A história da Família Zachi, da localidade de Montevidéo, a cerca de 20 km do centro de Conceição do Castelo (ES), é intrinsecamente ligada à fazenda que remonta ao bisavô de Tiago Zaque e Marcos Zaqui. A trajetória começou com a chegada dele e de dois irmãos do Norte da Itália para trabalhar como colonos na região de Encanamento, próxima a Alto Monte Alverne (Castelo). Anos mais tarde, em 1904, o avô da dupla, impulsionado pela promessa de água abundante para movimentar moinhos, decidiu adquirir terras na região, estabelecendo a sede da Fazenda Montevidéo em 1905. A propriedade, originalmente dedicada à cultura da cana-de-açúcar e do café, hoje se destaca como um centro de produção de orquídeas, fruto do esforço e da paixão dos primos Tiago e Marcos.

Embora tenham crescido imersos na tradição cafeicultora, os orquidófilos encontraram vocação na botânica, especialmente nas orquídeas. O interesse pelo cultivo começou cedo, com Tiago se envolvendo na prática desde os 12 anos, trocando plantas e aprendendo mais com os vizinhos.

“As parasitas roxas eram a bola da vez”, conta. Marcos, por sua vez, desenvolveu uma obsessão pelas orquídeas brancas e amarelas, cultivando uma coleção única e diversificada ao longo dos anos.

Os Zachi contam que a “Guttata da Vovó”, uma Cattleya guttata na família há pelo menos 70 anos, sempre serviu de estímulo à orquidofilia. “Minha avó tem essa planta desde moça. Não era nascido quando ela ficava presa a um pé de jamelão, já a conheci num coqueiro, e hoje a orquídea fica em destaque no nosso viveiro”, relata Tiago.

O agricultor transformou desafios em oportunidades ao investir na produção de mudas de orquídeas. Começou com dificuldades, mas ao longo do tempo expandiu as estufas, hoje insuficientes para a demanda crescente. A visão de Sávio Caliman, orquidófilo de Venda Nova do Imigrante, referência mundial e mentor dos primos, foi determinante nessa jornada. “Ele dizia: ‘meninos, vocês têm que produzir as mudas de vocês’. Tinha que ter investimento”, lembra Marcos.

Em 2016, Tiago Zaque revolucionou o cultivo, resgatando plantas quase perdidas e revitalizando uma estufa de mais de 200 m². O método exclusivo de cultivo, com substrato e defensivos específicos, garante o sucesso das plantas. Segundo o orquidófilo, a eficácia é comprovada pela saúde das orquídeas, que são o verdadeiro juiz de seu trabalho.

A jornada rumo à excelência no cultivo de orquídeas exigiu dos primos Zachi dedicação e inovação. Com investimento em tecnologia e pesquisa, eles passaram a aprimorar geneticamente suas plantas, tornando-as referência tanto localmente quanto nacionalmente. Os primos participam de um grupo de produtores locais, no qual trocam informações e realizam cruzamentos. Priorizam cruzamentos de interesse, especialmente com espécies do bioma Mata Atlântica e Cerrado, abrangendo todas as regiões do Brasil. “Só realizamos cruzamentos de orquídeas com características interessantes, pois a ideia é trabalhar com pouca quantidade e evitar produção a granel”, diz Tiago.

“O material genético que temos de Sophronitis, uma espécie com flores menores, é referência para os maiores orquidófilos do Estado e do país”, completa Marcos Zaqui.

A participação ativa da dupla na Sociedade Espiritossantense de Orquidofilia (SEO) e a organização de eventos especializados demonstram não apenas sua paixão, mas também o compromisso em compartilhar conhecimento e promover o desenvolvimento da comunidade. No próximo dia 05 de maio, eles promovem, no bar e lanchonete de Montevidéo, o 5º Encontro da Cattleya guttata e Sophronitis. O evento espera 500 pessoas ao longo do dia vindas da Grande Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e até Linhares.

O encontro planejado para o período da floração das Guttatas e Sophronitis promete não apenas celebrar as conquistas da família, mas também atrair um público diversificado em busca de conhecimento e beleza natural. Tanto que já se fala na criação da rota Flor e Café em Montevidéo.

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos