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Cooperativismo

Cooperativismo impulsiona produção de tilápia em Muniz Freire (ES)

Município quer se tornar um dos maiores produtores de pescado do Estado

por Leandro Fidelis

em 06/11/2023 às 0h02

8 min de leitura

Cooperativismo impulsiona produção de tilápia em Muniz Freire (ES)

Sidenir: “a piscicultura traz uma paz muito grande. Quando eu entro no barquinho, me desligo das outras coisas. Fazer parte do programa Mais Peixe é muito bom, sou grato”. (*Fotos: Leandro Fidelis/Imagens com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

Muniz Freire, no Sul do Espírito Santo, vive um impulso significativo na cadeia produtiva de piscicultura graças ao fortalecimento do cooperativismo. Através do Programa Municipal de Piscicultura, o “Mais Peixe”, e da parceria com a Cooperativa dos Empreendedores Rurais de Domingos Martins (Coopram), o município testemunha um crescimento notável na produção de tilápia. Além de impulsionar a economia local, a iniciativa promove sustentabilidade ambiental e valorização dos produtores rurais como o casal Sidenir e Lucimar, o cafeicultor Gilcimar Lopes e Leandro Pinheiro.

Lançado em 2021, o “Mais Peixe” contribui para a diversificação das propriedades rurais de Muniz Freire, incentivando a criação de tilápia como fonte de renda. Atualmente, o programa conta com 25 produtores, sendo dez cooperados à Coopram, e está aberto a novos interessados. Há demanda de pelo menos 60 produtores, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agropecuário.

Os participantes recebem capacitação e acompanhamento constante para a criação de peixes em tanques escavados ou tanques-rede, dependendo da estrutura do terreno. Além disso, o programa fornece equipamentos e auxílio na infraestrutura necessária para a criação dos peixes. Isso tem gerado impactos socioeconômicos positivos, como o aumento da renda familiar dos produtores e a geração de empregos diretos na região.

O cooperativismo é o alicerce desse avanço. No último dia 30 de junho, a reinauguração da Unidade de Beneficiamento de Tilápia, na localidade de Assunção, marcou o avanço do programa. A filetadora agora é administrada pela Coopram, com visão e compromisso, proporcionando uma gestão coletiva eficiente e estabelecendo um sistema de trabalho conjunto entre os piscicultores. Com a meta inicial de produzir 30 toneladas de tilápia por mês, sendo 10 t na forma de filé, a reabertura da unidade gerou dez postos de estímulo direto desde julho.

Com o estimulo do programa “Mais Peixe” e a gestão cooperativista da Coopram, a produção de pescado na região está em constante crescimento. A meta é aumentar a produção anual para 250 a 300 toneladas até o final de 2023, o que contribuirá para impulsionar a economia local e gerar mais empregos na cadeia produtiva. Só para se ter ideia, em 2022 a Coopram comercializou cerca de R$ 11 milhões apenas em filé de tilápia.

Renato, Schaefer e o prefeito Dito: parceria com a Coopram e apoio da Prefeitura têm sido cruciais para o sucesso do programa “Mais Peixe”.

O presidente da cooperativa, Darli José Schaefer, relembra o início da jornada em 2011. A Coopram não se limita apenas à piscicultura, atuando com mais de 40 produtos da agricultura familiar. Os três primeiros anos foram desafiadores, com a cooperativa dedicando-se a pagar as contas. No entanto, a oportunidade surgiu com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que estabeleceu a obrigação legal de adquirir pelo menos 30% dos produtos da agricultura familiar.

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“Era difícil para o produtor sozinho entregar diretamente ao comprador, daí passamos a associá-los para a cooperativa intermediar a operação. Devido ao fato de a Coopram conduzir a negociação com a emissão de uma única nota fiscal, os negócios se alavancaram em Domingos Martins. A cooperativa mostrou credibilidade e transmitiu isso aos produtores, que depois fidelizaram à Coopram”, conta Schaefer.

Hoje, 12 anos depois, a cooperativa tem um “marco bom junto aos produtores”. Ao todo são 400 cooperados, sendo metade na piscicultura. “Não consumimos toda a produção dos cooperados, mas no caso do pescado, absorvemos 100% do quadro social de Domingos Martins e de produtores aqui de Muniz Freire antes mesmo da reabertura da filetadora. Agora, queremos juntamente com a Prefeitura de Muniz Freire mobilizar os produtores locais para que consigam renda extra com o pescado. Essa é a visão da Coopram vindo para cá”, afirma o presidente, com expectativa de pelo menos cem cooperados do município sulino e região.

Schaefer enfatiza que a Coopram é uma das maiores cooperativas do Brasil formada por agricultores com foco na produção de pescado para a merenda escolar.
A chegada da Coopram não apenas beneficiará Muniz Freire, mas também impulsionará o desenvolvimento regional. O prefeito, Dito Silva, destaca que o município faz parte do Consórcio Caparaó e já possui um acordo para que outros 14 municípios se juntem, incorporando o filé da Coopram à merenda escolar.

O secretário Municipal de Desenvolvimento Agropecuário, Renato Bueno, salienta a importância do programa “Mais Peixe” ao envolver pequenos produtores e garantir a comercialização dos produtos. O programa tem o objetivo de impulsionar a piscicultura local, fornecendo suporte técnico e estrutural aos produtores, e a parceria com a Coopram dá a base necessária para a comercialização do pescado.

“É um sonho do prefeito desde que foi vereador. Quando assumiu a gestão, em 2021, todo o processo estava parado. E no primeiro ano, em função da pandemia, perdemos um ano organizando a casa. Temos três eixos na piscicultura em Muniz Freire: um da alevinagem, um dos produtores e outro da filetadora. Começamos pelo do meio, onde ouvimos as demandas, as agrupamos e incentivamos à produção do peixe. E quando questionamos: ‘vender para quem?’, procuramos a Coopram, pois sabíamos do foco de comercialização com volume razoável para a merenda escolar dentro e fora do Estado. Eles mostraram interesse e fizemos um chamamento público-privado, com a cooperativa assumindo a unidade”, explica Bueno.

O presidente da cooperativa enfatiza que a visão do programa é colocar mais dinheiro na mão do produtor, fazendo-o circular dentro do município. “Indiretamente são mais de 40 pessoas das famílias de colaboradores impactadas. A gente não precisa crescer de repente, mas devagarinho, passo a passo e focados no mercado. Assim, a cadeia da piscicultura vai se engrenando aos poucos, criando volume e rodando para frente, mas com os pés no chão”.

O secretário complementa: “O cooperativismo vai ajudar muito o município. Produtor tem ainda a cultura de produzir sem saber para onde vender. O cooperativismo vem garantir a organização deles e fomentar o comércio, porque uma andorinha sozinha não faz verão. Juntos, eles fazem volume e o poder de compra e venda fica maior. E isso vai acontecer também na cadeia do pescado”.

O prefeito Dito Silva compartilha desse entusiasmo ao ver o programa “Mais Peixe” se tornar realidade. Desde 2000, quando era vereador, ele afirma ter reconhecido o potencial do município para a piscicultura como fonte para os agricultores. Segundo Dito, Muniz Freire já tinha a infraestrutura necessária, incluindo a filetadora e um poço de alevinagem, no distrito de Itaici, que estavam parados.

“Num estudo junto a um servidor do Incaper, em 2001, verificou-se que 88% das propriedades do município davam para tanques de peixe. É mais uma fonte de renda, e temporona. Muitas vezes recomendada em uma terra onde é impossível plantar e colocar boi. A parceria com a Coopram vem fomentar essa cultura”, declara o prefeito, anunciando a ampliação do “Mais Peixe” com a reforma no poço de alevinagem em andamento. Juntamente com a filetadora, as unidades vão encurtar distâncias e baratear o custo com logística.

Para Dito, a parceria com a Coopram e o apoio da Prefeitura têm sido cruciais para o sucesso do programa. “O cooperativismo vai orientar melhor o produtor para a compra. Já se percebe esse vapor na cidade, comércio se fortalecendo, produtor querendo ficar na roça… O cooperativismo só vai somar para o nosso município”, conclui o prefeito destacando a presença de outras cooperativas, a exemplo do Sicoob, Cresol, Nater Coop e, mais recentemente, da Coocafé, em Muniz Freire.

Promovendo a sustentabilidade

O desenvolvimento da piscicultura em Muniz Freire por meio do cooperativismo está promovendo sustentabilidade ambiental. Os produtores são capacitados em práticas de produção sustentável, incluindo o manejo adequado dos tanques e a utilização responsável de insumos. Essa abordagem visa preservar os recursos naturais, como a água, e garantir a qualidade do pescado produzido, atendendo aos padrões exigidos pelos consumidores.

Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ES), o programa “Mais Peixe” garante acompanhamento técnico constante durante um ano e quatro meses. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agropecuário, por sua vez, fornece infraestrutura de maquinário próprio, para atender desde a terraplanagem e escavação dos açudes até a compra de ração para os peixes e a logística no transporte dos insumos e dos alevinos até as propriedades assistidas.

O sucesso do “Mais Peixe” não seria possível sem o apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), ressalta o prefeito. A parceria entre o município e o Estado resultou na aquisição de 40 tanques-rede para as propriedades beneficiadas pelo programa.

*LEIA A REPORTAGEM COMPLETA NA EDIÇÃO 56!

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