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Agro Rio de Janeiro

Produção de caquis no Rio de Janeiro aumenta ano após ano

Produtores tradicionais ampliaram suas lavouras e novos empreendedores veem na cultura uma nova alternativa de renda

por Fernanda Zandonadi

em 15/08/2022 às 9h49

6 min de leitura

Produção de caquis no Rio de Janeiro aumenta ano após ano

Foto: arquivo/Conexão Safra

A produção de caquis no Estado do Rio de Janeiro aumenta ano após ano, passando de 9,7 mil toneladas em 2016 para 15,5 mil toneladas em 2020. Há um crescente aumento da área colhida que, de 520 hectares em 2016 passou para 648 hectares. Os municípios mais representativos são São José do Vale do Rio Preto, que responde por 39,65% do que sai das lavouras, seguido de Sumidouro (23,27%), Nova Friburgo (9,28%) e Trajano de Moraes (6,74%). 

“De forma geral, os produtores tradicionais de caqui estão ampliando suas lavouras e novos empreendedores estão vislumbrando na cultura uma alternativa a outras atividades desenvolvidas até então, como a olericultura (produção de legumes e verduras). Essa mudança pode ser entendida pela conjunção de fatores que favorecem o cultivo de caquis em relação a outras culturas, como custos de produção relativamente baixos, produtividade satisfatória, preços de comercialização compensadores, longevidade de produção, possibilidade de utilização de manejo menos agressivo ao meio ambiente e adaptabilidade ao sistema de produção da agricultura familiar”, explica Alexandre Jacintho Teixeira, engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater-Rio e gerente técnico regional Serrano.

Teixeira explica que a cultura do caqui vem sendo trabalhada há décadas pela pesquisa e pela assistência técnica e extensão rural oficiais do Estado do Rio de Janeiro, contando também com o apoio da Embrapa, do Sebrae e do Senar, dentre outros. “Encontros técnicos, excursões e intercâmbios são metodologias frequentemente utilizadas nos processos de difusão de conhecimentos e tecnologias e discussão dos problemas inerentes ao processo produtivo. As ações são continuadas, principalmente por meio do aprimoramento do manejo cultural e dos processos de colheita e pós-colheita, e da diversificação dos canais de comercialização”. 

No caso da comercialização, continua, destaca-se principalmente o crescente acesso dos produtores de caqui aos mercados institucionais, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). “É uma fruta produzida com o status de cadeia produtiva. Em termos de novas variedades, pesquisas continuam a ser feitas, mas as tradicionais (Rama-Forte, Mikado, Giombo e Fuyu) ainda dominam a preferência de produtores e consumidores”.

Fruta delicada, o caqui precisa de manejo adequado para chegar ao consumidor final com doçura e sem problemas. “O mercado do caqui está cada vez mais competitivo. A fruta tem de ter sabor, padrão e aparência para ser preferida pelos consumidores. Isso tudo, associado a preços acessíveis. Portanto, trabalhamos na conscientização sobre a necessidade de obtenção de frutas limpas de pragas, doenças e injúrias mecânicas, colhidas no ponto ideal de maturação, padronizadas, classificadas, destanizadas (sem cica), embaladas, transportadas e comercializadas adequadamente, de modo que as perdas sejam mínimas e o produto chegue à mesa do consumidor com todas as suas qualidades preservadas”.

A produção estadual, ainda assim, não dá conta de atender à demanda interna e parte da demanda é importada de São Paulo e Minas Gerais. “Esporadicamente, nossos caquis são comercializados para Estados do Nordeste brasileiro, como a Bahia. De fato, ainda há bastante espaço para o aumento da produção da fruta no Estado, principalmente se conseguirmos conduzir a colheita para fora do período de pico de safra, que engloba os meses de março, abril e maio. Caquis produzidos com qualidade em janeiro, fevereiro, junho e julho terão maiores possibilidades de serem exportados para outros Estados, além de prolongarem internamente o período de safra e aumentarem o consumo da fruta pela população fluminense”.

Qualidade desde o berço

A qualidade das mudas é o primeiro passo para frutos de qualidade. Segundo Teixeira, é sempre recomendado aos produtores que busquem mudas com viveiristas idôneos, com registros e certificados fornecidos por órgãos competentes. Assim, explica, são garantidas a genética das variedades, a qualidade dos porta-enxertos (“cavalos”) e dos métodos de enxertia e a boa fitossanidade das mudas. Atualmente, em função da inexistência de produtores de mudas em terras fluminenses, elas são importadas de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Anuário Rio de Janeiro caqui

Foto: arquivo/Conexão Safra

A cultura do caquizeiro é inerente à agricultura familiar, explica Teixeira, e às pequenas propriedades, apesar de existirem cultivos maiores onde há a necessidade de contratação de funcionários fixos e de certo nível de mecanização. 

“Como parâmetro, mas não como regra, uma família composta de um casal e dois jovens têm a capacidade de gerir, em todos os aspectos do sistema produtivo, sem mecanização, um hectare de plantas de caqui, o que corresponde a aproximadamente 400 pés da fruta. Lembrando que poderão existir outras atividades associadas, mas não mais importantes, como a olericultura. Acima disso, trabalhadores eventuais deverão ser contratados, principalmente nas épocas de poda e colheita, onde a demanda pelos serviços manuais aumenta consideravelmente.”

Há ainda o fato de a cultura ser mais do que um agregador de renda, destaca Teixeira. Há décadas, principalmente na Região Serrana Fluminense, o caqui era uma cultura complementar aos cultivos de olerícolas e flores de corte, ou seja, não era o carro-chefe das propriedades. Com o passar dos anos, no entanto, a instabilidade nos preços de legumes, verduras e flores cortadas, o aumento dos custos de produção dessas culturas e alguns insucessos, especialmente em função de fatores climáticos adversos, fizeram com que os produtores passassem a dar especial atenção à fruta. 

“Atualmente, pelo equilíbrio na agregação de renda ao sistema produtivo, muitos produtores rurais vivem quase que exclusivamente do cultivo de caquis, o que mostra uma reversão do quadro existente no passado. Logicamente, não estimulamos a transformação do caqui, ou de outra fruta, em monocultura. Porém, enfatizamos sempre que, se a cultura for trabalhada dentro dos padrões tecnológicos preconizados, as possibilidades de sucesso e de retorno do investimento serão satisfatórias”, finaliza.

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