do município.
Em Castelo, a Feira Livre da Agricultura Familiar existe há nove anos, e colabora com a melhoria da renda familiar de 32 famílias que compõem a Associação. Toda semana são comercializados mais de 50 itens da agroindústria familiar em 26 barracas, no centro da cidade.
Os produtos ofertados na feira, possuem selo de inspeção municipal e são manipulados de acordo com as normas da Vigilância Sanitária do município, além de serem cultivados de forma mais natural, com pouco ou nenhum uso de agrotóxicos.
A Prefeitura de Conceição do Castelo também investe e incentiva a agricultura familiar com a feira dos agricultores
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