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Agronegócio

Agro na estrada: os desafios da segurança de cargas valiosas

Segundo o Relatório Anual de Roubo de Carga, da Overhaul, em 2023 foram 17.108 ocorrências no Brasil, um aumento de 4,8% em relação a 2022

por Fernanda Zandonadi e Leandro Fidelis

em 26/04/2024 às 5h00

7 min de leitura

Agro na estrada: os desafios da segurança de cargas valiosas

*Foto: Pexels

A agropecuária é a indústria a céu aberto, sujeita às intempéries, pragas e oscilações de preços no mercado. Há ainda a preocupação dos produtores com acidentes e roubos das cargas que pegam a estrada para chegar aos consumidores. Não é para menos: segundo o Relatório Anual de Roubo de Carga, da Overhaul, em 2023 foram 17.108 ocorrências no Brasil, um aumento de 4,8% em relação a 2022. E o Sudeste é a região onde se concentram os roubos, com 76% dos casos.

As cargas mais visadas pelos criminosos são as diversificadas, ou seja, carregamentos compostos por diferentes tipos de produtos em um mesmo caminhão. Em segundo lugar estão as cargas de tabaco. O agronegócio entra na estatística de forma preocupante. A categoria de Alimentos e Bebidas ficou em terceiro lugar na lista, respondendo por 8% das ocorrências.

Com foco no bem-estar dos motoristas e na segurança das cargas, as cooperativas têm feito o dever de casa e andam de mãos dadas com as seguradoras. O presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros de São Gabriel da Palha (Coopcam), Advaldo Zotelle, conta que a principal carga valiosa transportada pelo grupo é o café.

“Ele representa 90% das mercadorias transportadas por aqui. O nosso maior desafio é a falta de segurança nas estradas, pois o roubo de cargas é sempre uma preocupação. Esse receio não se limita apenas ao roubo, mas também a acidentes e tombamento dos veículos, momento em que pode ocorrer o saque da carga. Ocorre também de o veículo quebrar em local sem segurança, ocasionando abordagem e roubos. Esses fatores geram grandes prejuízos aos motoristas e, consequentemente, às transportadoras”, explica.

Zotelle conta que, além do seguro da carga, uma das medidas de segurança que adotaram é o sistema de rastreamento de veículos. A empresa contratada acompanha desde o embarque até o desembarque da mercadoria. Com esse olhar minucioso, o grupo de segurança monitora possíveis casos de suspeita de roubo ou quando o veículo tem uma pane nas estradas. “Em casos assim, é enviada uma equipe de resposta ao motorista, o que gera mais segurança para o profissional e também evita o possível saque das mercadorias”, avalia.

Todo esse trabalho de acompanhamento da viagem também é assistido pela equipe de logística da cooperativa, que dá todo o suporte ao motorista quanto às condições adversas, como as rotas de viagens, possíveis desvios devido à quedas de barreiras, alagamento e outros.

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“Nosso acompanhamento ocorre 24 horas por dia, dando ao motorista um pouco mais de confiança ao transportar mercadorias de alto valor. Devemos ter sempre a precaução e nos mantermos alerta e passamos informações diariamente de áreas de risco de roubo e pernoite. Dessa forma, tentamos evitar ao máximo transtornos ao motorista, que é nosso maior bem, e evitar possíveis prejuízos”.

Advaldo Zotelle é presidente da Coopcam. (*Foto: Divulgação)

A preocupação e o cuidado são válidos e ganham força com planejamento. O gerente de Intercooperação de Transportes da Nater Coop, Raul Bento Vieira, explica que o agro encontra, em sua cadeia produtiva, muitas variáveis, portanto, as operações de seguro não são feitas de forma linear.

“É necessária uma análise mais profunda do período, oscilação de valores e cláusulas de seguro. O transportador precisa estar atento e ter um conhecimento bem profundo de todos os pontos para que não haja riscos de achar que uma carga está assegurada quando na verdade ela está em desacordo com algum ponto”.

Vieira salienta que, no caso da cooperativa, nenhuma carga de valor sai sem seguro dos galpões. “Nós nos esforçamos para que todas as cláusulas da apólice vigente sejam seguidas. Além disso, analisamos muito bem nossos transportadores terceirizados e, em alguns casos, nossos caminhões têm locais fixos para possíveis paradas e pernoites”.

Motorista de carreta por muitos anos, José Luiz Mareto, que atualmente trabalha como mecânico, teve uma experiência traumática em 2018. Acostumado a transportar grãos de milhos do Centro-Oeste para o Espírito Santo, ele conta que foi assaltado e ficou cinco horas como refém dos criminosos. O caso aconteceu na região da Zona da Mata mineira, entre as localidades de Rio Casca e Manhuaçu. O trecho de 120 quilômetros, segundo ele, já era bem conhecido dos caminhoneiros, que alertavam para o crescente número de roubo a cargas, especialmente as de milho.

*Fonte: Brasil T1-2023 Relatório de Roubo de Carga/Overhaul

“Naquela região existiam muitas granjas e ficava fácil desovar uma carreta carregada. Eu vinha com uma carga de Silvânia, em Goiás, para Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, quando parei próximo a um posto de gasolina para descansar. Eram cinco horas da manhã, levantei para lavar o rosto e seguir viagem. Assim que desci do caminhão, no entanto, três homens armados e encapuzados me renderam. Nunca vou esquecer a data: 8 de março de 2018. Eles entraram no caminhão e me levaram junto. Fiquei com uma arma apontada para mim até às 10h10. Ele descarregaram quase 40 toneladas de milho do caminhão e, depois, levaram o veículo e a mim para outro lugar e disseram que eu podia ir embora. Foi um prejuízo grande para o dono da carga, que não tinha seguro. Apenas a carreta era segurada”, conta.

Mareto conta que é comum, na região, a carga ficar por conta e risco do embarcador e o veículo ser responsabilidade do proprietário. “Eu corro o risco do transporte e ele, o da carga. Sempre tive seguro dos meus caminhões, eu tinha quatro. Não tem como rodar sem seguro. Mas os donos das mercadorias nem sempre fazem, já que muitas vezes puxamos direto com o produtor, que opta por correr o risco por conta do aumento de custos”, explica.

*Fotos: Leandro Fidelis/Conexão Safra

Recomendações de segurança

O famoso ditado “o barato sai caro” pode ser perfeitamente aplicado no transporte de cargas no Brasil. O Centro de Inteligência da Overhaul considera o risco do Brasil como severo, por conta da expansão territorial e a especialização, por parte de facções criminosas, em roubos de cargas.

Monitoramento e prevenção, segundo o estudo, são fundamentais e, entre as recomendações do grupo estão evitar paradas em postos de serviços sem segurança, com pouca iluminação, sem sistemas de câmeras ou vigias.

Além disso, os motoristas devem seguir rotas pré-definidas e paradas previamente planejadas, as organizações responsáveis por fretes devem aprimorar o uso da tecnologia a bordo de seus veículos e trabalhar com profissionais especializados na gestão de riscos da cadeia de suprimentos.

“É de extrema importância que as medidas de segurança sejam adotadas não só pelos transportadores e embarcadores, mas também pelos motoristas e seus auxiliares que, muitas vezes, se encontram em posições mais vulneráveis em seu dia a dia nas estradas”, recomendam.

*Fonte: Brasil T1-2023 Relatório de Roubo de Carga/Overhaul

A indústria a céu aberto

A segurança no transporte é apenas parte da desafiadora equação agrícola que coloca os alimentos nas nossas mesas. O aumento de incêndios em zonas agrícolas tiveram aumento de quase 45% entre 2017 e 2020, segundo mapeamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 2020, os eventos climáticos mais citados pelas administrações locais foram as queimadas, com 49,4%. No outro extremo, cerca de 7,8 milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas no Brasil até junho de 2022, o que representa um aumento de 57% dos óbitos em comparação a 2021.

Além dos revezes climáticos, o aumento da inflação e um cenário econômico instável criam a tempestade perfeita para que despesas e custos para revitalizar os bens e patrimônios agrícolas tornem-se cada vez mais proibitivos.

De acordo com a corretora de seguros Elan Caliman buscar segurança é a saída mais do que recomendável nesse cenário. “O seguro respeita as características de cada cultura, assegurando que o agricultor proteja sua produção desde o início de sua atividade, seja no financiamento, plantação ou colheita”, recomenda.

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