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Olivicultura

Tradição, qualidade e turismo impulsionam a olivicultura paulista

As fazendas produtoras de azeite de São Paulo estão desempenhando papel fundamental no desenvolvimento do setor, oferecendo experiências turísticas enriquecedoras, investindo em técnicas modernas de cultivo e contribuindo para o desenvolvimento econômico dos municípios

por Leandro Fidelis

em 29/03/2024 às 5h51

24 min de leitura

Tradição, qualidade e turismo impulsionam a olivicultura paulista

*Foto: Divulgação Oliq

A olivicultura em São Paulo tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionada pelo interesse crescente dos consumidores por azeites de qualidade e pela busca por alternativas sustentáveis na agricultura. Diversas iniciativas têm surgido no Estado, visando não apenas a produção de azeites de alta qualidade, mas também o desenvolvimento do turismo rural e a valorização da cultura do azeite.

Em todo o Estado, existem aproximadamente 90 produtores em 60 municípios. “Mesmo com uma produção ainda tímida, temos diversos prêmios conquistados no exterior, com agricultores que utilizam as melhores práticas para a produção de azeites especiais com grande qualidade e saudabilidade”, destaca Patricia Galasini, presidente da Câmara Setorial de Olivicultura, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

Entre as iniciativas, destacam-se fazendas e empreendimentos que oferecem experiências de olivoturismo, permitindo aos visitantes conhecerem de perto todo o processo de produção do azeite, desde o cultivo das oliveiras até a extração e o envase do óleo. As visitas são guiadas e proporcionam oportunidade única para os amantes da gastronomia e da natureza mergulharem no mundo da olivicultura, aprendendo sobre as técnicas de cultivo, os diferentes tipos de azeites e as características sensoriais de cada produto.

Um exemplo é a Fazenda Irarema, situada nas montanhas da Serra da Mantiqueira, com parte em São Sebastião da Grama e outra no município limítrofe de Poços de Caldas (MG). O local oferece uma experiência completa aos visitantes. Com área total de 650 hectares, dos quais 80 ha são dedicados exclusivamente à olivicultura, a propriedade combina tradição com agricultura sustentável.

Da família de proprietários, Moacir Carvalho Dias, conta que a Irarema tinha foco inicial na cafeicultura em 120 ha da terra. No entanto, diante da crescente demanda e do potencial da olivicultura na região, decidiu direcionar os esforços para a produção de azeites. Foram 11 mil litros no ano passado. “Nossos principais clientes são redes de supermercados, empórios e restaurantes, que valorizam a qualidade e autenticidade dos nossos produtos”, destaca.

As operações da Fazenda Irarema são pautadas em base familiar, com Moacir, as irmãs e os pais, Mônica e Maurício, dedicados aos processos de cultivo, produção, distribuição e crescimento da propriedade. Desde o cultivo das oliveiras até a produção do azeite, cada membro da família desempenha um papel, contribuindo para o sucesso, ampliação e a prosperidade dos negócios.

As operações da Fazenda Irarema são pautadas em base familiar, com Moacir (E), as irmãs e os pais, Mônica e Maurício (D), dedicados aos processos de cultivo, produção, distribuição e crescimento da propriedade. (*Fotos: Daniel Reche)

“Meu pai sempre valorizou nossa tradição e quer nos deixar um legado. E ele conseguiu isso através das oliveiras, que são árvores que, uma vez plantadas, sempre estarão por aqui. Buscamos valorizar seu desejo e continuamente a inovação para garantir a excelência na produção e a adaptabilidade, sem perder a essência rural, tão importante na nossa família”.

Ao proporcionar fonte de renda adicional e promover o turismo rural, a Fazenda Irarema ajuda a impulsionar a economia da região e a diversificar a agricultura local

Na experiência em olivoturismo, os visitantes também conhecem o segredo dos azeites premiados da Fazenda Irarema. “Nosso compromisso em aproximar o público da nossa herança e do processo de produção dos azeites é evidente em nossas atividades e tours específicos”. Para atender às expectativas dos visitantes em busca de contato com a natureza e autenticidade cultural, a fazenda oferece tours guiados pelas plantações de oliveiras e proporciona degustações sensoriais dos azeites, quando podem explorar uma variedade de sabores e aprender sobre as nuances e características de cada produto.

Moacir ressalta o compromisso com a excelência na produção de azeites extravirgens, reconhecida através de diversos prêmios que refletem “a dedicação e a qualidade dos produtos”. Entre eles, a participação na “NY World Olive Oil Competition 2018”, concurso internacional de azeite de Nova York, com o prêmio de Melhor Azeite do Mundo, além da medalha de ouro, em 2023, na “EVO IOOC”, a “Internacional Oil Competition”, na Itália.

“A conquista representa não apenas um reconhecimento do nosso trabalho árduo, mas também uma validação da qualidade excepcional dos nossos extravirgens. Nosso sucesso em competições nacionais e internacionais é resultado de um conjunto de práticas e técnicas cuidadosamente selecionadas, visando garantir a máxima qualidade e saudabilidade de nossos produtos”, salienta.

A família está sempre atenta às demandas do mercado e às preferências dos consumidores. Para isso, mantém diálogo aberto com os clientes e visitantes para entender suas necessidades e expectativas. “E estamos constantemente inovando em termos de embalagens, marketing e variedades de produtos para atender às suas demandas em constante evolução”.

E a Fazenda Iracema está empenhada em expandir e aprimorar a vertente turística na propriedade, visando proporcionar experiências ainda mais memoráveis. A matriarca Mônica Dias, por exemplo, está à frente de uma saboaria, onde fabrica sabonetes e velas artesanais, utilizando ingredientes naturais e ainda os próprios azeites da fazenda. “A iniciativa tem sido muito bem recebida pelos visitantes, agregando um toque único e aromático à sua experiência”, destaca Moacir.

Além disso, a irmã Gabriela lidera o setor de gastronomia do empreendimento. Recentemente, ela inaugurou uma gelateria, pautada na produção de gelatos naturais, com o uso dos produtos orgânicos cultivados na fazenda, desde o leite até a fruta utilizada. Alguns deles também levam na composição os azeites Iracema. E para uma experiência mais imersiva, a Fazenda Iracema oferece passeios a cavalo pela propriedade e trilhas ecológicas.

Experiências enriquecedoras

O Sempre Olivas, situado em Cunha, está redefinindo os padrões do olivoturismo e da olivicultura no Brasil. Com o primeiro lagar do município, no Vale do Paraíba, o projeto não apenas oferece uma visão completa de toda a cadeia produtiva, desde cursos de poda e adubação até degustações sensoriais guiadas, mas também se destaca por promover uma ampla variedade de azeites brasileiros, provenientes de diferentes regiões do país.

A iniciativa não só enriquece a experiência dos turistas e dos moradores locais, mas também impulsiona o reconhecimento e a valorização dos produtos nacionais, consolidando o Sempre Olivas como um ponto de referência no setor. A iniciativa é de um grupo de profissionais do mundo empresarial que uniu forças para divulgar a excelência do azeite produzido em solo brasileiro.

Com a missão de não apenas disseminar conhecimento sobre os benefícios do azeite para a saúde, mas também de enaltecer os produtores nacionais e suas diversas abordagens na produção, os sócios comercializam rótulos do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul e, em breve, da Bahia. “Fazemos degustações e apresentação de todos os azeites, para que o visitante possa realmente começar a ter conhecimento sobre os produtos nacionais”, diz Dráusio Leonardo Pereira, proprietário e sócio-administrador.

O projeto ocupa uma área de 30 mil m² com vegetação natural e eucaliptos. Mais recentemente, iniciou um pequeno parque das oliveiras, com apenas 240 plantas de seis variedades. Além dos cultivos e do lagar, conta com ponto comercial, o “Bar dos Azeites”, na altura do Km 54 da rodovia SP-171, principal eixo que liga Cunha a Paraty (RJ). É ali a vitrine dos azeites próprios e de outros produtores. “O visitante vai conhecer as diferentes oliveiras no parque e, depois, no Bar dos Azeites, degustar cada monovarietal e blends, assim levando consigo uma experiência única”, acrescenta Dráusio.

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Dentro do plano de expansão para o olivoturismo, o Sempre Olivas pretende montar estrutura com salas de aula, restaurante e terraço para o visitante apreciar a bela paisagem da Serra da Mantiqueira, bem pertinho da entrada do Parque Nacional da Bocaina, enquanto degusta os azeites. “Nosso intuito é divulgar os azeites de pequenos produtores nacionais, que não encontram com facilidade uma vitrine para expor seus ótimos produtos”.

Para Dráusio Pereira, o município de Cunha vive uma nova fase na olivicultura, com a instalação de modernos equipamentos nas propriedades, que cada dia mais visam sustentabilidade, incluindo adubação verde e produtos orgânicos. “Cunha ainda está acordando para a olivicultura. Todos os pomares têm idade entre dois e seis anos, com produções bem pequenas. Nossas propriedades são orgânicas e nossa máquina, de fabricação nacional, é totalmente limpa e higienizada a cada prensagem. Nossos produtos são colhidos à mão e trazidos em pouco tempo para serem processados”, explica.

Patricia Galasini: A Câmara Setorial de Olivicultura reconhece o potencial do olivoturismo em São Paulo como uma oportunidade única para promover a cultura da azeitona, do azeite e da gastronomia, visando impulsionar o turismo rural.

Parcerias estratégicas

A Câmara Setorial de Olivicultura reconhece o potencial do olivoturismo em São Paulo como uma oportunidade única para promover a cultura da azeitona, do azeite e da gastronomia, visando impulsionar o turismo rural.

“Fomentar essa vertente do turismo por meio de iniciativas como rotas de visitação a olivais, em algumas cidades, experiências de colheita e produção de azeite, gastronomia, além de parcerias com prefeituras, empresas locais para oferecer hospedagem e passeios temáticos. O objetivo é criar uma experiência imersiva que valorize a tradição e a qualidade dos produtos locais, gerando benefícios econômicos e culturais para a região”, destaca a presidente, Patrícia Galasini.

De acordo com Patrícia, a ideia é integrar os produtores de azeitona, o setor turístico e as autoridades locais através de diversas estratégias de divulgação dos locais e projetos turísticos. Isso inclui o desenvolvimento de roteiros turísticos que valorizem a produção de azeitona, parcerias com agências de turismo para promover pacotes especializados, e a organização de eventos e festivais temáticos. “Além disso, serão estabelecidos programas de capacitação para os produtores, visando aprimorar a oferta de experiências autênticas aos visitantes. A colaboração estreita com as autoridades locais será fundamental para garantir o apoio institucional e infraestrutural necessário para o crescimento sustentável do olivoturismo em São Paulo”.

Uma jornada sensorial em São Bento do Sapucaí

O sorvete de azeite com manjericão é uma das delícias inesperadas na fazenda que produz o premiado azeite Oliq

A Fazenda Santo Antônio do Bugre, em São Bento do Sapucaí, oferece uma experiência única para os amantes da olivicultura e olivoturismo. Com visitas guiadas de quinta à segunda-feira, em três horários distintos, os visitantes têm a oportunidade de explorar as características do olival e do processo de extração do premiado azeite Oliq.

A colheita e extração, que ocorrem apenas durante três meses no ano, são detalhadas em um vídeo informativo, complementando a experiência. Após a imersão na produção, os participantes desfrutam de uma degustação que inclui diversos tipos de azeites de oliva extravirgem, aromatizados e até mesmo de abacate, seguida por uma experiência de harmonização com diferentes alimentos. O tour dura aproximadamente 50 minutos, e as reservas de vagas são feitas pelo site.

Além das visitas à fazenda, o restaurante é um atrativo que potencializa a experiência gastronômica. Os visitantes têm a oportunidade de desfrutar de um almoço completo, além de explorar a loja com os azeites e outros produtos da fazenda. Para os que desejam apenas petiscar, há opções disponíveis, incluindo sorvetes feitos com ingredientes da própria fazenda, como o popular sorvete de azeite com manjericão.

Os primeiros plantios de oliveiras foram feitos há 14 anos. E a primeira extração ocorreu há oito anos, conta a proprietária Vera Masagão Ribeiro. “Ainda estamos na primeira geração. Muitas das orientações agronômicas que seguimos nos primeiros plantios já foram superadas e estamos corrigindo nos novos plantios. Contamos com um agrônomo altamente qualificado, que está sempre se atualizando. Procuramos utilizar técnicas agrícolas sustentáveis, assim como diversificar a produção da fazenda”, diz.

Para a olivicultora, o Brasil poderia estar melhor na busca por novas espécies de azeitona, mais adaptadas ao clima nacional e também às mudanças climáticas. No entanto, a OIiq faz o seu papel. A produção deste ano foi abundante e os azeites das melhores safras renderam prêmios, como o “Olivinus” (2022) e o “Flos Olei” (2020 e 2022).

Após a imersão na produção, os participantes desfrutam de uma degustação que inclui diversos tipos de azeites de oliva extravirgem, aromatizados e até mesmo de abacate.

Além da excelência na experiência turística, o Azeite Oliq investe fortemente no treinamento da sua equipe, enfatiza Vera Ribeiro. “Nosso principal investimento é no treinamento da equipe. Não só os guias da visita guiada (dois titulares e mais dois suplentes), mas também os atendentes do salão do restaurante, que podem transmitir informações básicas sobre nossos azeites e o modo de produção”.

Além da formação continuada, o empreendimento promove uma vez por ano treinamento com especialista em azeite convidado. “Este ano, um dos nossos guias viajará ao Chile para conhecer olivais e fazendas turísticas de oliva naquele país”.

Orfeu Azeites Especiais: excelência premiada em cada gota

Marca paulista premiadíssima é produzida na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama, empreendimento que promove o turismo rural e a valorização da cultura do azeite

Cultivados e produzidos na Fazenda Rainha, em São Sebastião do Grama, próximo ao Sul de Minas Gerais, os azeites especiais da marca Orfeu já acumulam 11 medalhas de ouro com a variedade Blend da Safra, em concursos nacionais e internacionais. Em 2023, o Orfeu foi premiado 22 vezes e considerado o 16º melhor do mundo no EVOO World Ranking. As honrarias foram conquistadas em disputas na Espanha, Noruega, Turquia, Grécia, Alemanha, Islândia, Tunísia, Estados Unidos, Israel, China, Itália, Canadá e Inglaterra, sendo este último o “London IOOC”, onde foi considerado o melhor azeite do Brasil.

A fabricação dos azeites Orfeu teve início em 2014, com a inauguração do lagar e estudos dos métodos ideais para criação de um produto com impecabilidade. Apenas quatro anos depois, em 2018, as primeiras amostras foram enviadas para concursos e, desde então, a marca passou a acumular prêmios internacionais que contemplam todos os continentes do mundo. Já são mais de 60 até agora, e o número tende a aumentar consideravelmente com a safra de 2023, apostam os produtores.

*Fotos: Divulgação

O Blend da Safra 2023 surpreende por ser um azeite extravirgem de coloração verde-escura, de picância e amargor elevado, saboroso e enriquecedor ao paladar. O engenheiro agrônomo da Orfeu, Alexandre Marchetti, destaca os principais fatores desse resultado.

“Cultivamos as oliveiras nas mesmas terras vulcânicas e com o mesmo zelo dos cafés Orfeu. O resultado desses prêmios é fruto da combinação de um terroir singular, tecnologia e do trabalho minucioso de pessoas apaixonadas pelo que fazem”.

Na Fazenda Rainha, são cultivadas, a 1.300m de altitude, as variedades Koroneiki, Arbequina, Coratina, Grappolo e Picual. Depois de quase dez anos de plantada a primeira oliveira, a marca lançou seus azeites especiais em 2020. Os produtos são elaborados em lagar próprio (oficina de produção de azeites) nas versões de Koroneiki, Coratina, Arbosana, Arbequina, Blend da Safra e lançamentos pontuais de microlotes.

Segundo Marchetti, a produção se inicia na qualidade dos frutos e no ponto de maturação perfeito das azeitonas. “A agilidade do Orfeu no processo faz com que nossos frutos cheguem no lagar com até no máximo duas horas para serem preparados para extração. Isso faz com que os frutos não oxidem, mantendo a qualidade do final do azeite”, explica. Além disso, o maquinário de ponta garante a primeira extração a frio, com temperatura da massa de 22° C. “Fazemos higienização dos maquinários todos os dias após a extração, com muito cuidado para não afetar na qualidade, e o mais importante: zelo, paixão e amor”.

Em uma área de mil hectares, 250 ha são de café, 85 ha de oliveiras, parte de pastagem e 480 ha de área de preservação. A produção na Fazenda Rainha é, em média, de 10 toneladas de azeitona com um total de 10 mil litros de azeite. Além da presença dos produtos em lojas de varejo premium em todo o Brasil, o principal ponto de venda é o e-commerce com entrega para todo país.


Mais recentemente, a Orfeu Azeites Especiais adquiriu a certificação pela Rainforest Alliance, sob orientação e auditoria do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). É o primeiro azeite do Brasil e do mundo a receber essa patente, que tem como princípios quatro pilares: sistema eficaz de planejamento e gestão, biodiversidade, conservação de recursos naturais e melhores meios de vida e bem-estar humano. “Nosso time conta com 51 trabalhadores e todos residem na própria fazenda. Há pessoas na terceira geração trabalhando na fazenda, todos com carteira assinada e planos médico e odontológico”, afirma Marchetti.

A Orfeu também é uma marca de cafés especiais, criada em 2005. O plantio ocorre na fazenda Sertãozinho, parte do complexo da Orfeu. (*Com informações da assessoria)

Azeites importados: desafios para produtores em meio à disparada de preços

Diante do desafio, os produtores paulistas têm respondido com uma abordagem focada na qualidade, tradição e valorização do produto local

Nos últimos anos, a disparada dos preços dos azeites importados se tornou um desafio para os produtores locais manterem competitividade tanto em termos de preço quanto de qualidade. No entanto, através de estratégias cuidadosamente planejadas e compromisso com a excelência, os olivicultores estão conseguindo enfrentar essa adversidade.

Vera Masagão Ribeiro (Oliq) destaca que o azeite da marca é mais caro por conta das condições específicas de cultivo, como a localização em áreas montanhosas, o que impossibilita a mecanização da colheita. “Como a safra deste ano foi boa, nosso preço terá o reajuste regular da correção da inflação, portanto, ficará com os preços mais próximos dos azeites comuns”, diz.

Dráusio Pereira (Sempre Olivas) expressa a realidade enfrentada pelos produtores locais, ressaltando as dificuldades de competir com os preços dos azeites importados. Ele enfatiza a busca incessante por parcerias com produtores locais, visando obter preços que possam equilibrar-se com os praticados no mercado internacional.

Por outro lado, Moacir Dias (Fazenda Irarema), destaca uma estratégia multifacetada que envolve não apenas a produção de azeites de alta qualidade, mas também investimentos em divulgação, participação em concursos e o resgate e valorização da tradição local. Ele destaca a necessidade de manter padrões excepcionais de qualidade, uma vez que é este o principal diferencial em um mercado cada vez mais competitivo.

Os primeiros plantios de oliveiras na Fazenda Santo Antônio do Bugre (Azeite Oliq), em São Bento do Sapucaí foram feitos há 14 anos.

“Dedicamos esforços contínuos para garantir que nossos azeites extravirgens sejam produzidos com os mais altos padrões de excelência. Utilizamos práticas agrícolas sustentáveis, adotamos técnicas de cultivo cuidadosamente selecionadas e investimos em tecnologia de ponta para assegurar que nossos produtos mantenham sua qualidade inigualável”, diz.

O engenheiro agrônomo da Fazenda Rainha, Alexandre Marchetti, reforça a importância da informação para os consumidores. Destacando a qualidade dos azeites brasileiros, ele ressalta o frescor e a alta concentração de polifenóis, elementos que conferem não apenas sabor, mas também benefícios à saúde, tornando os azeites nacionais uma escolha não apenas consciente, mas também vantajosa em termos de qualidade.

Para o coordenador das Câmaras Setoriais e Temáticas da Secretaria de Agricultura de São Paulo, José Carlos de Faria Jr., a ênfase na qualidade, na integridade do produto e na educação do consumidor, juntamente com a proposta de certificação, reflete um esforço coletivo para valorizar o azeite paulista. “Essas iniciativas são cruciais para o desenvolvimento de uma indústria local forte, capaz de produzir azeite de alta qualidade e com reconhecimento no mercado. A Câmara Setorial de Olivicultura desempenha um papel fundamental nesse processo, coordenando ações que beneficiam toda a cadeia produtiva e promovem a olivicultura paulista”, analisa.

As estratégias para enfrentar as mudanças climáticas na produção

Se 2023 foi um ano histórico para o reconhecimento da qualidade dos azeites paulistas no mundo, por outro lado, a produtividade no Estado de São Paulo foi prejudicada devido às mudanças climáticas. Segundo a presidente da Câmara Setorial de Olivicultura, Patrícia Galasini, a floração necessita de temperaturas mais baixas, de tempo seco para abrir a florada e umidade para pegamento e enchimento dos frutos. Cenários com falta ou excesso de chuva são capazes de prejudicar a formação dos frutos, gerando uma queda acentuada na produção.

Da Fazenda Irarema, Moacir Carvalho Dias ressalta que as mudanças climáticas têm se tornado uma preocupação crescente na olivicultura. Ele reconhece que algumas variações podem trazer benefícios, mas destaca que eventos extremos, como ondas de calor prolongadas, representam desafios significativos para a produção de azeite.

Comprometido com a sustentabilidade, Dias afirma que a família está promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis, incluindo o cultivo orgânico, o uso responsável de recursos naturais, como água e energia, e o investimento em energias renováveis em toda a fazenda. “Além disso, estamos comprometidos em adotar medidas de adaptação e mitigação. Isso inclui a diversificação dos cultivares que mais se adaptaram ao clima da nossa região”.

Já Alexandre Marchetti, agrônomo da Orfeu, relata que a produção na Fazenda Rainha não teve muitos problemas, destacando que o ponto crítico das oliveiras, a pré-florada, ocorreu de forma normal. Ele enfatiza a importância de conciliar tradição e inovação na produção de azeite, integrando técnicas tradicionais com monitoramento climático e investimentos em práticas sustentáveis. Essas medidas visam garantir a qualidade do produto e a sustentabilidade do negócio, atendendo às demandas do mercado por produtos ecologicamente responsáveis.

ExpoAzeite 2024 acontecerá de 09 a 11 de abril

Os interessados nesse universo têm um encontro marcado na 14ª ExpoAzeite e no 10º Encontro Internacional do Azeite de Oliva, de 09 a 11 de abril, em São Paulo capital. O evento, que se estabeleceu como a principal feira e exposição comercial de azeites de oliva e seus derivados, é um ponto de encontro imperdível para todos aqueles que apreciam a qualidade e a autenticidade do produto.

Ao longo de 14 anos, a ExpoAzeite tem sido um farol, guiando os amantes do azeite de oliva em busca da excelência e da autenticidade. Este ano, o evento celebra não apenas a qualidade dos produtos, mas também o progresso e a inovação que têm impulsionado a indústria olivícola brasileira. A ExpoAzeite vai reunir profissionais, estudantes e entusiastas em palestras técnicas, workshops e degustações.

Serviço:

14ª ExpoAzeite 2024 – 10º Encontro Internacional do Azeite de Oliva

Local: Distrito Anhembi – Av. Olavo Fontoura, 1209 – São Paulo

Data: 09 a 11 de Abril de 2024

Reconhecimento internacional- O Azeite Sabiá, de Santo Antônio do Pinhal (SP), conquistou reconhecimento internacional ao ser classificado como o terceiro melhor do mundo pelo concurso espanhol EVOOLEUM, entre os dez principais azeites. Além disso, seu Blend foi eleito o melhor do mundo em sua categoria no mesmo concurso. A empresa também recebeu o prêmio de Empresa do Ano no prestigioso concurso italiano “LODO Guide”, desbancando as outras duas finalistas, empresas centenárias e tradicionais da Itália. É o mais alto reconhecimento internacional já alcançado por um produto nacional. (*Foto: Reprodução site)

Olivoturismo promissor nas Montanhas Capixabas

O olivoturismo no Espírito Santo está ganhando destaque, especialmente na região de Pedra Azul, Santa Teresa e Venda Nova do Imigrante, a “Capital Nacional do Agroturismo”, nas Montanhas Capixabas. Neste último município, desponta o projeto dos Chalés Laguna Alto Viçosa, conduzido pelo empresário Fernando Tanaka. Apesar de estar em funcionamento há apenas nove meses, o empreendimento já é um sucesso, com reservas feitas até 2025.

Localizado em São José do Alto Viçosa, a 15 km do centro, o Laguna foi inaugurado em junho de 2023 e oferece seis chalés de alto padrão, com uma série de comodidades, como hidromassagem, piscina com borda infinita e sistema automatizado com tecnologia de ponta. Além disso, o local promove o reaproveitamento da água da chuva, e os cultivos agrícolas fazem uso mínimo de defensivos. O nome “Laguna” (lagoa em italiano) faz alusão aos lagos e lagoas da região, e aproveita a recém-criada Rota dos Lagos para atrair mais visitantes.

Depois de duas décadas de experiência em assessoria e sistemas para gestão pública, Tanaka decidiu ingressar no ramo do turismo e agronegócio há três anos, buscando uma “ressignificação de vida e carreira. Eu me aposentei mais cedo e agora faço minha renda ao ar livre. Era uma questão de honra fazer a propriedade prosperar”, conta.

Na propriedade de 12 alqueires e localizada a 1.120m de altitude, adquirida pela família em 1982, ele iniciou cultivos de café arábica, azeitona e abacate. Ao todo são 5.500 pés de café, com a primeira colheita prevista para 2026, 500 oliveiras e mil pés de abacate. As oliveiras foram plantadas há cerca de um ano e devem começar a produzir após cinco anos. As mudas são provenientes de Lavras (MG). “Este ano está previsto um ano mais frio que, somado com a altitude, vai favorecer a olivicultura”.

Fernando Tanaka está planejando ainda a construção de um lagar para produção de azeite orgânico. “Tudo para fomentar o turismo e o agronegócio”, relata o empresário, que teve a ideia do projeto quando visitou um empreendimento de olivoturimo em Gramado (RS). “O lugar fica maravilhoso quando a oliveira está mais adulta, pois sua copa fica mais bonita. Sem contar o apelo bíblico dessa planta, o que me motivou também a iniciar o cultivo”.

Além de proporcionar uma experiência única aos turistas, com a possibilidade de visitar o olival, fazer piqueniques e degustar azeites orgânicos produzidos no futuro, Tanaka vai construir sete novos chalés e um restaurante que promete uma vista panorâmica de 360°. Além dos dois pontos de destaque, como a Pedra Azul, o Forno Grande, será possível avistar até o Pico da Bandeira. “O turista vai poder se hospedar e curtir a gastronomia”.

O agrônomo e consultor em olivicultura Fabrício Rezende enxerga um potencial significativo na região para o desenvolvimento do olivoturismo, especialmente considerando a crescente popularidade de destinos como Pedra Azul, já em sua quarta produção comercial de azeitonas ao abrigar o maior número de olivais no Estado. “Pedra Azul é uma Campos do Jordão emergente, pois já recebe muitos turistas. Temos apenas três produtores que desenvolvem o olivoturismo, ou seja, é um mercado totalmente aberto. Produzem azeite de alta qualidade, porém a produção ainda é ínfima. E com o restaurante, Tanaka sai na frente no enogastroolivoturismo”, conclui.

Fernando Tanaka e o consultor Fabrício Rezende no olival em formação em Venda Nova do Imigrante (ES). (*Foto: Leandro Fidelis)

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