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Anuário do Agro Capixaba

Mamão capixaba ganha os ares

Tecnologia, mercados abertos e novos modais impulsionam o  mercado da fruta

por Fernanda Zandonadi

em 29/02/2024 às 6h19

6 min de leitura

Mamão capixaba ganha os ares

Imagem: DALL-E-3

A produção de mamão capixaba tem se mantido estável. Em 2022, saíram dos pomares do Espírito Santo 426 mil toneladas do fruto, pouco abaixo das 439 mil toneladas do ano anterior. A pequena queda pode ser explicada pela área colhida, que baixou de 7,2 mil hectares em 2021 para 6,9 mil hectares em 2022. O rendimento médio, no entanto, cresceu, passando de 60,6 mil quilos por hectare em 2021 para 61,66 mil quilos em 2022.

Os municípios mais representativos na cultura são Pinheiros, que responde por 29,53% da produção, seguido de Linhares (14,06%), Montanha (13,92%), Pedro Canário (8,99%) e São Mateus (8,53%).  

Segundo o pesquisador do Incaper, Renan Batista Queiroz, o preço do mamão tem se mantido atrativo, mas a área plantada ficou estável principalmente pela falta de novos produtores apostando na cultura. “Não são muitos que entram no cultivo. Isso por conta de problemas fitossanitários, como viroses. Então, aqueles que já plantam mamão, continuam, mas não há entrada de novos produtores no mercado”, ressalta. 

Para quem permanece apostando no fruto, as recomendações são cuidados com doenças como meleira e mosaico. “Não temos outras recomendações senão o corte da planta infectada. Atenção também com problemas com insetos, principalmente ácaros e cigarrinha. Têm surgido, no mercado, novos produtos para o controle de ácaros, mas ainda estão sem registro. Temos fomentado, portanto, a verificação periódica das plantas por pessoas treinadas, os chamados fitossanitaristas. Esses profissionais identificam a infestação no início e o controle fica mais efetivo”, avalia. 

Se o cuidado no manejo é a regra de ouro, os preços prometem compensar para o produtor. “O preço está bom e a exportação está em um ótimo patamar, especialmente para os Estados Unidos e Europa. O mercado do Chile também está se abrindo. O mamão Havaí da variedade aliança está com uma aceitação boa, por ser um fruto mais saboroso, apesar de ter uma coloração mais esverdeada e polpa diferentes”. 

 Exportação 

Em agosto de 2023, o mamão ganhou os ares capixabas. O Aeroporto de Vitória iniciou a exportação de algumas mercadorias, entre elas, o mamão e peixes. Antes, esses produtos eram transportados por via rodoviária. A primeira carga de mamão alçou voo na maior aeronave que opera no Espírito Santo, o Airbus 330-220F da colombiana Avianca Cargo. 

As pesquisas do Incaper contribuíram diretamente na abertura do mercado norte-americano para o mamão capixaba, garantindo fitossanidade das frutas para atender aos critérios daquele mercado. E continuamos antenados a novas demandas do setor. Vamos continuar contribuindo com as ações atuais, visando melhorias nos processos que permitam ampliar a frequência e rotas para exportar nossos produtos do agro capixaba”, garantiu o diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot.

Tecnologia de ponta

O aperfeiçoamento é fundamental para que o mamão capixaba continue a ganhar mercados. Algumas alternativas têm chamado a atenção dos produtores, especialmente na hora do plantio. É preciso ir na florada para entender essa tecnologia. O mamão tem flores femininas, que geram um fruto mais arredondado, e flores masculinas. As frutas de ambos não são comerciais. 

“Precisamos de uma planta hermafrodita, que gera um mamão em formato de pera, que o mercado quer. Os produtores, portanto, tinham de plantar três mudas numa mesma cova para garantir uma hermafrodita. Daí, era esperar uns dois meses para o mamoeiro crescer, analisar a flor e deixar apenas a planta hermafrodita. Esse produtor gastaria dinheiro com irrigação, adubação e manejo. Hoje em dia, já há tecnologias que identificam se a planta, desde nova, é hermafrodita. Quer dizer, ao invés de três plantas por cova, ele terá de cuidar de apenas uma. Apesar de a muda ser um pouco mais cara, há redução de custos e o mamoeiro fica mais precoce e produz mais cedo. É o chamado mamão sexado”, finaliza o pesquisador do Incaper, Renan Batista Queiroz.

Parceria estratégica vai fortalecer  cadeia produtiva do mamão capixaba

O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex) celebraram, em novembro de 2023, um protocolo de intenções para implementação de ações conjuntas de pesquisa e desenvolvimento destinadas a fortalecer a cadeia produtiva do mamão no Espírito Santo. A parceria é considerada estratégica para ajudar o Estado a se manter como maior exportador de mamão do Brasil e entre os maiores produtores do país. O valor da produção capixaba do produto ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão em 2022, quando o Estado produziu 426 mil toneladas da fruta.

Desenvolvimento de práticas de manejo para controle de pragas e doenças com foco em viroses, desenvolvimento de materiais genéticos dos grupos Solo e Formosa e técnicas de conservação e aumento do tempo de prateleira para transporte estão entre as ações previstas no acordo.

Na assinatura do documento, o diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot, enfatizou que o instituto foi determinante para que o Espírito Santo alcançasse a posição de destaque que tem hoje na cultura do mamão, e reafirmou o compromisso da instituição com o fortalecimento desse arranjo produtivo.

“Estamos sempre empenhados em ajudar a elevar a produtividade e a competitividade da cadeia produtiva do mamão, que é tão importante para o nosso Estado. Toda a nossa expertise técnica e científica, bem como a nossa capacidade de pesquisa e inovação estão à disposição para que possamos alcançar os resultados que desejamos a partir desse trabalho colaborativo entre entes público e privado”, disse Fiorot.

O presidente da Brapex, José Roberto Macedo, afirmou que a formalização do acordo é um novo capítulo da histórica parceria entre as organizações. “Esse trabalho de cooperação vem em boa hora, porque precisamos dar um novo passo para que o mamão capixaba se consolide como o melhor mamão do mundo e se fortaleça na liderança na exportação. Estamos muito otimistas”, frisou.

As ações de pesquisa do Incaper voltadas ao fortalecimento da cultura do mamão também contam com o apoio da Associação dos Produtores de Mamão do Brasil (APM). Pesquisadores do instituto estão trabalhando em parceria com a organização para desenvolvimento de soluções de controle e identificação de virose, dentre outras linhas de trabalho conectadas à cooperação com a Brapex.

 

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