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Agrocoop: a cooperativa que já nasceu com a grandeza do associativismo

por Redação Conexão Safra

em 09/12/2013 às 0h00

9 min de leitura

Agrocoop: a cooperativa que já nasceu com a grandeza do associativismo

A nova cooperativa agrega outras sete, com objetivo de industrializar produtos agrícolas, inicialmente o café, e melhorar o retorno financeiro para quem dedica a vida à atividade rural


Ana Paula Fassarela


Sete cooperativas unidas pelo mesmo objetivo: fazer a industrialização de produtos agrícolas e, assim, fortalecer as atividades que desenvolvem no Espírito Santo. Desde o ano passado, essa ideia vem sendo colocada em prática, após a constituição da Cooperativa Central Agroindustrial do Espírito Santo, a Agrocoop, da qual fazem parte Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel), a Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo (Pronova), a Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Espírito Santo (Cafesul), a Cooperativa Agrária dos Cafeicultores da Região de Aracruz (Cafeicruz), a Cooperativa dos Produtores Rurais de Jaguaré (Coopruj), a Cooperativa Agrícola de Jaguaré (Coccapi) e a Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé).

Essa junção de cooperativas visa fortalecer o setor agropecuário para possibilitar o avanço na cadeia produtiva. “Percebemos a necessidade da união das cooperativas para ir além da produção e do armazenamento, ou seja, em vez de entregar todo o café de qualidade para que seja industrializado por outras empresas, muitas vezes grandes corporações de fora do país, esse beneficiamento (torrefação, moagem, envasamento e distribuição) agora começa a ser realizado pela Agrocoop, o que agrega valor aos produtos e faz com que um maior retorno financeiro fique nas mãos dos produtores e seja reinvestido nas regiões onde estão ao cooperados ”, explica o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras no Espírito Santo (OCB-ES) e da Agrocoop, Esthério Colnago.


O café &ndash, assim como ocorre com outras culturas &ndash, é vendido para as indústrias beneficiadoras e chega ao mercado com valor multiplicado, inacessível, na maioria das vezes, para o próprio produtor. “Essa cooperativa foi formada para evitar que o produtor e até as próprias cooperativas se vejam obrigados a vender toda a produção para ser processada pelas grandes indústrias, evitando, dessa forma que a maior parte do lucro, que provém do produto pronto para consumo, vá para longe da propriedade ”, comenta o assessor técnico da Agrocoop, Wellington Pompermayer.

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Os primeiros grãos de café processados e envasados com o selo e embalagem da Agrocoop são da Pronova, sediada em Venda Nova do Imigrante, na região Serrana do estado, e da Cooabriel, que fica em São Gabriel da Palha, no Noroeste capixaba. A industrialização por enquanto está concentrada na Pronova, com equipamentos da cooperativa. “Inicialmente estamos trabalhando a marca, pois já temos a matéria-prima de qualidade e os equipamentos. Futuramente faremos mais investimentos ”, afirma Pompermayer.

O café torrado e moído é vendido em mercearias, padarias e confeitarias estratégicas na Grande Vitória e também fora do Espírito Santo, nos estados do Paraná e Minas Gerais. “Até o início de 2014, devemos fechar parcerias com outros mercados. Mas nossos sonhos são mais ousados: pretendemos alcançar outros países, chegando à produção de pelo menos 100 toneladas por mês daqui a três anos ”, planeja o assessor técnico.

Recém-nascida, a nova cooperativa já possui números que impressionam: são mais de quatro mil cooperados do total de sete cooperativas, mais de 95% deles são micro e pequenos produtores, a mão de obra empregada gira em torno de 400 funcionários, indiretamente são envolvidas e beneficiadas cerca de 10 mil pessoas.

“Isso sem contar o papel social desempenhado por essas cooperativas, como a manutenção do equilíbrio, da regulação (preço justo) e da garantia de mercado. O cooperativismo e o associativismo garantem a viabilidade da atividade. Portanto, se não fosse essa forma de organização, esses produtores receberiam menos e talvez muitos nem estariam mais na atividade, que deixaria de ser sustentável ”, avalia Wellington Pompermayer.

A intenção é estender as atividades da Agrocoop para outros produtos. “Inicialmente o foco é o café de qualidade arábica e conilon, mas a meta já traçada é dentro de pouco tempo unir as 33 cooperativas capixabas do setor agropecuário para industrializar, envazar e agregar valor também aos produtos da fruticultura, da pecuária de leite e de corte, da suinocultura, da avicultura e demais produtos agrícolas, para aumentar o lucro dos produtores ”, destaca o superintendente da OCB-ES, Carlos André Santos de Oliveira.


União de cooperativas possibilita baratear o custo de produção

Além de entregar ao mercado o café pronto para consumo, outro objetivo da Agrocoop é reduzir o custo de produção para os cafeicultores. Como? Por meio da compra conjunta dos insumos necessários ao cultivo, como defensivos, fertilizantes, mudas e outros itens necessários à otimização da produção.

Jalder Permanhane, morador da localidade de Pedra Lisa, no interior de Cachoeiro, é cooperado da Cafesul, ligada à Agrocoop. Para ele, a nova cooperativa traz boas expectativas para quem vive da atividade rural.
“Cada vez mais temos que unir forças para conseguir melhor preço no mercado. E para chegar com o produto final ao consumidor, só mesmo desse jeito, em conjunto. Sozinho é praticamente impossível. Quem fica isolado acaba se perdendo e não sobrevive no mercado. Com a união em cooperativas, que é imprescindível especialmente para o setor rural, conseguimos o poder de mudar para melhor o rumo da história dos cafeicultores ”, destaca o produtor que possui 20 mil pés de conilon.

O pai de Jalder compartilha da opinião. “A partir do momento em que há mais produtores unidos para compra, o grupo tem mais força do que um sozinho, pois consegue volume, o que possibilita baixar os preços. Hoje nós produtores muitas vezes temos de nos submeter aos atravessadores, o que acaba encarecendo a produção. Creio que com as cooperativas juntas para a compra, deve baratear pelo menos 10% o valor gasto com insumos. Além disso, a cooperativa incentiva a produção com qualidade, uma exigência cada vez maior do mercado. Eu acredito no cooperativismo ”, diz o cooperado da Cafesul, Jacy Permanhane, 74 anos e uma vida inteira dedicada à cafeicultura.

A Cafesul, da qual Jalder e seu pai, Jacy, fazem parte, tem sede em Muqui e conta com 140 produtores associados dos municípios de Mimoso do Sul, Cachoeiro de Itapemirim, Atílio Vivacqua, Jerônimo Monteiro, Anchieta além, é claro, da cidade que sedia a cooperativa.

A empresa vende grãos verdes para indústrias do Paraná e de São Paulo que, assim como a própria cooperativa, possuem o certificado internacional Fair Trade (para comércio justo), um atestado da qualidade do produto. Essa certificação é fornecida após rigorosas visitas técnicas de inspeção para verificar nas propriedades se o café é produzido de acordo com exigências ambientais e sociais, tais como: preservação da flora e da fauna, descarte correto das embalagens, uso de equipamentos de proteção individual por parte dos funcionários, que também devem ter carteira assinada ou contrato de parceria, norma que se for desrespeitada, pode caracterizar trabalho escravo. Além disso, não é permitido trabalho infantil nas propriedades. Quanto ao manejo da produção, o uso de agrotóxicos é controlado, sendo que inúmeros sequer podem ser utilizados. Para que o café continue a receber o certificado Fair Trade, são realizadas inspeções periódicas às propriedades. O produto é vendido pelas indústrias brasileiras ao mercado externo na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. E por conta de todas as exigências feitas aos produtores, o grão é vendido com valor diferenciado, o que é chamado de “prêmio social ”.

“Mas nos deparamos com aquela velha questão que muitas vezes assombra a cafeicultura: vendemos a matéria-prima, o grão para ser processado, e não o produto final, o café torrado e moído. Agora, com a Agrocoop, temos esperança de resolver esse gargalo para agregar ainda mais valor e trazer melhor retorno aos produtores ”, analisa o presidente da Cafesul, Renato Alvarenga Theodoro.


Intercooperação: cooperativas de mãos dadas para juntas crescer ainda mais

O nascimento de uma central de cooperativas mostra a força e a capacidade de reinvenção do associativismo capixaba, de acordo com Esthério Colnago. Um dos sete princípios que norteiam o cooperativismo, a intercooperação é relevante para potencializar resultados.

“Cada vez mais as cooperativas precisam se juntar numa atividade para enfrentar o mercado globalizado, porque mesmo que ela seja potencialmente forte, isolada não é tão fortalecida ”, comenta.

Recentemente representantes das cooperativas associadas à Agrocoop foram levados para conhecer o parque industrial das cooperativas do Paraná e de Santa Catarina. “Lá eles tiveram oportunidade de ver que aquelas cooperativas que industrializam os produtos têm conseguido passar para seus cooperados preço mais justo pela sua mercadoria. &Eacute, o que pretendemos com a Agrocoop. Temos que nos espelhar nos bons exemplos, como é o caso da Aurora, uma grande central de cooperativas do Sul do país ”, analisa Colnago.


A forte presença do cooperativismo no Espírito Santo

No Espírito Santo atualmente existem 149 cooperativas, com cerca de 230 mil cooperados. Juntas geram mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, envolvendo aproximadamente 600 mil pessoas, de acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras no Espírito Santo (OCB-ES). O cooperativismo é um modelo socioeconômico que prima pela participação democrática, solidariedade, independência e autonomia, ou seja, alia o desenvolvimento econômico ao bem estar social.

“O fato de não participar de toda a cadeia produtiva distancia o cafeicultor de seu próprio produto, pois o café muitas vezes ganha tanto valor depois que sai da propriedade e é industrializado que o produtor não tem a menor condição de consumi-lo. A Agrocoop tem a função de deixar esse valor agregado nas propriedades rurais e nas regiões onde elas estão inseridas ”. Assessor técnico da Agrocoop, Wellington Pompermayer.



“A Agrocoop foi criada com objetivo de aumentar o poder de compra e venda, ampliar a presença do cooperativismo, mas especialmente para enfatizar a cultura da agroindústria, pois é cada vez mais necessário agregar valor aos produtos, com serviço de qualidade para seus cooperados e para a sociedade como um todo ”. Presidente da OCB-ES e da Agrocoop, Esthério Colnago

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