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Anuário do Agro Capixaba

A redescoberta do abacate

Antes tratado como vilão das dietas, abacate é visto como um alimento de valor nutricional e ganha status de estrela de pratos salgados

por Fernanda Zandonadi

em 22/01/2024 às 11h17

6 min de leitura

A redescoberta do abacate

Foto: Freepik

O mercado do abacate está se redescobrindo e isso se deve muito à forma de consumo do fruto. Se antes o brasileiro degustava a polpa com açúcar ou em “batidas” com leite, hoje a iguaria é usada também em pratos salgados e saladas.

“Na minha geração, comia-se o abacate com açúcar. Na dos nossos filhos, o abacate é também servido salgado. Essa versatilidade abriu o mercado. Além disso, desmistificou-se que o abacate engorda. Hoje, sabe-se que ele tem um nível nutricional poderoso e possibilidades culinárias gigantescas”, explica Lígia Carvalho, diretora-presidente da Associação Abacates do Brasil (AAB).

Ela conta que o setor da beleza também encontrou um aliado no fruto. “Em Minas Gerais, há produtores com linhas de cosméticos e, em vários outros Estados, estão beneficiando e oferecendo ao mercado o óleo feito da polpa. Tudo vai para cosméticos de shampoo, hidratante”.

A tendência, portanto, é aumento no volume de área plantada. “Nos últimos sete anos, só observamos crescimento e toda produção é vendida. Há, ainda, a exportação. Somente em 2023, nós duplicamos a exportação de avocado (variedade de abacate) brasileiro. Além disso, é a sétima fruta mais vendida no país”.

O Espírito Santo faz bonito nessa história. O Estado é o 4° maior produtor de abacate do Brasil. Somente em 2022, o Estado produziu 24.991 toneladas da fruta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, o valor bruto da produção capixaba do produto ultrapassou a marca de R$63,3 milhões. Um crescimento de 114% em relação ao ano de 2021, quando o valor era de R$ 29,5 milhões.

No Espírito Santo, em 2021, a fruta era cultivada em uma área de 918 hectares, com produção de 11.657 toneladas e produtividade média de 12,7 toneladas por hectare. Já em 2022, a área expandiu para 959 hectares (+4,47%), a produção foi de 24.991 toneladas (+114%) e a produtividade passou a ser de 26,1 toneladas por hectare (+114%).

De acordo com a Gerência de Dados e Análises da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (GDN/Seag), segundo o IBGE, em 2022, o Espírito Santo foi o 4º maior produtor de abacate do Brasil, representando 7,38% da produção nacional, atrás apenas de São Paulo (43,27%), Minas Gerais (29,60%) e Paraná (8,92%). Em 2021, foi o quinto maior produtor. Ainda segundo o censo, há 572 estabelecimentos rurais com produção de abacate no Estado, dos quais 69% são da agricultura familiar.

Exportação
Além do mercado interno, a exportação é um caminho que está aberto. Entre os principais compradores estão países da Europa, Argentina, cujo mercado foi aberto durante a pandemia e Paraguai. “Temos ainda Dubai, Canadá e outros mercados em estudo. O Chile é um parceiro estratégico, pois a logística é feita por via terrestre e eles estão com declínio de produção”, explica Lígia Carvalho.

A associação também trabalha para abrir o mercado norte-americano, que é o maior importador do mundo. “Os Estados Unidos tem uma área de produção na Califórnia, mas ainda consome mais do que produz, por isso importa muito. Lembrando que o maior consumidor do fruto ainda é o México. Mas trabalhamos para abrir o mercado do Japão, que é bastante rigoroso, e o da Índia”, salienta a diretora da AAB.

E o mercado quer mais abacate do Brasil. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que o abacate se tornará a fruta tropical mais comercializada do mundo até 2030, com exportações globais superando as quatro milhões de toneladas e deixando para trás frutas como abacaxi e manga. Apenas a banana será mais consumida, segundo as previsões. “É uma fruta versátil, muito consumida e que tem um mercado em franco crescimento”, acrescenta.

Pragas

Diante de tantas possibilidades, cuidar da plantação é regra. Entre as pragas que mais podem afetar os pomares do Sudeste do país está a lagarta do fruto (Stenoma catenifer) e a chamada podridão de raízes (Phytophthora cinnamomi), um fungo que causa redução no desenvolvimento das plantas, folhas amarelas, queda de folhas, produção de frutos menores e até mesmo morte das plantas.

“O manejo integrado de pragas está sendo muito usado hoje em dia. Biodefensivos, pulverização via drone, mapeamento com pragueiros, ou seja, pessoas que monitoram as plantas e têm planos de ações para controle e fim das doenças. É importante lembrar também do pós-colheita, especialmente quem quer exportar. Para dar uma ideia, o fruto que tem contato com a terra não é aceito no mercado externo. Então, a colheita deve ser feita com tesoura e o pedúnculo deve ser mantido. Quando o pedúnculo é tirado, as fibras internas se oxidam e isso desvaloriza o fruto”, explica Lígia Carvalho.

Qual a diferença entre o avocado e o abacate?

A diferença entre o avocado e o abacate tropical, como é chamado o fruto mais comum, é o teor de água. Isso porque o avocado tem cinco vezes menos água e uma polpa mais cremosa. Já o tropical tem uma polpa mais macia.

Além disso, é um produto bastante interessante para os produtores que querem exportar, conta Lígia Carvalho, diretora-presidente da Associação Abacates do Brasil (AAB). “O avocado tem um tempo de prateleira maior, de até 42 dias, ou seja, ele consegue fazer grandes distâncias. Já a exportação do tropical tem de ser feita por via aérea, o que torna o frete mais caro”, explica, salientando que os dois tipos gostam de altitude e do mesmo microclima apreciado pelo café arábica.

Abacate ganha o Espírito Santo

A produção de abacate capixaba no ano passado originou-se de 25 municípios, dos quais Venda Nova do Imigrante lidera a produção, com 13.710 toneladas (54,85% da produção estadual). Em segundo lugar está Vargem Alta, com 3.600 toneladas (14,40%), seguido por Marechal Floriano, com 1.875 toneladas (7,50%), e Castelo, com 1.140 toneladas (4,56%). Outros 21 municípios produziram em menor escala.

No Espírito Santo, o clima tropical/subtropical favorece a ampliação do cultivo do fruto. Segundo Cesar Abel Krohling, engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), de Marechal Floriano, os produtores têm investido na produção de abacates de qualidade, buscando variedades adequadas ao clima local e adotando práticas de cultivo que visam à maximização da produção e à qualidade dos frutos.

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