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Geral

Acabou-se o que era doce?

por Redação Conexão Safra

em 01/02/2016 às 0h00

19 min de leitura


Acompanhamos de perto os primeiros dias da agonia causada pela chegada dos rejeitos da Samarco ao Rio Doce e as
consequências dessa tragédia ao agronegócio capixaba

Parece ironia, mas o Estado usado pela coroa portuguesa como “barreira verde ”, no século 18, evitando a passagem pelo seu interior do minério extraído das Minas Gerais em direção ao mar, séculos depois se configurou no caminho natural para a lama de rejeitos de mineração em um dos maiores desastres ambientais da história recente do Brasil.

De Mariana, a mesma cidade mineira onde a corrida do ouro despertou para o seu potencial minerador, uma massa amarronzada e devastadora rompeu uma barragem, destruiu uma vila, percorreu o Rio Doce e chegou ao nosso litoral em cenas exibidas à exaustão nos noticiários. De repente, a Samarco Mineração S.A, empresa controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, virou o centro das atenções por ser a principal responsável pela tragédia.

Danos ambientais sem precedentes são verificados em um rio que já cambaleava pelo descaso das populações ao longo da sua margem e foi vitimado pela maior seca dos últimos 40 anos no Espírito Santo. O resultado foi o flagelo da fauna marinha e de espécies vegetais na calha do importante rio. O agronegócio nos municípios capixabas de Baixo Guandu, Colatina e Linhares, que são banhados pelo Doce, também sofre com as consequências.

O secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Octaciano Neto, afirma que toda a calha do Rio Doce representa 14,1% de toda a agropecuária do Espírito Santo. “O impacto na lama tem um efeito perverso para todos os proprietários rurais que estão ao longo do rio. A agricultura ali se desenvolveu ao
longo dos mais de 150 km do Rio Doce no Estado. A partir do momento em que não podemos irrigar com a abundância que poderíamos antes, em função da lama, a nossa agricultura é prejudicada ”, diz.

Segundo Octaciano, os maiores prejudicados ainda são os produtores rurais às margens do Rio Doce, aproximadamente 300 proprietários de terra. “Se um produtor ficar sem produzir, a agricultura não acaba, mas para a vida dele o prejuízo é de 100% ”, completou.

Para os especialistas, serão necessários até 30 anos de esforços concentrados para a recuperação do Doce. O investimento só para recuperação das nascentes é estimado em R$ 3 bilhões.

A Revista Safra ES foi acompanhar de perto a chegada da onda barrenta ao Estado no mês de novembro. Nossa reportagem verificou tudo aquilo que talvez você já esteja cansado de assistir, mas com o olhar de quem retrata bimestralmente a vida dos produtores rurais ou tira sustento do rio, caso dos pescadores, como verá nas próximas páginas.

O biólogo e agricultor Zeferino Lauer, de 64 anos, já estava desolado muito antes de o Doce ser atingido pelos rejeitos da Samarco. Ele cultiva uma lavoura de bananas às margens do rio, a poucos metros da BR-259, em Colatina, no Noroeste. A plantação vinha sofrendo com a seca, e agora o agricultor se preocupa com a captação de água para a irrigação que garantirá o crescimento das frutas bem próximo do período de colhê-las.

Até a estiagem, Lauer bombava água do Rio Doce, mas acabou optando em captá-la de um poço artesiano da propriedade, com 135 metros de profundidade, que também teve o seu nível reduzido a quase zero este ano. “Eu ia perder a produção de qualquer maneira. ” O sentimento de incapacidade só aumentou vendo sujeira da mineradora chegar ao quintal de casa. “As grandes empresas só visam lucro e não se preocupam com os riscos ao meio ambiente. Há muito desleixo em relação ao Rio Doce, que já estava poluído antes da tragédia ”, diz o agricultor.


“Se um produtor ficar sem produzir,
a agricultura não acaba, mas para
a vida dele o prejuízo é de 100% ”
(Octaciano Neto, secretário de agricultura)


Zeferino Lauer cultiva bananas em Colatina.

Jailton Correa mantém 40 mil pés de cacau às margens do Rio Doce em Linhares.

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O acúmulo de metais pesados que adentrou o Espírito Santo prejudica também outra atividade de Zeferino Lauer em Colatina: a apicultura. Como não tem flor na área, ele desloca as colmeias para outras regiões para a polinização acontecer e evitar que as abelhas busquem água no Rio Doce. “As abelhas ficam em locais úmidos, beiras de córregos e margens de rio. Como a gente desconhece as atuais condições do Doce, estou levando as caixas para o Norte. A abelha é um dos insetos mais sensíveis a tóxicos. Uma vez contaminada a colmeia, podem se passar décadas que ainda assim o resquício de veneno é suficiente para matar as abelhas. ”

Em Linhares, o maior município capixaba, Jailton Correa (59) mantém 40 mil pés de cacau em duas ilhas cercadas pelo Rio Doce no distrito de Povoação, a 30 quilômetros da sede. A lama veio e só comprometeu até agora o consumo de água pelos funcionários da fazenda. A colheita está a pleno vapor- com expectativa de 30 mil quilos até janeiro- e a torcida do cacaueiro é por mais chuvas, pois as plantações encharcadas são sinônimo de boa safra. “Quando dá enchente, explode de dar cacau aqui ”, disse.

Segundo Correa, a lama não interferiu na rotina da fazenda, porém o medo das consequências do desastre ambiental persiste. “O rio estava seco e não invadiu as ilhas depois da chegada da lama. Na verdade eu esperava por água, não por lama. Só não sei o que vai acontecer ”, disse o cacaueiro.

A exemplo do caso colatinense, as lavouras de cacau vinham sofrendo mais com a seca. As duas ilhas de Jailton não são irrigadas, ficam em regiões mais baixas e dependem exclusivamente das chuvas. Com o Doce prejudicado pela estiagem, o lençol freático praticamente não chegou às raízes dos cacaueiros, todos mais velhos e clonados. Foi preciso recorrer ao poço artesiano, que acabou secando também.

A chuva do início do mês limpou o leito do Doce, e os pés lotados de cacau podem parecer sinal de sorte para Jailton Correa. Ele é a face mais otimista de tudo o que vimos ao longo do rio. Assim que a colheita terminar em janeiro, os trabalhos só recomeçam em abril. Nesse período, o agricultor vai aproveitar para fazer análise do solo e conferir se os resíduos de minério oriundos da barragem de Mariana foram positivos para as plantações de cacau. “Não sei o que veio com a lama da Samarco, mas conheço muita gente que usa pó de minério como adubo.
Nunca fiz o teste e estou pagando para ver ”, finaliza.

Distribuição de água em Colatina

Saindo da zona rural dos municípios visitados pela Safra ES, presenciamos a situação dos bairros de Colatina, cujos moradores ficaram impossibilitados de consumir água do Rio Doce durante o mês de novembro.

Com apoio da Prefeitura e do Exército, a Samarco distribuiu água mineral em pontos e horários marcados durante dias até a divulgação do resultado positivo do laudo que atestou a potabilidade da água dentro dos parâmetros do Ministério da Saúde.

Nossa reportagem testemunhou cenas atípicas, como as de estudantes universitários tendo que passar a noite na casa de familiares a quilômetros de distância porque faltou água nas repúblicas, caso dos amigos Amanda Lima de Souza (21) e Vinícius Quiuqui Manzoli (19) (foto acima). O transtorno acabou fazendo as instituições de ensino suspenderem as aulas.




Irrigação só com
monitoramento

João Batista Pavesi Simão.

Rica em ferro e manganês, a água do Rio Doce, por mais imprópria ao consumo in natura por humanos e ao abastecimento animal, ainda serve para a irrigação. A afirmação é do agrônomo, mestre em Microbiologia Agrícola e doutor em Solos e Nutrição de Plantas, João Batista Pavesi Simão, que palestrou recentemente em Linhares sobre o assunto.

Pavesi é professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo- Ifes, campus de Alegre, e vem realizando experiências com a lama há cerca de 14 meses.

Segundo Pavesi, que estudou os rejeitos da mineradora Samarco em 2013 para um projeto que avaliou os impactos do material no solo, os resíduos não comprometem a irrigação das plantações porque os elementos estão inertes e não são absorvidos pelas plantas. “Isso acontece porque diversas variáveis influenciam no acesso das plantas às substâncias na água, como acidez e teor de areia e matéria orgânica no solo. ”

O professor chegou a elogiar a decisão do titular da 3ª Vara Civil de Linhares, juiz Thiago Albani, que determinou a abertura da boca do rio. De acordo com ele, o teor de acidez do mar é menor que o do rio, o que torna as substâncias ainda menos disponíveis à absorção, sem contar o poder de dissolução do oceano. Para Pavesi, a chave é continuar monitorando os níveis das substâncias diluídas na água do Rio Doce, analisando elemento por elemento continuamente.

O secretário de Agricultura de Linhares, Mauro Rossoni Júnior, destaca a necessidade de uma série de medidas durante a irrigação. De acordo com ele, a nova recomendação está baseada no estudo cientifico do químico da Universidade Federal de Viçosa, José Maurício Machado Pires, que é autor de uma tese sobre as barragens que se romperam.

“O material analisado é inerte. A maior parte dos metais pesados – chumbo, cromo e cádmio – encontrados nas amostras estão aprisionados em outro mineral chamado goethita. Esse mineral envolve o metal pesado em sua estrutura cristalina, aprisionando-o. Dessa forma, o material fica indisponível para a solução do solo e, consequentemente, não é absorvido pelas plantas ”, diz Mauro.

De acordo com o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a irrigação é responsabilidade da Agência Nacional das Águas- ANA, já que o Rio Doce é um rio federal. O Governo do Estado já pediu a indenização de 20 bilhões de reais para a sua recuperação e, além disso, o Instituto Estadual de Meio Ambiente- Iema está realizando o monitoramento constante dos impactos e dos prejuízos ocasionados pela avalanche de lama.

Veja a lista de recomendações para irrigação

– Utilizar se possível e necessário, sistema de filtragem para irrigação;
– Utilizar quando possível, sistemas de aeração e decantação;
– Aumentar a frequência de retro lavagem dos equipamentos de irrigação;
– Suspender, temporariamente, as fertirrigações;
– Recomenda-se o uso de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) dos operadores, quando a exposição ao serviço de irrigação for prolongada;
– Não utilizar a água do Rio Doce para pulverizações costais manuais ou motorizadas de quaisquer lavouras.
– Para o uso da água do Rio Doce para fins específicos nas propriedades, procure um engenheiro agrônomo ou responsável técnico especializado.

Pescadores perdem o sono e o sustento

A Safra ES percorreu duas vilas de pescadores no município de Baixo Guandu, cujos moradores dependem exclusivamente do Rio Doce para o seu sustento. O clima de impotência predomina nas comunidades ribeirinhas.

E desde que os rejeitos da barragem de Fundão chegaram ao Estado, até o comércio do peixe congelado pescado antes do desastre ficou comprometido, já que os consumidores locais passaram a evitar qualquer alimento tirado do rio. Um vendedor da cidade calcula prejuízo de R$ 30 mil com a limitação da venda do estoque de peixe que se esgotaria até fevereiro de 2016.

Cláudio Márcio Alvarenga, mais conhecido como “Marcinho ” (44), é quem tenta manter viva a esperança de 180 homens cadastrados na Colônia de Pescadores do Rio Doce, entidade a qual preside em Baixo Guandu. Marcinho viu sua rotina mudar completamente ao primeiro sinal da lama no rio.

“A tristeza é grande demais. A princípio, pensávamos que fosse só lama, sem metais, mas a morte dos peixes logo nos dois primeiros dias nos deu a dimensão exata do impacto causado pela Samarco ”, conta o pescador.




“Eu tinha expectativas de pescar bastante peixe ano que vem. Não tenho mais sossego e vivo pensando na possibilidade de outra barragem estourar ” (Adilson Gonçalves)

Tucumaré, dourado, carpa, mandiaçu, pacumã, lambari, cascudo, camarão e corimba são algumas das espécies mais comuns no leito do município e garantem renda para cerca de 250 pessoas.

Para complicar ainda mais a situação, o período de defeso da piracema começou no último dia 1º de novembro e vai até 28 de fevereiro, quando os pescadores ficam impossibilitados legalmente de pescar em respeito à reprodução dos peixes.

“O pescador não tem outra atividade. Havia muito peixe antes da piracema. Nós declaramos junto ao Ibama e vendemos congelado até fevereiro. Agora, com a notícia negativa, nossa renda está comprometida ”, disse João Rocha Ribeiro (49).

A poucos quilômetros do centro de Baixo Guandu, na Vila de Mascarenhas, às margens da hidrelétrica de mesmo nome, os irmãos Adroaldo Gonçalves Filho (58) e Adilson Paulo Gonçalves (54), não conseguem dormir tranquilos há quase um mês. Eles vendem peixe na Grande Vitória e não sabem como vão ficar nos próximos dois meses. “Eu tinha expectativas de pescar bastante peixe ano que vem. Não tenho mais sossego e vivo pensando na possibilidade de outra barragem estourar ”, diz Adilson.

Na ocasião desta reportagem, os trabalhadores ainda não haviam recebido do governo a parcela do pagamento relativa à piracema. Pescadores de Colatina e Linhares costumavam aproveitar essa época para pescar no mar, mas por causa da lama que já atingiu o litoral, a pesca no oceano também está proibida.

No último dia 11, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo- MPES obrigou a Samarco a conceder aos trabalhadores um auxílio-subsistência mensal no valor de um salário mínimo (R$ 788,00). Caso não cumpra as obrigações firmadas no termo, a Samarco ficará sujeita ao pagamento de multa diária de R$ 1 milhão.






‘A fauna aquática vai se recuperar’, afirma pesquisador

As imagens de centenas de peixes mortos às margens do Rio Doce ou de cardumes boiando talvez sejam as mais lembradas pelos brasileiros que acompanham o drama do Rio Doce. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis- Ibama, mais de duas toneladas de peixes mortos foram recolhidas só no Espírito Santo. A boa notícia é que a fauna aquática vai se recuperar, só não se sabe quando.

Quem garante é o professor especialista em peixes de água doce da Universidade Federal do Espírito Santo- Ufes, campus de São Mateus, Luiz Fernando Duboc. Desde 13 de novembro, ele participa de um grupo de estudos formado por pesquisadores que monitora os impactos ambientais, econômicos e sociais no Espírito Santo provenientes da tragédia ambiental. Participam mais de 70 professores e pesquisadores, entre biólogos, engenheiros ambientais, oceanógrafos, economistas, assistentes sociais, veterinários e filósofos.

Duboc analisa que muitas espécies de peixes, crustáceos e moluscos já vinham sendo devastadas antes mesmo da lama. “O surubim, por exemplo, já estava ameaçado de extinção por conta da instalação de barragens elétricas no rio. O impacto recente é bastante significativo para as espécies, porém os afluentes não morreram. Com a recuperação da Bacia do Doce, os animais certamente vão retornar. ”

A conclusão se baseia em uma experiência do professor em outra tragédia nacional, a do vazamento de 4 milhões de litros de óleo no Rio Iguaçu, no Paraná, em 2000. A fauna na bacia vem se reestabelecendo nos últimos 15 anos.

Para o especialista, no caso mineiro e capixaba, embora não seja possível calcular o déficit, as populações aquáticas diminuíram, no entanto, não vão desaparecer totalmente. “A fauna vai se recuperar, uma vez que só a calha do Rio Doce foi afetada. Só é impossível calcular o tempo. ”

Quanto à morte rápida das espécies, o professor diz que a lama diminui a disponibilidade de oxigênio na água e provavelmente ocorreu uma asfixia física nos peixes e crustáceos. No caso de contaminação dos animais por metais pesados, Duboc afirma que a morte seria mais lenta.

Outro fator que chama a atenção do especialista é o aparecimento às margens do Rio Doce de peixes exóticos mortos. “Isso revela um desequilíbrio ecológico anterior ao desastre da Samarco. Pelas imagens divulgadas, se percebem muitas espécies introduzidas no rio, que não são endêmicas. São duzentos anos de deterioração causado pela mineração, como a própria história confirma. ”

Luiz Fernando Duboc disse esperar por um planejamento eficiente para recuperar a Bacia do Rio Doce, com reflorestamento próximo às nascentes e cuidados com o lixo.

Força-tarefa para salvar peixes

O resgate de peixes do Rio Doce vem mobilizando frentes de trabalho organizadas por diferentes instituições dentro e fora do Espírito Santo. Viveiros artificiais estão recebendo os animais, mas a sua reintrodução ao habitat natural divide opiniões.

Em Linhares, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com outros órgãos e pescadores, disponibilizou nove tanques escavados na sua Fazenda Experimental para receber os peixes retirados do rio.

De acordo com a coordenadora de aquicultura e pesca do Incaper, Lucimary Ferri, o Instituto apoia toda ação que venha a minimizar os impactos que o Rio Doce está sofrendo. “Essa ação irá contribuir para que seja feito um banco genético de espécies nativas do rio. Elas serão colocadas em viveiros artificiais para, no futuro, repovoar o Doce. ”

A ação realizada na Fazenda do Incaper é capitaneada por uma empresa contratada pela Samarco, em cumprimento à condicionante ambiental exigida pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).

Em outra mobilização, pesquisadores do Instituto Chico Mendes, em Pirassununga (SP), resgataram peixes antes de serem atingidos pelos rejeitos provenientes de Mariana (MG). O objetivo é reproduzi-los em laboratório e, com isso, ajudar a recuperar a vida do rio no futuro. O salvamento ocorreu em uma usina hidrelétrica no trecho do Rio Doce que passa pelo município de Baixo Guandu.

Também participaram de operações no município, com ajuda de populares, a Associação de Pescadores de Mascarenhas, o Instituto

Tanques aerados do Ifes Itapina (Colatina).

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis- Ibama e as secretarias municipais de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Rural de Baixo Guandu.

No setor de aquicultura do campus do Instituto Federal do Espírito Santo- Ifes de Itapina, em Colatina, dois tanques emergenciais com aeradores receberam mais de 1.500 peixes resgatados do Rio Doce em Regência (Linhares). São cerca de 17 espécies, incluindo crustáceos, que estão em quarentena.

Segundo o engenheiro de pesca e coordenador do setor, José Nailton Canuto, a maior preocupação é com a nutrição dos animais, uma vez que os peixes não se adaptaram à ração. “É tudo muito recente na nossa unidade. A Prefeitura cedeu quatro bombas, e a Samarco prometeu fornecer mais equipamentos para a manutenção desses peixes. ”

O manejo dos animais e a reintegração deles ao rio também estão indefinidos. O assunto vem sendo debatido junto ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais- Cepta e ao Instituto Chico Mendes, envolvendo uma gama de especialistas, além de alunos dos Ifes de Alegre e Piúma. De acordo com Canuto, serão necessários pelo menos de cinco a sete anos de estudos.

Isso porque, apesar da aparente contribuição, o manejo das espécies encontra barreira em uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente- Conama, de 2010, que regulamenta o transporte e a criação de organismos aquáticos. Nos viveiros, o banco genético das espécies é modificado e já não condiz mais com a realidade do ecossistema anterior, podendo gerar um desequilíbrio ecológico caso os peixes e crustáceos sejam reinseridos no rio.


Canuto: preocupação com a nutrição dos peixes.

Espécies recolhidas e encaminhadas para viveiros

Lambaris, carpas, carimbas, alevinos de dourados, cumbaca (raro), cascudos endêmicos, piaus brancos, curimbas, bagre africano (raro), alevinos grandes de pacumã, alevinos de moreia, lagostas grandes e pequenas, camarões, lagostinhas, peixes-agulhas, caranguejos, traíras médias, moluscos bivalves, gastrópodes, enguias ou sarapós, pitus ou carangonços, lagostas vermelhas, cambuiti, tucunarés, alevinos de piau vermelho, lambaris, alevinos de tilápia, cascudo lixa grande, corvinas, alevinos de corvina, mandiaçus, sapateiros, óscares, mussum e tainhas.

Fotógrafo contribui para recuperar a Mata Atlântica e o Rio Doce

Inconformado com a tragédia causada pela Samarco no Rio Doce, o fotógrafo de fama internacional Sebastião Salgado chegou a se reunir com a presidente Dilma Rousseff para apresentar ideias para recuperar o rio. A entrada de Salgado nesse contexto é só mais um capítulo da história iniciada há 17 anos no quintal de casa, exatamente à margens do rio.

“Esse desastre foi terrível, mas a morte do Vale do Rio Doce começou muito antes disso. Eu venho presenciando, há décadas, essa situação. Mas estamos lutando, com projetos de recuperação ambiental para reverter isso. A maioria dos pequenos e médios rios da Bacia, com a seca deste ano, já não correram. Nós temos o Vale mais degradado do Brasil, com só 0,5% de cobertura florestal. Está morrendo numa velocidade incrível ”, disse em entrevista para um site de notícias.

Salgado é o responsável por colocar cerca de 7.500 hectares de áreas degradadas de Mata Atlântica em processo de recuperação na região do Vale do Rio Doce. Desde 1998, mais de 4,5 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica foram produzidas para reflorestar áreas desmatadas e mais de mil nascentes da importante bacia do Rio Doce estão sendo recuperadas.

Esses são alguns dos resultados obtidos pelo Instituto Terra, ONG fundada pelo fotógrafo e sua mulher, Lélia Wanick Salgado, que desenvolve projetos de recuperação e educação ambiental na cidade mineira de Aimorés, na divisa com a capixaba Baixo Guandu.

O verde da Mata Atlântica foi restabelecido numa área antes completamente degradada pelo uso inadequado dos recursos naturais. Nascentes voltaram a jorrar água e espécies da fauna brasileira, em risco de extinção, agora tem um refúgio seguro. Toda essa transformação de paisagem ocorreu em pouco mais de uma década, em uma antiga fazenda de gado transformada na Reserva Particular de Patrimônio Natura- RPPN Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra.

O instituto está perto de concluir um projeto de recuperação de Mata Atlântica que est&aac”

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