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Anuário do Agro Capixaba

Com preço e produção em alta, gengibre vira estrela do agro capixaba

Nas exportações de 2022, o Espírito Santo respondeu por 59% de todo o volume de gengibre exportado pelo Brasil. A receita gerada pelo gengibre rendeu US$ 18,9 milhões de dólares para o Estado

por Fernanda Zandonadi

em 07/03/2024 às 8h00

6 min de leitura

Com preço e produção em alta, gengibre vira estrela do agro capixaba

Foto: arquivo/Conexão Safra

O gengibre chegou para ficar no Espírito Santo. A produção cresce ano a ano e chegou aos 1.169 hectares de área colhida em 2022. Para dar uma ideia, em 2021 foram 967 hectares. Voltando um pouco mais no tempo e chegando a 2014, é possível ter noção da alta naquele ano foram apenas 313 hectares colhidos em todo o Estado. A produção também segue a mesma curva. Foram 59.506 toneladas em 2022, número superior a 2021, quando saíram dos campos 54.480 toneladas. O rendimento médio, no entanto, teve uma leve queda, passando de 56.339 quilos por hectare em 2021 para 50.903 toneladas em 2022. 

Oito municípios se destacam na produção Santa Maria de Jetibá, que responde por 48,40% do gengibre capixaba, seguido de Santa Leopoldina (30,25%), Domingos Martins (13,91%), Itarana (6,05%), Marechal Floriano (0,67%), Santa Teresa (0,50%), Cariacica (0,13%) e Alfredo Chaves (0,08%).

Nas exportações de 2022, o Espírito Santo respondeu por 59% de todo o volume de gengibre exportado pelo Brasil. A receita gerada pelo gengibre rendeu US$ 18,9 milhões de dólares para o Estado. O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do país. Considerando as exportações de janeiro a agosto de 2023, nota-se um salto nas exportações. O volume nesse período chegou a 10,4 mil toneladas, 29,4% superior ao mesmo período do ano passado, e a receita gerada somente nos oito primeiros meses do ano ultrapassa US$ 20,1 milhões de dólares, de acordo com a Gerência de Dados e Análises da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (GDNSeag), a partir dos dados originais do AgrostatMapa e do ComexstatMDIC.

Segundo o coordenador-geral do projeto de Fortalecimento da Agricultura Capixaba (FortAC) e professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Sávio Berilli, além do bom momento comercial, os produtores de gengibre acumularam conhecimento ao longo dos anos, o que facilita o manejo e, consequentemente, aumenta a atratividade da cultura. “Em Santa Leopoldina, se produz até em regiões mais quentes, ou seja, a produção está se expandindo”.

Exportações

O gengibre ocupa lugar de destaque nas exportações capixabas. Em 2023, a cultura movimentou a balança comercial capixaba do Estado, com aumento de 147,9% no volume de exportações. De acordo com a pesquisadora Ana Paula C. Gabriel Berilli, do Ifes de Alegre e que também trabalha em pesquisas com o gengibre por meio do FortAC, “O Estado do Espírito Santo é o maior produtor e exportador nacional”, salienta.

Se o mercado externo é palavra-chave na cultura, há ainda um nicho que precisa ser trabalhado, salienta Sávio Berilli. “O mercado externo é bastante exigente e há uma boa parte do gengibre que é descartado. Queremos viabilizar novos produtos beneficiados a partir do gengibre, como óleo essencial e gengibre seco. Há muitas possibilidades, inclusive de se usar outras partes da planta, como as folhas. Mas isso é um trabalho que ainda demanda algum tempo”, disse, salientando a importância da agroindústria para o beneficiamento de todo o produto.

Destaque

Diversos são os fatores do sucesso da produção e cultivo no Estado, salienta a pesquisadora. “O fator determinante é a adaptação às condições edafoclimáticas locais. Mesmo sendo considerada uma planta rústica por não necessitar de muito manejo em seu ciclo, as condições encontradas aqui favoreceram o seu cultivo. Outro fator muito importante que merece ser destacado é o  cultural, pois os produtores de gengibre, cerca de mil famílias, são de base familiar e de origem pomerana e o cultivo dessa espécie é passado de pai para filhos e filhas na região. Acredita-se que este costume está associado ao fato de a planta ser uma cultura rentável, apresentando um alto rendimento por área, além de ser super valorizada internacionalmente pelas suas vastas propriedades terapêuticas e diversidade a serem manuseadas, desde a área da culinária à utilização na medicina natural”. 

O terceiro fator determinante, salienta Ana Paula, é que o gengibre é uma espécie de propagação vegetativa. “O gengibre é uma planta estéril e sua forma de cultivo consiste em multiplicar partes da planta (rizomas-sementes), originando indivíduos idênticos à planta-mãe e gerando uma lavoura predominantemente ‘uniforme’”. 

Contudo, uma cultura sem variabilidade genética, é uma cultura mais suscetível a patógenos, explica. “Em contraposição a isso, uma planta-mãe bem selecionada oferece ao produtor uma lavoura com um vasto potencial produtivo e de crescimento similar. Por conta disso, os programas de melhoramento genético são fundamentais, pois eles contribuem para que o material genético que vem sendo conservado de maneira ‘on farm’, dentro das propriedades rurais, mantidos pelos próprios agricultores, sejam preservados geneticamente ao mesmo tempo que se consegue atingir seu auge para padrões de mercado externo e interno, assim como na melhora da cultura para o enfrentamento de patógenos existentes, no caso do gengibre, a fusariose”.

Primeiras cultivares de gengibre do Brasil

A pesquisadora afirma, ainda, que estão sendo realizadas ações para a caracterização genética do gengibre dentro do FortAc. “Com o apoio financeiro do Programa FortAC e da Fapes, estão sendo feitas pesquisas ligadas ao Programa de Mestrado Profissional em Agroecologia do Ifes, que visam avaliar as características genéticas dos gengibres capixabas, promover o resgate desse patrimônio genético e, ainda, conduzir ações de melhoramento genético participativo”. 

A metodologia, apesar de não ser nova, é ainda pouco utilizada. “Todas as ações de pesquisa são conduzidas com a participação direta do agricultor dentro de sua propriedade. Assim, é garantido também valorizar o conhecimento tradicional associado do produto e acelerar o processo de seleção e de aceitação do material genético a ser cultivado, pois o agricultor aponta características desejáveis ou indesejáveis de cada um dos materiais que estão sendo caracterizados”.

O programa de melhoramento participativo de gengibre pretende alcançar objetivos a curto, médio e longo prazos, promovendo a seleção de plantas matrizes de gengibre que apresentem boa produtividade, bons aspectos visuais e que sejam livres de doenças.

“Essas pesquisas tiveram início em junho de 2022 e já trazem resultados bem promissores para a agricultura capixaba, uma vez que as pesquisas iniciais demonstram que há diversidade genética entre os materiais avaliados. Foram feitos também estudos moleculares por meio de marcadores de DNA que comprovam essa distância genética. Tudo está caminhando para, em breve, solicitarmos ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o registro das primeiras cultivares de gengibre do Brasil”.

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