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Sucessão familiar ainda é problema no meio rural, aponta Francisco Vila

Para o consultor Francisco Vila, a sucessão familiar ainda...

por Redação Conexão Safra

em 23/10/2015 às 0h00

5 min de leitura

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Para o consultor Francisco Vila, a sucessão familiar ainda é problema na pecuária leiteira, por exemplo, porque os pais sempre passaram para os filhos que este era o pior negócio do mundo. Foto: Divulgação

Estimativas de especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que 40% dos produtores rurais deixarão sua atividade até 2030. Segundo Francisco Vila, consultor e especialista em sucessão familiar, apesar de o agronegócio ser o melhor negócio do Brasil, alguns fatores geram a desistência do trabalho no campo como, por exemplo, a diferença de filosofia entre a experiência do pai e as inovações que o filho quer adotar na propriedade, além de certas contradições, como o pai exigir trabalhar muitas horas e o filho querer trabalhar poucas horas, mas com muitos resultados.

Outro problema apontado por Vila é que os próprios pais falam mal do negócio da família e, a certa altura, querem que o filho continue tocando a atividade. E ainda os filhos não arrumam, no meio rural, um parceiro ou parceira para se casar.

Ele destaca também a baixa rentabilidade diante do alto custo de sustento dos filhos com vocação para estudos e os custos crescentes com saúde da população cada vez mais idosa, percepção de que a vida rural seja muito menos atrativa que a urbana e a necessidade de continuamente incorporar novas tecnologias e intensificar investimentos para aumentar a produtividade.

“Tanto a oferta educativa como o potencial de acumular fundos para investimento encontram-se bem abaixo das exigências do mercado. Assim, muitos produtores e filhos desistirão ”, argumenta.



UNIVERSO NO CAMPO

De acordo com Vila, que também é diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), para melhor avaliar o impacto dessas previsões é necessário dividir o universo de 5 milhões de estabelecimentos rurais em quatro categorias: primeiro, menos de 1% de empresas envolvidas com o agronegócio absorve 25 mil agropecuaristas e é responsável pela produção da metade dos alimentos no Brasil, segundo, 10% de produtores comerciais de porte médio, cerca de 500 mil, produzem para o mercado, terceiro, deste total, metade (250 mil) não tem interesse ou condições ou sucessores para perpetuar sua presença no mercado.

“Este é o segmento sobre qual falamos normalmente ao abordar a questão sucessória ”, explica. Finalmente, na quarta categoria, 90% são produtores familiares de pequeno porte ou de sobrevivência, incluindo os assentados.

“Os 30# a 40% dos produtores, que entre 2015 e 2030 podem deixar a atividade, encontram-se basicamente na metade dos 10% com produção comercial de porte médio e dos outros 90% por impossibilidade de obter o sustento necessário para que a família possa permanecer no campo ”, esclarece Vila.

Ele ainda ressalta que “devem ser considerados em separado os eficientes produtores de porte pequeno dos segmentos hortifruticultura, leite, uvas e produção de peixes ”.



PECUÁRIA LEITEIRA

Vila afirma, no entanto, que ainda existem os ineficientes dentro da pecuária leiteira, o que gera problemas de sucessão. “O leite é tipicamente um negócio pequeno e pode ser um negócio pequeno bom, ou um pequeno ruim, dependendo do grau de eficiência da propriedade. ”

Segundo o consultor, a atividade conta com a mão de obra do pai, da mãe, do filho e de um empregado, e exige sete horas de trabalho durante sete dias da semana. Por isto, em sua visão, é um trabalho árduo, de pouco ganho, mas ao mesmo tempo tem liquidez, pois “mesmo quando não se tem alta tecnologia, toda semana o produtor recebe dinheiro ”.

A sucessão familiar ainda é problema na pecuária leiteira, garanteVila, “porque o pai e a mãe, durante 20 anos, explicaram que safra sim safra não, que “droga de negócio é este ”: tem de levantar cinco horas da manhã, trabalhar sete dias, o preço não é bom e o governo não ajuda. E depois de 20 anos, o filho vai para o curso técnico, querem que ele retorne à fazenda, sendo que os pais sempre passaram para ele
a imagem de pior negócio do mundo ”.



DIFICULDADE PARA SE CASAR

Atrair um esposo ou esposa para o campo é outro problema. Vila conta que na Alemanha existe, na TV, um reality show que se chama Filha de Produtor Procura Marido. Uma moça bonita, que mora na fazenda mecanizada, tem dificuldade de atrair um homem para o campo, o que, em sua opinião, “já não faz nenhum sentido, porque lá a máxima distância entre uma fazenda e um hospital é de 20 quilômetros. “Aqui, você tem distâncias de 500 km de estrada de terra. Se é difícil na Alemanha, que o diga aqui ”, comenta.

Vila também salienta que “o filho ou a filha não vai conseguir um marido ou uma esposa que mudem de Cuiabá para Pontes de Lacerda, por exemplo, porque lá a escola, que foi construída há 20 anos, fica longe da propriedade, e se surge um problema de saúde, pior ainda ”.



PILAR DA ECONOMIA

Para o consultor em sucessão familiar, o agronegócio é o pilar da economia brasileira. “Aqui, temos sol, temos água e temos muita gente boa. A nossa vocação é alimentos e fibra, porque o mundo precisa. Por outro lado, argumenta, no futuro, menos pessoas vão produzir cada vez mais leite. Por isto, tenho de ver se a minha família faz parte dos 40% que vão sumir do mapa até 2030, segundo as previsões da Embrapa ”, alerta.

Ele também menciona outros estudos, inclusive um realizado no Rio Grande do Sul, onde 32% dos entrevistados afirmaram que têm certeza que não possuem um sucessor.

“Os números batem e a minha experiência com palestras e consultorias de empresas também confirmam que metade dos produtores de leite não vai resistir daqui a 20 anos ”, reforça. Todavia, os que conseguem adaptar-se aos desafios da modernização, continua Vila, farão parte de um número cada vez menor de fazendeiros que produzirão cada vez mais leite, para uma demanda que não deixará de crescer ao longo das próximas décadas.

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