Renata Erler

Colunista Conexão Safra.

MAIS CONTEÚDOS
Colunistas

A chuva tão esperada que matou o pasto do capixaba

por Renata Erler

em 02/01/2023 às 9h41

4 min de leitura

O início do período das águas é sempre muito esperado para quem trabalha com pastagem, pois com disponibilidade de água, luz e calor, a velocidade de rebrota é alta, o potencial produtivo é maior, consequentemente haverá mais comida disponível para os animais. Porém, com o acumulado de chuvas dos últimos dias o capixaba tem sofrido com as enchentes no interior do Estado, e por mais que a chuva seja necessária, um grande acumulado em um período tão curto provoca prejuízos.

A média de chuva histórica normal para novembro varia de 220 a 260 milímetros de chuva, e em 2022 o acumulado foi de 200 a 400 milímetros em todo o Estado, fazendo com que as chuvas de dezembro, que também foram acima da média, chegassem sobre um solo já encharcado, provocando alagamentos em áreas que normalmente não alagam, e mesmo esse processo sendo comum para pastagens tropicais, o capim responde com redução da produção, e caso o alagamento/encharcamento persista por vários dias, pode provocar morte do capim, e será necessário reformar a pastagem.

Geralmente os casos de maior preocupação de perda são onde identificamos visualmente a lamina d’água sobre o capim, mas é preciso ter atenção, pois o pisoteio do gado, trânsito de máquinas, chuva no solo descoberto ou em pastos de final de seca muito rebaixados, comprometem a capacidade de drenagem no solo por causa da compactação, deixando esse pasto mais suscetível a períodos mais frequentes e mais intensos de encharcamento, provocando enfraquecimento e até morte do capim em áreas que normalmente não tinham esse problema.

A principal causa do problema em áreas que sofrem com o encharcamento, é que os espaços porosos do solo ficam saturados com água e as raízes de plantas não adaptadas não conseguem obter oxigênio necessário para sua respiração, o que debilita a planta, baixa resistência a doenças e provoca morte.

Para essa situação é importante entender a realidade da área, tipo de solo, clima da região, frequência e permanência do alagamento na área, sistema de produção, para definir qual capim será plantado, e dentre as opções, escolher as que apresentam maior resistência ao encharcamento, evitando reformas futuras.

Em alguns trabalhos feito por Baruch (1994a; 1994b) comparando quatro capins tropicais, Brachiaria mutica, Hyparrhenia rufa, Anogon gayanus e Echinochloa polystachya) sob alagamento do solo, onde a  A. gayanus e H. rufa fecharam rapidamente seus estômatos, reduzindo a condutância estomática e a fotossíntese líquida. A atividade da desidrogenase alcoólica (ADH) em A. gayanus sofreu aumento significativo sob alagamento, indicando maior sensibilidade a esse estresse (maior produção de etanol). No entanto, em B. mutica (capim angola) e E. polystachya (canarana), espécies típicas de ambientes alagados, a condutância estomática, a fotossíntese líquida e a atividade ADH não diferiram estatisticamente entre plantas alagadas e não alagadas. Segundo Baruch (1994a; 1994b), tanto o Capim Angola quanto o Canarana apresentaram estruturas adaptativas ao alagamento, como o desenvolvimento de raízes adventícias e tecidos arenquimáticos, que permitiram melhor difusão de gases na planta e seguiram produzindo normalmente, se mostrando como ótimas opções de forrageiras para áreas alagadas. A única dificuldade dessas duas variedades é que a implantação é feita por muda, não há semente, dificultando o acesso, porém, no Espírito Santo temos áreas de Angola e Tangola (cruzamento natural da B. Mutica com a B. Arrecta) em algumas fazendas onde outros produtores podem adquirir mudas para iniciar um viveiro e multiplicar na própria fazenda.

Existem outras opções cuja dispersão é feita por sementes, como por exemplo a Setária cv Tijuca que vem se destacando para esse uso, e a B. Humidicola, que resiste ao alagamento, mas tem o pior valor nutritivo dentre as Brachiarias e a formação é demorada, mesmo assim ainda pode ser uma opção viável.

Por fim, para que não ocorra perda em momentos de muita chuva, é importante consultar um profissional capaz de definir o capim correto para a realidade da fazenda e estabelecer os protocolos de manejo de pastagem que garanta resultado.

*Foto: Divulgação

Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!