Mais lidas 🔥

Na Vila Batista
Vila Velha certifica sua primeira agroindústria de mel

Mercado
Preços do mamão formosa sobem com oferta menor nas principais regiões

Reconhecimento nacional!
Conexão Safra vence o Prêmio Ibá de Jornalismo 2025

De quarta para quinta
Veja as 55 cidades capixabas que estão sob alerta vermelho para temporais

Previsão do tempo
Instabilidade perde força no ES, mas sábado segue com nuvens e chuva fraca

Paula Cristiane Oliveira Braz*
O tarifaço de 50 % imposto pelo presidente Donald Trump sobre importações brasileiras, válido a partir de agosto de 2025, revela que a política comercial dos Estados Unidos passou a ser conduzida menos por fundamentos econômicos e mais por motivações de ordem política. Embora o discurso oficial alegue a necessidade de proteger a indústria nacional, é evidente que a medida consiste numa retaliação à mudança de direção diplomática do governo Lula e às investigações envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Tal iniciativa tem impactos imediatos sobre o comércio exterior brasileiro, ao mesmo tempo em que expõe fragilidades da nova estratégia protecionista norte-americana.
Apesar do caráter abrangente das sobretaxas, o governo Trump decidiu excluir determinados produtos considerados estratégicos para o funcionamento de cadeias produtivas internas dos Estados Unidos. Permaneceram isentos da sobretaxa o suco de laranja, fertilizantes, celulose, cobre refinado e aeronaves produzidas pela Embraer. Essa seleção não foi aleatória: o Brasil é o principal fornecedor global de suco de laranja, imprescindível para o mercado norte-americano, sobretudo diante da crise fitossanitária que afeta pomares da Flórida.
De igual modo, fertilizantes exportados pelo Brasil são utilizados em larga escala no cinturão agrícola norte-americano e, se taxados, poderiam gerar aumento de custos e inflação. A celulose brasileira sustenta o pujante setor de embalagens estadunidense, diretamente ligado ao comércio eletrônico. No que diz respeito às aeronaves regionais, companhias como SkyWest e Republic Airways pressionaram o governo norte-americano para manter as importações da Embraer.
Setores brasileiros como carne bovina, frutas, etanol e café foram severamente atingidos. O banco JP Morgan estima que a tarifa efetiva média aplicada sobre esses produtos pode alcançar 32,7 %, com potencial de reduzir o crescimento do PIB brasileiro em 0,6 ponto percentual em 2025. O café, responsável por movimentar cerca de US$ 4,4 bilhões por ano nas exportações para os Estados Unidos, chegou a ser afetado inicialmente, gerando insegurança contratual mesmo após sua exclusão posterior do decreto tarifário. Pequenos e médios produtores rurais são os mais vulneráveis, dada sua forte dependência do mercado norte-americano.
Em resposta, o governo brasileiro optou por encaminhar um pedido de arbitragem à Organização Mundial do Comércio e anunciou medidas de apoio financeiro para mitigar perdas setoriais. A Lei de Reciprocidade Comercial nº 15.122/2025 autoriza o Brasil a adotar contramedidas, contudo o Executivo decidiu agir com cautela para evitar escaladas que possam prejudicar outros segmentos do agronegócio. É importante destacar que, em 2024, os Estados Unidos registraram superávit superior a US$ 7 bilhões na balança bilateral com o Brasil, o que enfraquece o argumento de proteção econômica utilizado por Trump.
No plano internacional, a medida vem sendo severamente criticada. O Financial Times alertou para os riscos de desestabilização do sistema multilateral de comércio, enquanto o New Yorker classificou o tarifaço como um ato movido por ressentimento político, com potencial de corroer normas internacionais. O índice DXY (que mede o valor do dólar americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras) de confiança dos investidores, por sua vez, recuou para 3,7 logo após o anúncio, sinalizando o aumento da percepção de risco.
Mais do que um revés conjuntural, o episódio evidencia a condição de vulnerabilidade de economias exportadoras excessivamente concentradas em poucos parceiros. Para o Brasil, impõe-se a necessidade de acelerar a diversificação de mercados, fortalecer o BRICS, ampliar o valor agregado de suas exportações e intensificar sua autonomia tecnológica. Em um cenário de diplomacia volátil, sobreviverão aqueles países capazes de negociar a partir da robustez — e não da dependência.
*Paula Cristiane Oliveira Braz é Administradora, especialista em Agronegócios e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional UNINTER




