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Empreendedorismo

Conceição do Castelo desperta para agroturismo com rota diversificada

Em meio às montanhas e vales, uma nova era de prosperidade e desenvolvimento está se desenhando, onde o turismo rural e o agroturismo não apenas atraem visitantes em busca de experiências autênticas, como também impulsionam o progresso econômico e social do município serrano

por Leandro Fidelis

em 10/04/2024 às 5h00

8 min de leitura

Conceição do Castelo desperta para agroturismo com rota diversificada

Em conjunto com restaurantes, pousadas e outros produtores, Marilene Dariva (foto), o pai e o marido fortalecem a comunidade e criam uma rede de apoio mútuo, onde todos podem prosperar. (*Fotos: Leandro Fidelis/ Imagens com direito autoral. Proibido reprodução sem autorização)

Conceição do Castelo, nas Montanhas Capixabas, experimenta uma revolução econômica impulsionada pelo agroturismo. Conhecida por suas belezas naturais, herança histórico-cultural e tradições luso-italianas, o município despertou recentemente para uma nova realidade de empreendedorismo rural. Existem pelo menos 30 empreendimentos com vocação para o agroturismo, entre agroindústrias, restaurantes, cervejarias, charcutaria, entre outros em todo o entorno da área urbana.

Um dos principais impulsionadores desse crescimento é o Vale do Emboque, localizado na Comunidade de Monforte Frio, a cerca de 15 km da sede do município. O cenário pitoresco formado por paredões rochosos de beleza ímpar não só encanta pela paisagem bucólica, como também é ponto de referência histórica, pois recebeu expedições tropeiras através da antiga Rota Imperial. Nos últimos anos, as redes sociais e a imprensa notaram o Vale. E quem conhece o local acaba permanecendo mais tempo no município e descobrindo outras experiências no meio rural.

O apoio de instituições como os serviços Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/ES) e o Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES), a Prefeitura de Conceição do Castelo, o Sicoob e o Sicredi tem sido fundamental para o fortalecimento do empreendedorismo local, com capacitações, manutenção de infraestrutura e eventos como a Feira de Negócios (Fenecon). Promovida pela Associação Comercial e Industrial de Conceição do Castelo (Acicc), esta última se tornou uma vitrine importantíssima para os produtos e serviços locais. A segunda edição, em setembro passado, reuniu 15 mil pessoas durante quatro dias no Centro de Eventos “Sanfonão”.

“O crescimento no turismo rural e agroturismo nos últimos anos em Conceição é um fenômeno que não apenas enriquece a experiência dos visitantes, mas também impulsiona a economia local e valoriza as tradições agrícolas e culturais da região. Nesse contexto, o Sebrae/ES desempenha papel fundamental em apoiar e fortalecer as iniciativas dos empreendedores locais”, destaca a analista do Sebrae/ES e gestora do município, Luana Bellon.

Empreendimentos como a Charcutaria Bicame, os restaurantes Caminho do Vale e Santa Luzia, a Cervejaria Rústica, o Sítio MD Frutos da Terra, o Café Aroma de Colono, as coleções de orquídeas da família Zaqui, e a produção de flores, café e cacau do Sítio Esperança são apenas alguns exemplos do sucesso alcançado pelo empreendedorismo rural em Conceição do Castelo como veremos nas próximas matérias desta série.

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O prefeito de Conceição, Christiano Spadetto, afirma estar comprometido e que vai continuar apoiando e promovendo o turismo rural e o agroturismo locais, reconhecendo o papel vital que desempenham no desenvolvimento econômico e na preservação da cultura e do meio ambiente.

“Trabalhamos em estreita colaboração com empreendedores locais e organizações turísticas e culturais para garantir um crescimento sustentável e benéfico para toda a comunidade. Juntos, estamos construindo um futuro brilhante para o turismo de Conceição, onde os visitantes podem desfrutar das belezas naturais como o Vale do Emboque, das cachoeiras, da Rota imperial, além do nosso calendário cultural, com valorização das culturas luso-italiana e sertaneja, gastronomia, experiências autênticas e produtos locais de qualidade, que contribuem para o nosso progresso econômico e social”, diz.

Diversidade

Os atrativos naturais e empreendimentos estão localizados em um raio de aproximadamente 40 km, mais próximos às divisas com Castelo, Venda Nova do Imigrante e Muniz Freire. No caminho para a primeira cidade, Marilene Davel Dariva (37) é uma empreendedora determinada. A jornada da bióloga é marcada por experiências e aprendizados. Casada com Douglas Gasparetto, também com 37, gaúcho que há 15 anos encontrou no Espírito Santo sua terra de acolhimento, Marilene transformou em parada obrigatória o sítio da família, na localidade de Barro Branco, a 5 km do centro de Conceição.

Juntamente com o pai, José Gotardo Dariva, o popular “Zezinho Dariva” (80), a empreendedora absorveu desde cedo os valores do trabalho árduo e da dedicação ao campo, fundamentais para a construção da marca MD Frutos da Terra, há três anos. Mais do que uma simples propriedade agrícola, o sítio é um verdadeiro oásis de diversidade, desde produção de café arábica especial até variedades de uva de mesa e viníferas premiadas. Com técnicas inovadoras, como o consórcio de café conilon com maracujá, a família está na vanguarda da agricultura local, explorando novas possibilidades e ampliando horizontes.

Além da produção agrícola, o casal abraçou o turismo rural como uma extensão natural do empreendimento. Ao transformar uma antiga tulha em lojinha de agroturismo, os produtores oferecem aos visitantes uma experiência única de conhecer de perto a vida no campo, com degustação de vinhos e sucos de uva e colheita de frutas frescas diretamente do pé (uva, morango e, em breve, mexerica Ponkan). Com eventos sazonais, eles conseguem atrair turistas durante todo o ano, contribuindo para a economia local e para a promoção do município como destino turístico.

No ano passado, Marilene e o marido concluíram um curso técnico em fruticultura pelo Senar-ES. Eles cultivam café em uma área de 9 alqueires e têm cerca de 6 hectares dedicados aos parreirais, incluindo uma área arrendada em Vargem Alta, no Córrego do Ouro. No outro município serrano, possuem 3 ha, dos quais 2 ha estão cobertos e 1 ha é uma área aberta. Segundo Gasparetto, as áreas cobertas são projetadas para melhor receber os turistas e essa iniciativa será estendida ao Sítio MD Frutos da Terra. Nos fins de semana, os produtores se dividem para atender os visitantes interessados no agroturismo nas duas localidades.

A colheita da uva geralmente ocorre de janeiro a abril, mas neste ano terminou em março. Em relação ao suco, a família produziu 3.000 litros nesta safra, mas a maior parte da venda é da uva in natura colhida no sistema colhe-pague pelos turistas. O colhe-pague da uva é mais comum no primeiro trimestre. Mais recentemente, o sítio iniciou o sistema com morangos. A família também está participando de um projeto do Incaper para introduzir algumas variedades da fruta na região, começando com uma estufa na propriedade. De acordo com Marilene, isso os incentivou a considerar a instalação de uma segunda estufa para receber os turistas. “Nosso foco é atrair turistas o ano inteiro. Quando não tiver a uva, tem o morango, a mexerica, sempre vai ter um ciclo”, explica Marilene.

E com essa proposta, o movimento no Sítio MD Frutos da Terra só vem aumentando. Com agendamento prévio, turistas da Grande Vitória, Minas Gerais e Rio de Janeiro incluíram o destino no roteiro das Montanhas Capixabas, principalmente após a inauguração da lojinha, há cerca de dois anos. De cara, os visitantes são recebidos com fogão móvel servindo café fresco e mandioquinha frita. A propriedade recebe em média 150 turistas por fim de semana.

A visão de Marilene e Douglas vai além do sucesso individual do empreendimento. Eles acreditam no potencial de Conceição como polo de turismo rural e promovem parcerias com outros empreendimentos locais. “A gente marca com outros empreendedores para o percurso funcionar, a exemplo do Restaurante Santa Luzia, para onde os turistas seguem depois de nos visitar. Também promovemos eventos aqui, reunindo até nove agroindústrias locais de outros segmentos como cerveja, flores e artesanatos e apresentações do Grupo de Dança Imperial Português. O povo gostou bastante da ideia, mas falta mais união e acreditar. Vai ter dias com mais movimento, outros não, mas a perseverança e a união é que vão fazer a diferença no nosso turismo”, aposta Marilene Dariva.

Para Douglas Gasparetto, é necessário comunicar melhor o que Conceição do Castelo tem a oferecer. “Quando passei a viver no sítio do meu sogro, eu e minha mulher sempre pensamos em fazer alguma coisa fora da caixa, não algo sintético, mas o mais natural possível. Estamos tentando fazer a história do Zezinho e da Marilene ser recontada por várias mãos de uma forma simples, mas bem carregada. O turista vem aqui ver dança portuguesa, escutar um menino da comunidade tocar sanfona, conhecer o povo que mexe com costela suína… Isso vai só agregando e mostra que Conceição tem um potencial muito grande, mas que está adormecido ainda”.

Na lojinha da propriedade, o turista encontra sucos de uva e cafés especiais.

Jornada encantadora

“Bora” embarcar nessa viagem? De Vitória para Conceição são aproximadamente 120 km, sendo 115 km pela BR-262 até o famoso pórtico no formato de castelo, principal acesso ao município. Dali são mais 5 km pela rodovia ES-165. A dica é chegar ao centro da cidade e curtir um dos principais cartões postais: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, que data de 1754. Em 1887, a igreja recebeu a imagem da santa padroeira esculpida em cedro-do-líbano, na cidade de Douros (Portugal), trazida e doada pelo português José de Souza Pinto. Ao lado da Matriz, outro ponto turístico é o Memorial Frei Alaôr dos Santos, que abriga os restos mortais e objetos pessoais do religioso, morto em 2001, que ficou conhecido pelas sessões de cura e feitos considerados sobrenaturais. E diante das duas obras fica a praça central, bastante charmosa e arborizada, e frequentada por moradores e visitantes.

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