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Pecuária

Um ano desafiador para a pecuária capixaba

por Rosimeri Ronquetti

em 05/04/2024 às 5h00

5 min de leitura

Um ano desafiador para a pecuária capixaba

Foto: divulgação/PMJN

A realidade da pecuária leiteira no Espírito Santo não é muito diferente do restante do país, especialmente quando se trata do preço do leite pago aos produtores. Para se ter uma ideia da defasagem no valor, em novembro do ano passado, produtores do extremo norte do Estado recebiam R$ 3,20 pelo litro do produto. Este ano estão recebendo R$ 1,75, uma diferença de R$ 1,45. No Sul do Estado o valor está um pouco melhor, em média, R$ 1,99.  

Mas esse não é o único problema enfrentado pelo setor. Com um longo período de estiagem, os pecuaristas sofrem ainda com a falta de alimento para os animais. Falta de mão de obra e rotina exaustiva de trabalho também fazem parte dessa lista. 

É o que explica o extensionista rural do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), de Mucurici, Felipe Lopes Neves. “Hoje o principal problema dos produtores é o déficit de volumoso, falta comida para os animais. Os custos estão elevados e, em termos gerais, a pecuária está com uma mão de obra envelhecida. Além disso, o leite é uma atividade laboriosa, que dá bastante trabalho, é muita rotina. Mesmo quem tem ordenha é todo dia, sábado, domingo e feriado, quatro, cinco, seis horas da manhã”, pontua Felipe. 

A observação do especialista é sentida na prática pelo pecuarista Juvenilson Rodrigues de Sousa sente na prática. Médio produtor de Mucurici, a pecuária é uma tradição da família desde 1960. “Já acompanhei outras épocas de desafios, mas essa é a pior. Uma receita que ninguém passou ainda. Preço baixo do leite e também dos animais, e falta de alimento. Desvalorizou toda a cadeia. Primeira vez que vejo uma arroba de boi, vaca e bezerro ser vendida pelo mesmo valor. As contas não fecham. Antes, na entressafra, quando diminuía a produção de leite, a gente vendia um animal e cobria as contas. Hoje temos para vender e não conseguimos”, disse Juvenilson, que tira em média 1.220 litros de leite diariamente.

Com base em cinco eixos, tendo como foco a sustentabilidade e a agregação de valor, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) lançou, em agosto deste ano, o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia do Leite no Espírito Santo. O programa conta com 17 projetos que serão trabalhados dentro dos cinco eixos. 

O secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, se diz confiante quanto à recuperação do setor, porém, explica que, para isso, o produtor precisa se profissionalizar. “Nós estamos com muitas ações em curso, mas é fundamental que o produtor entenda que precisa alimentar o seu rebanho. Vacas deficientes de nutrição não entram no cio e têm intervalo entre partos muito grande. O pecuarista sabe que no Espírito Santo, de abril a setembro não chove, com isso não tem capim. Quem não produz alimento no período de chuva vai ter problema. Vamos dar todas as condições, mas o pecuarista precisa entender que a pecuária é um negócio e é necessário fazer o dever de casa”, disse Bergoli. 

Ainda de acordo com o secretário, várias das ações propostas no projeto já estão em andamento. “O projeto foi lançado no final de agosto e já foram iniciadas diversas ações. Destaco a capacitação dos profissionais do Incaper, Senar, cooperativas de leite que prestam assistência técnica, uma forma de fortalecer a capacidade dos profissionais que atendem os pecuaristas. Distribuição de quase três mil doses de sêmen para melhorar a produção genética do rebanho leiteiro e o recadastramento de todos os núcleos de inseminação artificial do Estado”, pontua Enio. 

Sobre a falta de sucessão familiar, uma das realidades vividas pelos produtores do setor, algumas ações já foram tomadas, conforme o secretário. Entre elas, a assinatura de um convênio para capacitação de professores das escolas rurais do Mepes, para reforçar a formação dos alunos, e a distribuição de máquinas e equipamentos, como forma de capacitar melhor os jovens que passam por essas instituições. 

Pequenos produtores se unem em busca de melhorias

Há sete anos, cerca de 20 pecuaristas da agricultura familiar de Ponto Belo e Mucurici, municípios que têm na pecuária o carro-chefe de suas economias, resolveram se unir em busca de melhores condições para o setor. Eles criaram a Associação de Pequenos e Médios Produtores da Agricultura Familiar do Córrego do Lajeado (Apralej). O objetivo, segundo Marcelo Fonseca Leite, presidente da associação, é ganhar força para aquisição de implementos para produção de alimentos para as vacas leiteiras. 

“Criamos a associação para unir forças aqui na nossa região para conseguir meios de produzir alimentos para os animais, como um trator que já adquirimos, e futuramente pretendemos adquirir uma ensiladeira. Já tem alguns produtores mexendo com silagem de milho, e uma ensiladeira vai ajudar demais, porque o nosso maior problema aqui é fazer comida para a vaca”, explica Marcelo.  

A associação participa do projeto Bovinocultura Sustentável, do Governo do Estado. O programa repassa doses de sêmens de touros com aptidão leiteira para os produtores. Dez produtores foram beneficiados. 

Pecuária em números

Metade dos municípios capixabas têm mais bois que habitantes, segundo dados da Pesquisa de Pecuária Municipal (PPM) de 2020, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Mucurici, por exemplo, há 15 cabeças de gado para cada habitante. 

Ecoporanga, também na região Noroeste, é o município com o maior número de vacas ordenhadas em 2022, 18.778 no total. Em seguida vem Barra de São Francisco, também no Noroeste, com 10.675 vacas ordenhadas, e Alegre, no Sul capixaba, com 10. 466 animais. 

Já na produção de leite os municípios com maior representatividade são Ecoporanga, com 23.500 litros, o que representa 6,81% de toda produção do Estado, seguido por Mucurici, com 15. 957, 4,62% e Nova Venécia, com 13.373. As informações foram elaboradas pela Conexão Safra, a partir de dados originais do IBGE-PPM de 2022.

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