Novos produtores de cacau emergem nas Montanhas Capixabas

O casal Jean Carlos Daré (31) e Karla Zeferino (30) investiu no sonho de empreender no ramo agrícola, especificamente no Sítio Esperança, na localidade de Pedra Limpa, a 17 km do centro de Conceição do Castelo (ES), onde cultivam flores ornamentais e café e estão prestes a realizar a primeira colheita de cacau. Com visão estratégica, eles almejam atingir uma produção de 60 sacas de cacau por hectare no futuro, com um olhar tanto para a produção commodity quanto para a qualidade destinada à produção de chocolate.

Foram quatro anos de pesquisa e planejamento até o ingresso na cacauicultura. O casal começou a plantar o cacau em parceria com um proprietário de terra vizinho, mas logo decidiram focar na plantação própria devido às diferenças de modelo de produção. “A plantação era mal cuidada, sem trato cultural. Era para colher quarenta sacas, mas estava dando dez”, conta Karla.

Hoje, possuem 1 hectare com 1.200 pés de cacau plantados nos últimos dois anos no sistema a pleno sol e a 400 metros de altitude. A produção está prevista para começar em maio e se estender até setembro. Segundo os agricultores, eles são os únicos produtores de cacau que se tem notícia no município, o que lhes proporciona uma posição privilegiada no mercado local.

Para garantir o sucesso da plantação, Jean e Karla investiram em assistência técnica e em aprendizado autodidata, buscando conhecimento em vídeos para aprender a fazer a poda e contando com o apoio do Incaper. Ademais, adequaram a propriedade para a cacauicultura, implementando sistemas de irrigação específicos para as necessidades da cultura. “É um bom negócio. Por ser commodity, dá pra produzir e estocar e aguardar preço bom. E a produtividade é muito boa. A produção vai aumentando ano a ano até se estabilizar com a lavoura aos cinco anos”, avalia Jean Daré.

Além do cacau, o Sítio Esperança também se destaca na produção de flores ornamentais, com ênfase em variedades como lavanda. De acordo com Karla, o cultivo das flores foi uma expansão do negócio pioneiro com orquídeas no pós-pandemia, resultando em um aumento significativo do faturamento nos últimos meses. “Até então éramos o Orquidário Esperança, mas uma ida à Hortitec em Holambra (SP) através de uma missão do Sebrae em 2022 me abriu caminhos. Voltei com muitas ideias, participei de seminário e fiz consultoria”.

Formada em administração, Karla Zeferino trouxe uma abordagem estratégica ao negócio, buscando oportunidades de mercado e estabelecendo parcerias. Hoje, o Sítio Esperança atende especialmente revendas de plantas ornamentais com mudas de lavanda, beijo de sol, zínia, verbena, lantana e orquídeas. As duas primeiras são o carro-chefe do empreendimento. Por mês, o casal produz 3.000 mudas de lavanda, com prospecção de aumento para 5.000 a 8.000 mudas por conta do mercado em expansão.

“Quando começamos, nos chamaram de doidos por mexer com flor. O ano de 2023 foi de aprendizado, porque nem tudo ‘são flores’. Houve momentos que perdemos lotes de plantas e pensamos em desistir. Daí o negócio começou a fluir e, nos dois primeiros meses deste ano, o faturamento superou em mais que o dobro o do mesmo período no ano passado”, comemora a produtora.

Apesar dos desafios enfrentados no início da empreitada, o casal olha para o futuro com otimismo, com planos de tornar toda a propriedade de 6 alqueires produtiva e de expandir ainda mais as atividades agrícolas. “Quando eu era criança e acompanhava meus pais na produção de tomate não via o produtor rural com essa importância. É ele que mantém a cidade e, hoje, vejo merecido reconhecimento. Na roça, é muito melhor viver do que na rua. Tem coisa aqui que não troco por nada”, salienta Karla.