Mais lidas 🔥

Na Vila Batista
Vila Velha certifica sua primeira agroindústria de mel

Mercado
Preços do mamão formosa sobem com oferta menor nas principais regiões

Reconhecimento nacional!
Conexão Safra vence o Prêmio Ibá de Jornalismo 2025

De quarta para quinta
Veja as 55 cidades capixabas que estão sob alerta vermelho para temporais

Previsão do tempo
Instabilidade perde força no ES, mas sábado segue com nuvens e chuva fraca

A aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto de 2025, gerou forte apreensão entre produtores e exportadores do Espírito Santo. Estado com forte vocação para o comércio exterior — quase 30% de suas exportações têm como destino o mercado norte-americano —, o Espírito Santo criou um comitê emergencial para enfrentar a crise, liderado pelo vice-governador, Ricardo Ferraço. Em entrevista, o secretário estadual da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), Enio Bergoli, detalha os impactos e as alternativas discutidas com os setores afetados.
Como foi a primeira reunião do Comitê de Enfrentamento às Tarifas (Cetax)?
Estamos finalizando as discussões com cada cadeia do setor produtivo, como café (grão cru e solúvel), pimenta-do-reino, gengibre, ovos, mamão, enfim, todas as que serão impactadas. Todas as cadeias exportadoras com destino aos Estados Unidos serão afetadas em maior ou menor grau. A partir dessas conversas, vamos construir ações sob a liderança do Governo do Estado e também propor medidas ao Governo Federal. Afinal, negociações comerciais são feitas por meio da diplomacia, entre os mandatários dos países. Confiamos que esse impasse será resolvido por vias diplomáticas, e não por motivações políticas, que foram a origem dessa tarifa.
No caso do café, há risco de grandes perdas? Existe um plano alternativo?
A preocupação é maior com o café solúvel. Cerca de 40% das exportações de café solúvel, cuja matéria-prima é o conilon, principal atividade agrícola do Espírito Santo, são destinadas aos Estados Unidos. Estamos desenvolvendo um plano B, com negociações de empresa para empresa, já que o tarifaço também prejudica os norte-americanos. No caso do café, tanto solúvel quanto o grão cru (arábica e conilon), são setores consolidados, com empresas tradicionais. Por isso, acreditamos que haverá capacidade de adaptação durante essa transição. Posteriormente, esperamos sentar à mesa e negociar, cadeia por cadeia.
É possível redirecionar o café capixaba para outros mercados?
Não é simples. O mercado trabalha com blends específicos, e certas plantas industriais nos Estados Unidos dependem do café brasileiro. Temos um terroir e um perfil de produto muito próprios. Para dar uma ideia, um terço do café consumido nos Estados Unidos é brasileiro, e eles são os maiores consumidores do mundo. É um setor que movimenta cerca de 2,2 milhões de empregos por lá. Ou seja, o tarifaço não é só um problema só nosso, é deles também. Como temos relações comerciais antigas e sólidas, confiamos na retomada do equilíbrio.
O setor pesqueiro é apontado como um dos mais prejudicados. Por quê?
É um setor que nos preocupa muito. Exportamos atum, meca e outros peixes oceânicos. Mais de 98% dessas exportações vão para os Estados Unidos. No momento, ficamos sem alternativas viáveis, já que a Europa está bloqueada por questões sanitárias. A única válvula de escape é a Inglaterra, que saiu da União Europeia. Vamos propor ao governo brasileiro que articule essa abertura. A Ásia é pouco competitiva para nosso pescado. Além disso, nossa pesca é oceânica, com embarcações que permanecem 15 a 20 dias no mar. Só para sair, um barco desses custa entre R$ 120 mil e R$ 140 mil, então, com o tarifaço, essas embarcações sequer estão saindo para pescar.
E quanto à pimenta-do-reino, há impacto mesmo com a venda indireta?
Sim, e muito. Oficialmente, apenas 1% das exportações de pimenta vão diretamente para os Estados Unidos. Mas, na prática, esse número é de 25%, já que o produto sai daqui, segue para o Vietnã ou Índia, e de lá para os Estados Unidos. Mesmo nesse caminho indireto, a tarifa de 50% vai incidir por causa da origem brasileira. Nossa pimenta tomava essa rota porque tínhamos um problema de salmonella e não possuíamos equipamentos de esterilização. Agora, com o setor privado implantando dois esterilizadores, um já em funcionamento em Linhares, tínhamos planos de retomar as exportações diretas. E justo nesse momento, surge essa barreira. Por isso, propomos uma redução da tarifa entre Brasil e China, hoje em 30%, para o patamar do Vietnã, que é menor. Isso nos daria competitividade nesse período de transição.
O gengibre também aparece como uma das cadeias mais atingidas. Qual o cenário?
Sem dúvida. Cerca de 58% das exportações de gengibre no primeiro semestre — período em que tradicionalmente se vende mais para os norte-americanos — tiveram como destino os Estados Unidos. No total do ano, esse percentual gira em torno de 33% a 34%. O problema é que não conseguimos acessar mercados como a China, já que ela é a maior produtora mundial de gengibre. Estamos ajustando algumas estratégias e confiamos nas negociações diplomáticas, pois, do contrário, corremos o risco de inviabilizar um produto essencial para a agricultura familiar capixaba.
A cadeia da macadâmia também está ameaçada?
Sim. Embora seja uma cadeia pequena, 100% da macadâmia capixaba vai para os Estados Unidos. Estamos tentando abrir espaço na China, onde a tarifa atual é de 30%. Se conseguirmos reduzir essa alíquota para 20% ou mesmo permanecer nos 30%, já conseguiremos competir melhor e redirecionar parte da produção.
E o mamão?
Entre 10% e 14% das exportações capixabas de mamão vão para os Estados Unidos, dependendo do período. O Espírito Santo é o maior exportador de mamão do Brasil, respondendo por 45% das exportações nacionais. E somos o único Estado que exporta para os Estados Unidos. A grande preocupação é com o impacto no mercado interno: se não conseguirmos exportar, a produção que hoje vai para fora ficará ao mercado doméstico, derrubando preços e prejudicando até pequenos produtores que nunca exportaram. Estamos propondo uma flexibilização da instrução normativa do Ministério da Agricultura, que impõe custos elevados às exportações para os Estados Unidos. A ideia é que produtores e compradores norte-americanos dividam os custos da nova tarifa durante essa transição.
Tecnicamente, o tarifaço começa a valer na próxima sexta-feira. Ainda pode haver exceções de alguns produtos?
Há dois passos técnicos antes da efetivação. O primeiro é a justificativa formal da medida, que ainda não foi apresentada. E sinceramente, não vejo justificativa, já que a balança comercial é favorável aos Estados Unidos. O segundo passo é o ato formal da imposição. Há quem diga que a medida já entraria em vigor na sexta-feira (1º), com negociações setoriais posteriores. Outros acreditam que o próprio ato de implantação já trará exceções para determinadas cadeias produtivas.
Como está o clima entre os produtores com a proximidade da medida?
A grande preocupação são com os que estão na base da cadeia produtiva. No caso do gengibre, são mais de três mil propriedades envolvidas. O café, por exemplo, movimenta 80 mil propriedades. A pimenta-do-reino, entre 13 e 14 mil. Temos que proteger esse patrimônio. No primeiro semestre, 23% do valor gerado pelas exportações capixabas veio dos Estados Unidos. Então, é sim um impacto muito sério. Mas estamos mobilizados para enfrentá-lo.





