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Anuário do Agro Capixaba

Avicultura capixaba cresce, apesar da gripe aviária

por Fernanda Zandonadi

em 05/01/2024 às 10h39

6 min de leitura

Avicultura capixaba cresce, apesar da gripe aviária

FOTOS WENDERSON ARAUJO/TRILUX – CNA BRASIL

Em 2022, a participação do Espírito Santo no cenário brasileiro de abate de frango teve uma leve alta e as granjas capixabas entregaram ao mercado 1,05% da produção nacional, percentual acima dos 0,93% entregues no ano anterior. Foram 135.352 toneladas de frangos ante 12.875.404 toneladas abatidas no país. A produção de ovos de galinha, por outro lado, registrou uma leve queda, passando de 368.040 mil dúzias em 2021 para 346.241 mil dúzias em 2022. Os maiores produtores de ovos do Estado são Santa Maria de Jetibá, que responde por 92,01% da produção capixaba, seguido de Santa Teresa (2%), Santa Leopoldina (1,45%), Venda Nova do Imigrante (1,44%) e Domingos Martins (1,24%).

Se a constância na produção de 2022, um ano pós-pandemia e que vários setores sentiram desgaste, é uma boa notícia, o ano de 2023 trouxe uma preocupação gigantesca para os avicultores de todo o país. Em maio, o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmou os primeiros casos registrados no Brasil de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1), conhecida como gripe aviária, em duas aves marinhas resgatadas no litoral do Espírito Santo. As aves eram da espécie Trinta-réis-de-bando e foram encontradas em Marataízes e em Vitória, Capital do Estado. Em junho, mais um desenrolar do problema o primeiro foco de gripe em uma criação de subsistência. A ave era um pato e estava em uma pequena propriedade que abrigava também ganso, marreco e galinha.

Apesar da gravidade da situação, as boas práticas impediram que a doença atingisse as granjas capixabas. “Não ocorreram impactos porque a enfermidade não atingiu o plantel comercial, muito por conta das ações que foram elaboradas pelo setor e que já vinham ocorrendo há muitos anos. A avicultura trabalha a biosseguridade há muitos anos e essa situação só colocou à prova que o sistema de biosseguridade nacional está funcionando. Destaco que a atenção segue redobrada, com os produtores e empresas fazendo os investimentos necessários para manterem suas granjas protegidas”, explicou Nélio Hand, diretor executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves).

A vigilância e o trabalho de sanidade ainda estão em vigor, destaca Hand. “Todas as medidas e recomendações ao setor comercial seguem e vêm sendo transmitidas para que a informação seja contínua, por exemplo, desinfecção de veículos no acesso às granjas; troca de roupas e calçados na entrada das granjas; restrição de entrada de pessoas nos ambientes das granjas; medidas para evitar o contato das aves comerciais com animais silvestres e de fora das granjas; reforço das telas de proteção das granjas etc. Em relação à população de uma maneira geral, também vêm sendo emitidas orientações para que a atenção continue sendo focalizada, pois os cuidados também devem valer para as produções de fundo de quintal e de subsistência e, é claro, com as aves silvestres. Estamos reforçando as orientações nos municípios para que todos fiquem atentos e estejam em alerta para qualquer tipo de caso”.

Neste momento, segundo Nélio Hand, o Estado vive um período de baixa na enfermidade, não foram detectados casos da Influenza Aviária. Isso porque, avalia, o período de migração das aves está em um momento reverso, com os animais retornando para o Hemisfério Norte do planeta. “Nós já temos algumas semanas que não são registrados casos. Mas, mesmo não tendo nenhuma incidência neste período, a atenção e os cuidados seguem sendo realizados”, explica, em entrevista concedida em novembro de 2023.

Questionado sobre como será o processo da gripe aviária nos próximos anos, Hand avalia que não é um quadro que deve se estender por muito tempo, tendo em vista o histórico da doença. “A doença existe há mais 20 anos em várias partes do mundo e, mais recentemente, chegou nas Américas como um todo e, no ano passado, ‘desembarcou’ na América do Sul e, em maio, no Brasil. O que nós, enquanto setor, estamos reforçando, é que as granjas estejam cada vez mais preparadas para lidar com essa situação, trabalhando as medidas sob o ponto de vista de biosseguridade com as exigências sendo cada vez maiores, ou seja, produtores e empresas terão sempre de redobrar a atenção e trabalhar para mitigar os riscos. Por outro lado, espera-se que as autoridades estaduais e federais tomem medidas que possam ajudar o setor no controle com ações de fiscalização, registro dos estabelecimentos, discussões com o setor avícola nacional sobre o uso ou não de vacinas, estabelecimento de ações para casos estratégicos de combate ao foco, etc”.

Mesmo com os revezes, o setor continua a crescer. Na postura comercial, se comparados os plantéis, entre setembro de 2022 e setembro de 2023, a produção do Espírito Santo cresceu 6,26%. Fazendo um comparativo entre os meses de janeiro e setembro de 2023, a produção está 7,5% maior do que no início do ano, mas esse número deve evoluir para cerca de 10% ao final do ano. “Mesmo com esse crescimento, é importante ressaltar que a produção está bem abaixo dos volumes que nós tivemos em outros anos, principalmente em 2021, durante o período da crise dos grãos, pandemia e as guerras, com um mercado que se manteve mais aquecido com os custos e fazendo com que os alojamentos reduzissem drasticamente. Se formos comparar o início de 2021 com setembro de 2023, nós temos uma diferença grande. Hoje, a avicultura de postura comercial capixaba produz em torno de 13 milhões de ovos por dia, sendo que em 2021 a produção era de 15,5 milhões de ovos por dia. O segmento vem se recuperando dessa queda, mas ainda não se tem uma perspectiva a curto prazo de uma recuperação total, pois nós tivemos produtores que pararam suas atividades”.

No caso do segmento de frango de corte, os números do acumulado entre janeiro e setembro de 2022 e o mesmo período de 2023, ocorreu um alojamento 10,7% menor. “Isso também é ocasionado pelos altos custos. A carne de frango também sofreu queda em seus preços, o que fez com o que o alojamento capixaba tivesse uma redução. Nossa perspectiva é que essa diminuição entre 2022 e 2023 possa ser na ordem de 8% até 10%, haja vista que o mercado tem apresentado uma recuperação, mas ainda não suficiente para dar confiança às empresas e aos produtores para produzirem mais”, ressaltou, afirmando ainda que as exportações correspondem a 8% da produção de frango capixaba, apresentando uma estabilidade. Hoje o Espírito Santo exporta frango especialmente para a Ásia, Europa e América. No caso dos ovos, não há registro de volumes exportados.

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