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Anuário do Agro Capixaba

Em busca da salvação do Jupi, o abacaxi doce feito o mel

Adoção de mudas de qualidade marcam início do trabalho contra a fusariose 

por Fernanda Zandonadi

em 25/01/2024 às 14h27

4 min de leitura

Em busca da salvação do Jupi, o abacaxi doce feito o mel

Foto: jcomp no Freepik

O abacaxi capixaba, doce feito o mel, continua com uma produção estável no Espírito Santo. Em 2022, foram 2.246 hectares de área colhida, praticamente empatando com o ano anterior. Já a produção teve um aumento considerável, passando de 41.845 toneladas em 2023 para 46.270 toneladas em 2022. A alta se explica pelo rendimento médio, que passou de 18.703 quilos por hectare em 2021 para 20.601 quilos em 2022.

Os municípios maiores produtores são Marataízes, que responde por 61,24% da produção capixaba e se mantém no topo, seguido de Presidente Kennedy (28,52%), Itapemirim (6,42%), São Mateus (1,35%) e Jaguaré (1,03%). 

Diante da importância econômica do fruto, há muitas pesquisas em andamento. Segundo Luiz Flávio Vianna Silveira, professor e pesquisador do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus de Alegre, e coordenador do subprojeto de produção de mudas sadias de abacaxi do Projeto de Fortalecimento da Agricultura Capixaba (FortAC), uma grande demanda dos produtores é em relação à fusariose. 

A variedade local, tradicional, é a Jupi. E, atualmente, os produtores têm comprado mudas de outras variedades em outros Estados, especialmente da Bahia. Isso, de certa forma, descaracteriza a produção local. 

Foto: KamranAydinov no Freepik

“Os produtores gostam mais do Jupi por causa do sabor mais doce e da forma dos frutos. Além disso, estão acostumados nos tratos culturais e já têm uma gama de clientes que estão acostumados com esse tipo de fruto. Foi o Jupi que gerou a fama do abacaxi de Marataízes. Ele é o verdadeiro abacaxi de Marataízes que gerou a fama de ser doce feito o mel”. 

A busca pela salvação do abacaxi tão famoso gerou um trabalho contra a fusariose e o início disso é por meio de mudas de qualidade. Mas isso, com um manejo cuidadoso. “O Jupi não consegue mais ter mudas tradicionais, do campo, da produção, pois as áreas estão altamente infestadas pela doença. Estamos utilizando, junto aos produtores, uma metodologia de seccionamento de caule. Então, não é mais a muda tradicional, mas o uso de uma técnica mais elaborada, que exige capacitação”, conta o pesquisador. 

Tudo começa no pós-colheita. As plantas são retiradas inteiras, inclusive com a coroa. Os frutos são vendidos e as plantas visualmente sadias, sem sintomas de fusariose, têm os caules cortados ao meio, verticalmente. Essas sessões são plantadas em viveiros, onde as gemas viram brotos, que vão para um berçário com muito substrato para, depois, serem novamente plantadas. 

“Hoje estamos com 25 mil mudas prontas para serem distribuídas para os produtores de Marataízes. Eles, que são parceiros, poderão replicar a experiência e repassar novas mudas para outros produtores e replicando a tecnologia de seccionamento do caule”, conta.

Essa foi a melhor forma de lutar contra o fungo, já que não há hoje, no mercado, plantas resistentes à doença. “Mas retirando as plantas infectadas das plantações vai gerar uma nova plantação com menos incidência. Isso vai fazer com que o Jupi não desapareça dos campos. Estamos lidando com uma doença séria, que pode gerar perdas de até 80% das lavouras que não forem bem cuidadas”.

A luta, no entanto, não está vencida, já que a fusariose pode ficar no solo. “Por isso, é preciso associar vários métodos de manejo. Mudas limpas vindas do viveiro produtor e controle químico de forma racional e segura. É preciso manter um calendário de pulverização para manter a incidência no mínimo. Isso pode não eliminar a fusariose, mas é uma forma de aumentar a produtividade”, finaliza.

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