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Cafés especiais

Uma jornada de dedicação que culminou no brilho dos cafés do ES na SIC

A conquista do prêmio mais aguardado do ano não apenas premiou talentos individuais, mas também reconheceu o esforço coletivo das origens produtoras capixabas

por Leandro Fidelis

em 20/11/2023 às 0h00

9 min de leitura

Uma jornada de dedicação que culminou no brilho dos cafés do ES na SIC

*Fotos: Divulgação Semana Internacional do Café

No último dia 10, na cerimônia de encerramento da Semana Internacional do Café (SIC) em Belo Horizonte, os cafeicultores capixabas Deneval Vieira Júnior, de Iúna, e Wagner Gomes Lopes, de Alto Rio Novo, eternizaram seus nomes como campeões nas categorias Arábica e Canéfora, respectivamente, do concurso “Coffee of the Year” (COY 2023″. Com quase 50% dos prêmios desta edição, o Espírito Santo consolidou-se como ícone na produção de cafés especiais.

A conquista do prêmio mais aguardado do ano não apenas premiou talentos individuais, mas também reconheceu o esforço coletivo das origens produtoras capixabas (Caparaó, Conilon e Montanhas do Espírito Santo), a inovação e a paixão dos cafeicultores. O sucesso ressoa como um tributo ao compromisso contínuo com a qualidade e a excelência na produção de cafés especiais no Estado.

Deneval Júnior destaca a consistência do trabalho familiar com a qualidade ao longo dos últimos oito anos no Sítio Cordilheiras do Caparaó, localizado na Fazenda Alegria, zona rural de Iúna. “Apesar de o título sair somente neste ano, estávamos sempre buscando melhorias, estudando muito (meu pai começou em 2010 para começar a produzir cinco anos depois). E daí para frente, nunca mais paramos de estudar e sempre a aprender coisas novas”, declara.

O COY não é apenas um concurso. É um capítulo na saga do café capixaba, onde a paixão, dedicação e a inovação se misturam, criando uma história que transcende o aroma e sabor, alcançando as estrelas da excelência cafeicultora

Ele conta que a família Vieira ficou maravilhada com o concurso nacional desde a primeira vez na SIC. “A vibração da galera na hora da premiação contagia. A partir de 2017, primeiro ano que disputamos, conseguimos ficar em 9º lugar entre os dez melhores. Isso já deu uma visibilidade boa e, no ano seguinte, a gente tinha noção que a qualidade do nosso café era ainda melhor que da amostra de 2017. Aquilo ficou entalado porque achamos que seríamos campeões. Aquele café marcou a vida de muitas pessoas na época. E desde então, perseguimos o resultado deste ano”.

O cafeicultor revela os segredos do terroir “abençoado do Caparaó”, o que considera fator determinante para a região limítrofe entre Espírito Santo e Minas Gerais se destacar no COY. Desde 2014, a origem produtora acumula seis prêmios, revezando ora Espírito Santo, ora Minas no topo do pódio. A exemplo de 2022, com a vitória do município mineiro de Alto Jequitibá. “Na Feira, até alguém brincou que Deus apontou o dedo e disse: ‘Aqui serão produzidos os melhores cafés do Brasil!’. E tivemos a benção de termos nascido na região”.

Um pedaço do céu em cada xícara- Notas sensoriais raras, como de pêssego, floral, melaço e papa de milho verde tornaram a experiência do público da SIC um contato direto com o divino. Quem experimentou o café arábica campeão nas famosas garrafas térmicas do evento talvez não imaginasse a fé religiosa que move a família Vieira a trabalhar unida pelos “melhores cafés possíveis”. “Gostaria de citar a influência de Deus nas nossas vidas. Desde quando começamos, o colocamos à frente de tudo, sempre conectados com Ele, que está sempre nos ajudando e nos mostrando os caminhos para chegar aonde chegamos”, relata Deneval Júnior. (*Na foto, de novembro de 2022, a família comemorava a 10ª colocação de Valzilene Dutra Vieira, à esquerda, no COY) Para o campeão do Arábica, a junção desse terroir com a força da agricultura familiar e a união dos produtores da região também pesaram para a vitória. Deneval Júnior expressa as aspirações futuras da família Vieira. “Queremos investir mais na área de torrefação. Nossas safras de cafés verdes e crus vêm se esgotando rapidamente todos os anos, e já temos para onde vendê-los, mas queríamos investir no projeto de cafés torrados para agregar valor. Com a premiação do COY, vamos aumentar a venda dos torrados e chamar atenção ainda mais para nossa região. Antigamente, aqui neste alto de Iúna, tínhamos fama de pior café do Brasil”. (*Foto: Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibido reprodução sem autorização)

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O gerente de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) do Incaper, Fabiano Tristão, analisa que a região do Caparaó vem se empenhando num trabalho focado em levar cafés de excelência para a SIC. “Existe um trabalho intenso voltado à Indicação Geográfica (IG) o que faz toda a diferença. É uma região produtora que vem evoluindo ano a ano, muito focada na produção de cafés especiais e exóticos, com determinação, tecnologia, trabalho, inovação, e os produtores estão bem treinados. O resultado aparece”.

Do asfalto à roça e ao topo do COY 2023

O policial militar Wagner Gomes Lopes, de Alto Rio Novo, no Noroeste capixaba, desafiou as expectativas ao conquistar o campeonato na categoria Canéfora. Sua história, uma fusão audaciosa de ruralidade e urbanidade, adicionou um toque de imprevisibilidade ao enredo do COY 2023. “Não tinha vínculo com roça, vim da região metropolitana do Estado e, embora há muitos anos no interior, sempre vivi predominantemente na área urbana. O resultado foi bom para desmistificar o perfil do ganhador”, conta.

Em 2018, Wagner teve a oportunidade de adquirir um sítio, que tinha apenas pasto. Considerando a economia local, predominantemente centrada na produção de café, o neorrural optou por investir nessa cultura. O sítio, inicialmente concebido como investimento, transformou-se em um desafio estimulante para Wagner, que, apesar de não ter origens no meio agrícola, decidiu implantar a lavoura com determinação, trabalho árduo e persistência.

*Imagem: Gustavo Baxter / NITRO- Divulgação SIC

Ao longo do processo, dedicou-se a aprender, buscando informações, adotando boas práticas e colhendo os resultados positivos. “É muito difícil, mas a dedicação valeu a pena. Muitas pessoas visitavam meu sítio e notavam a mudança”, conta. Ele cita como principal incentivador o também PM e pioneiro em cafés especiais na região, Wilson Mont’mor. “Ele sempre dizia que a lavoura estava bonita, bem cuidada e desenvolvida e isso me motivava cada dia mais”.

A mostra campeã do COY provém da primeira safra de café na propriedade de Wagner Lopes. A qualidade excepcional da safra chamou a atenção de Mont’mor, que sugeriu a participação em competições de cafés especiais. Apesar do ceticismo inicial, Wagner aceitou a sugestão devido à vasta experiência de Wilson. “Tive total apoio dele com o suporte do seu despolpador, terreiro suspenso, toda a infraestrutura da produção de especiais. Eu acabava a panha às 16h, colocava no carro e ia no sítio dele despolpar, separar amostra e colocar no terreiro suspenso. Saía dez, onze horas da noite”, lembra Lopes.

O reconhecimento nacional, especialmente ao ficar entre os 30 primeiros e, posteriormente, entre os 15 finalistas com duas amostras de Alto Rio Novo, é celebrado como uma vitória significativa para Wagner e outros produtores do município, representando um divisor de águas para a região. O apoio de Rodrigo Fernandes (Incaper), que viabilizou a participação no evento internacional, contribuiu para esse sucesso.

“Este ano foi emocionante, sensação de dever cumprido e de desafio de continuar. A gente conseguiu colocar três cafés entre os 15 do ranking, quatro entre os 30, e dois entre os cinco melhores. Ganhar faz parte do processo, e a continuidade é mais trabalho por excelência. Até hoje assistindo aos vídeos a gente arrepia!”, diz o extensionista do Incaper.

Em 2018, Wagner teve a oportunidade de adquirir um sítio, que tinha apenas pasto. Considerando a economia local, predominantemente centrada na produção de café, o neorrural optou por investir nessa cultura. (*Fotos: Divulgação)

De acordo com Rodrigo, o município de Alto Rio Novo ficou com cinco finalistas no COY deste ano, sendo um na categoria Arábica. Dentre os quatro concorrentes na categoria Canéfora, dois foram os primeiros colocados do Concurso Municipal de Qualidade de Café, sendo Wagner Lopes a repetir a vitória na SIC. Além desses, Adair Batista Borges, o quinto colocado do COY, venceu o prêmio da Cooabriel.

Quem acompanhou de perto a festa alto-rio-novense foi a ex-prefeita de Alto Rio Novo (2013 e 2016) e atual secretária de Estado do Governo, Maria Emanuela Alves Pedroso. “É muito importante para Alto Rio Novo um reconhecimento como este, pois vai além do orgulho natural. Penso que abre portas para um desenvolvimento mais amplo, tendo o café como referência, de modo a potencializar o crescimento do município e da região”.

Projeto ‘Missão SIC’: o caminho para a excelência capixaba no COY 2023

Fabiano Tristão (Incaper) destaca os resultados positivos alcançados este ano, especialmente após o domínio de Rondônia no pódio do Canéfora no ano passado. O pesquisador compartilha insights sobre o projeto “Missão SIC”, uma iniciativa que envolve o Incaper, Senar-ES, Seag, Sebrae, OCB/ES e cooperativas especializadas em cafés especiais, fundamental para o destaque capixaba no COY 2023.

Tristão explica que o foco foi intensificar esforços na colheita e pós-colheita, visando orientar os cafeicultores sobre tecnologias para a produção de especiais. O trabalho abrangeu produtores de conilon em todo o Estado, com técnicos fornecendo orientações alinhadas com pesquisas, resultando na submissão de amostras à SIC. O destaque do projeto reside na disseminação de soluções tecnológicas e orientações, contribuindo para a excelência na produção de cafés especiais e o retorno do Espírito Santo ao protagonismo no prêmio.

O Sebrae/ES também desempenhou papel fundamental, oferecendo apoio significativo aos produtores capixabas vencedores, por meio de ações, capacitações e atividades. “Eles já receberam, por exemplo, consultorias sobre negócios, melhoria da produção e na gestão rural, oficina de fotografia para empreendedores, assistência técnica e empresarial no campo”, relatou a gerente da regional central do Sebrae/ES, Carla Bortolozzo Bassetti.

E esse esforço incessante dos cafeicultores capixabas não para, pois a Semana Internacional do Café 2024 já tem data: 20 a 22 de novembro, em Belo Horizonte.

Adair Batista Borges (Alto Rio Novo), o quinto colocado do COY na Categoria Canéfora, venceu o prêmio da Cooabriel.

 

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