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Suelen Alvarenga

Consultora de alimentos. doutora em tecnologia de alimentos, especialista em desenvolvimento e diferenciação em alimentos

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“Tipo Nosso”: valorização de marcas locais no desenvolvimento regional

por Suelen Alvarenga

em 09/08/2023 às 8h17

6 min de leitura

 

 Certamente, você já deve ter visto pelas gôndolas de supermercados, produtos com o termo “Tipo” em sua denominação: Queijo Tipo Brie, Queijo Tipo Grana, Mostarda Tipo Dijon. Esse uso é direcionado à fabricação de produtos que possuem indicação geográfica (IG) específica de seu local de origem, aspectos geográficos ou tradicionais, com determinadas características, mas são fabricados em região diferente.

Na Europa, a prática da identidade local é cada vez mais utilizada, como forma de tornar seus produtos mais competitivos e desenvolver regiões menos favorecidas.

De fato, principalmente desde a pandemia, houve um crescimento na procura de produtos locais pelos consumidores brasileiros, influenciada pela mudança de hábitos mais saudáveis, insegurança dos alimentos, busca por produtos mais naturais e menos manipulados, trazendo uma valorização às marcas locais, podendo conhecer de perto novos produtos e colaborar com o fortalecimento da região e de menores empreendimentos alimentícios, conhecido como locavorismo.

Constituídas, em sua maioria, por pequenas e médias indústrias e empreendedores, agromarcas e marcas locais sentem a dificuldade na competição baseada em preço, fazendo com que necessitem utilizar do poder da diferenciação em alimentos, alterando a rota de maneira estratégica, levando seus produtos a novos canais e clientes que desejam conquistar, além de fidelizá-los.

Pensando no contexto histórico, a partir dos anos 70, a Europa adotou um sistema de qualificação e etiquetagem de seus territórios, visando trazer a relação do produto ao território em que era produzido e seus produtores responsáveis pelo processo de elaboração, identificando características semelhantes entre si em sua produção.

 

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E sabe o porquê te digo tudo isso?

 

No estado do Espírito Santo temos muito a mostrar, pois por diversas vezes “olha-se pra fora”, “pro de fora”, mas resgatar e colocar luz ao que está dentro, faz com que possamos aproveitar inúmeras oportunidades. Exibir o nosso, o “Tipo Nosso”, é estampar características que temos, a cidade, as pessoas envolvidas, a tradição, o significado. É expandir o reconhecimento de nossa identidade, expressando produtos únicos e exclusivos, com conexão emocional e oferecendo as mais preciosas experiências locais.

Porém, levar essas informações ao conhecimento do público, requer educar o consumidor sobre seu diferencial, o tipo de produto, valores como marca, no que você acredita, as vantagens para seu cliente. E com muita convicção, afirmo: o consumidor quer experimentar o novo e o apoio ao turismo gastronômico ou agroturismo pode colaborar com este papel, fazendo com que locais menos visados e privilegiados, consigam explorar a formação de sua identidade local.

Cada lugar possui uma série de atributos que formam as suas características particulares de reconhecimento e imagem, ao identificá-las, torna-se possível potencializar atrativos, aumentar os investimentos locais e reter talentos. Um desdobramento que aspira pensar nos lugares de forma holística e contínua, fortalecendo o potencial da região, que podemos chamar de “Place Branding”, uma ótica da cidade como marca, além dos produtos que são oferecidos por ela.

Analisando esse panorama, marcas locais precisam se diferenciar de outras já estabelecidas, por meio do desenvolvimento de novos produtos únicos e exclusivos, embalagem e rotulagem inteligente, processos e controles bem estabelecidos, estratégias de vendas com diretrizes pareadas à diferenciação em alimentos.

Já pensou vender mais, por um preço justo, tendo clientes fiéis à sua marca e produto? Um grande poder está nas mãos dos pequenos fabricantes, que é aproveitar a proximidade que pode ser estabelecida com os consumidores pela conexão, trazendo soluções conjuntas pela Inovação e diferenciação. Não é fazer igual a todo mundo, copiar o que o outro faz, é externar sua essência e unicidade, ativar a emoção que despertará a percepção de alto valor do que se vende e representa, gerando a compra e recompra.

E é assim que os produtores locais terão a atenção das pessoas, utilizando o seu real poder, colocando sua mensagem no mundo, não se camuflando entre os concorrentes, como um “efeito molho de tomate”, parecendo todos iguais, mas sendo oportuno e utilizando da comunicação assertiva que transforma ruído em música, para serem ouvidos!

 

Vivemos novos tempos,

o consumidor mudou,

o mercado mudou,

e ou torna-se “marcalocal.com”

ou pode virar “marcalocal.fora”.

Um outro viés, é pensarmos que estabelecimentos locais, redes varejistas, vendas online são como vitrine para as agromarcas e marcas locais junto à comunidade. Colocar seus produtos em diferentes canais é importante, no entanto, estes são, geralmente, produtores menores, e tanto a logística quanto as taxas cobradas pelo varejo, nem sempre favorecem para essa distribuição.

Dar acesso a essas marcas no varejo e sendo negociadas as tramitações, já que é predominante as grandes marcas, pode trazer benefícios aos dois lados. E quando esse enlace acontece, os produtos locais são vistos e encontrados pelos consumidores, especialmente, aqueles atentos e preocupados por alimentos menos processados, pela intencionalidade, sustentabilidade.

Um ponto de atenção ao varejo, é revisitar as taxas cobradas para a comercialização, pois nem sempre se tem em grande quantidade esses produtos locais (como visto pelas grandes empresas do setor alimentício), mas um posicionamento de aproximação e valorização, faz parte de uma cultura varejista que pensa estrategicamente no crescimento e desenvolvimento de sua região, de “levantar uma bandeira” de produtos e marcas locais com mais significado, autenticidade, histórias e tradições, muito além de “só mais um na prateleira”, porém com propósito do que se faz (#valorizemarcaslocais). Todavia, a mágica não irá acontecer sem o desenvolvimento desse conceito, que é primordial tanto para as marcas quanto para o varejo e estabelecimentos.

No entanto, para mostrarmos o “tipo nosso”, se faz necessário realizar em e com diferentes mãos: as agromarcas e marcas locais precisam dos clientes; o varejo, estabelecimentos locais precisam das marcas e produtos locais expostos à venda para seus clientes; os clientes precisam que estas marcas cheguem até eles. Uma verdadeira corrente que impulsiona toda a cadeia produtiva, mas para isso, ter compreensão que esses protagonistas locais colaboram com a diversidade e um diferencial competitivo, faz fomentar todo um sistema local e regional.

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