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Agro Rio de Janeiro

Vermelho, roxo ou marrom: o arroz ganha cores e conquista novos mercados

Numa reviravolta de mercado, novas variedades de arroz surgem para revigorar o agronegócio fluminense

por Fernanda Zandonadi

em 15/07/2022 às 9h13

6 min de leitura

Vermelho, roxo ou marrom: o arroz ganha cores e conquista novos mercados

₢Foto: Leandro Fidelis

A produção de arroz entrou em queda nos últimos anos no Rio de Janeiro. Das 1,88 mil toneladas entregues em 2017, queda para 114 toneladas produzidas em 2020, baixa de quase 94%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produtividade alcançou seu auge também em 2017, com 5,5 mil quilos por hectare, e entrou novamente para dentro da média nos anos posteriores, alcançando os 3,3 mil quilos por hectare em 2020. As cidades maiores produtoras em 2020 foram: Italva, Cantagalo, Itaperuna, Cambuci e Silva Jardim.

A redução na produção ocorreu por instabilidade no mercado há 42 anos, segundo Silvino Amorim Neto, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro). “Foram problemas socioeconômicos, relacionados ao baixo valor do produto e escassez de mão de obra. Nesse cenário, surgiu a exploração do arroz gourmet, que está tendo grande aceitação na agricultura familiar”, explica.

E o arroz gourmet fluminense chegou para ficar, com seus grãos com coloração e propriedades diferentes, ricos em proteínas, sais minerais, cálcio e magnésio. São arrozes pretos, vermelhos, roxos e marrons. No Estado, o preto e o vermelho foram os que melhor se adaptaram.

₢Foto: Leandro Fidelis

“Entramos no mercado há uns quatro anos, visando a explorar esse nicho que tanto tem crescido no Brasil. Uma das vantagens de consumir e cultivar esses grãos é que os pretos, por exemplo, são o que chamamos de nutracêuticos”, explica o pesquisador, citando uma nova modalidade científica que une a nutrição e a farmacologia. Na prática, isso significa que esses grãos são bons aliados de um corpo saudável.

Apesar de recente em solo fluminense, a história do arroz preto é milenar. Originário da China, foi considerado o arroz proibido, somente permitido seu consumo pela família do imperador. “Ele é consumido há mais de 5.000 anos na China e, de lá pra cá, evoluiu muito. Hoje, temos mais de 50 variedades de arroz preto no país asiático. Em 1984, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) fez o estudo de uma variedade e, por seleção, surgiu o primeiro arroz preto mais adaptado ao solo e clima brasileiro, o IAC 600”.

Depois disso, por meio de um convênio da Pesagro Rio e do Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão da Embrapa, foram introduzidas duas outras cultivares no país. “A primeira, SCS 120 Ônix (preto), foi selecionada em Santa Catarina. Já a Embrapa selecionou o BRS 902 (vermelho), ainda mais produtivo que o preto”.

O trabalho de inserção das novas cultivares foi gradativo e artesanal. Foram distribuídas sementes para os produtores de Lage do Muriaé e Italva. Mais recentemente, foram levados grãos para 30 produtores de São José de Ubá. “Alguns agricultores, de forma artesanal, estão vendendo bem em feiras ou direto ao consumidor. O diferencial, além da variedade, é que é um arroz agroecológico, sem uso de herbicidas ou fungicidas, e que são produzidos em pequenas áreas, de cerca de meio hectare”.

Arroz e agricultura sustentável

Já no quarto plantio dos arrozes preto e vermelho – o primeiro foi em 2019 – a produtora Benize de Freitas comemora. “Começamos com menos de meio hectare, depois fomos aumentando gradativamente e hoje temos, em média, dois hectares plantados de arroz preto e de vermelho”, conta a produtora Benize de Freitas, moradora de Italva e proprietária da Fazenda da Penha, em Cambuci.

ARROZ GOURMET 16

Na Fazenda  da Penha, em Cambuci, a produtora Benize de Freitas apostou na produção agroecológica (₢Foto: Leandro Fidelis)

“A primeira colheita foi de muito trabalho e aprendizado. Recebemos as sementes da Pesagro e Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), mas tínhamos dúvida quanto à adaptação para cultivar. Muita água? Pouca água? Com o tempo, vimos que poderíamos administrar a plantação tal qual fazíamos com arroz branco”.

A propriedade de Benize é totalmente agroecológica. Apesar de terem trator e máquina de bater arroz, eles não são usados. Tudo é feito da forma tradicional, por opção dos produtores. “Temos paixão pela manutenção do meio ambiente e pelo cuidado com a natureza. Então, por sermos assim, e termos parceria com o projeto Conexão Mata Atlântica, juntamos uma coisa com a outra. Não gostamos de química nenhuma. Tudo é sem remédio e feito de forma artesanal”.

A produção chega a uma tonelada e meia de arroz vermelho hoje em dia, e duas toneladas de arroz preto. Pelas propriedades medicinais, Benize diz que aposta mais nesse cultivar. Por não terem o Selo de Inspeção Municipal (SIM), a venda é direta ao consumidor e os produtos ainda não são oferecidos em mercados. Parte da produção é colocada à venda na Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária de Italva (Copafi); a outra parte é vendida na propriedade.

A comercialização é voltada para aqueles que buscam um produto com propriedades únicas, seja em sabor, seja em retorno nutricional. Segundo ela, muitos médicos compram os produtos, além de restaurantes que oferecem pratos diferenciados. “Além dos consumidores fluminenses, nosso arroz já foi para Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. É, ainda, um mercado restrito, por não termos o selo. Mas é um começo. Hoje, estamos entrando no turismo rural, que é outra via de saída do produto”, conta a produtora.

Ela ressalta que o processo de produção também agrega valor ao produto. “Preparamos a terra usando arado de boi. Depois, colocamos as mudas, manualmente, na terra. E vem a capina, com todo cuidado e sem remédio. Daí, colhemos e usamos uma caixa para bater o arroz ali mesmo. O beneficiamento é feito na máquina da associação de produtores. Feito isso, separamos impurezas, embalamos e colocamos o rótulo para venda. É um produto que requer muito trabalho, mas vale a pena”, comemora.

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