Mais lidas 🔥

Na Vila Batista
Vila Velha certifica sua primeira agroindústria de mel

Mercado
Preços do mamão formosa sobem com oferta menor nas principais regiões

Reconhecimento nacional!
Conexão Safra vence o Prêmio Ibá de Jornalismo 2025

De quarta para quinta
Veja as 55 cidades capixabas que estão sob alerta vermelho para temporais

Momento de atenção!
Espírito Santo tem alerta por risco de granizo e tempestades; veja as cidades

Discutir saúde mental deixou de ser tabu e passou a ser necessidade também no meio rural. Para a editora da Conexão Safra, Kátia Quedevez, o tema precisa ganhar espaço no debate público, nas políticas de apoio ao produtor e também no jornalismo especializado em agronegócio.
“Estamos há 14 anos comunicando sobre o agro e, ao longo dessa trajetória ouvimos relatos muito fortes, especialmente de mulheres, que sentem a sobrecarga de não dar conta de tudo”, afirma Kátia.
Ela lembra que, além dos desafios já conhecidos do setor — como intempéries climáticas, insegurança na comercialização e contato frequente com produtos químicos —, há a questão da sucessão familiar. “Muitas vezes, filhos e netos não querem continuar na terra, e isso pesa ainda mais sobre quem está no campo”, acrescenta.
Segundo Kátia, as mulheres enfrentam um acúmulo ainda maior de responsabilidades. “Quando você olha para a produtora rural, além dos problemas do segmento, ela tem a rotina da casa, dos filhos e dos netos. Esse fardo vai se acumulando ao longo do tempo e pode levar ao adoecimento”, destaca.
A jornalista observa que, mesmo entre produtores bem-sucedidos, o sofrimento silencioso é uma realidade. “Tenho visto casos de campeões de concursos que voltam para casa premiados, cheios de energia positiva, mas se deparam com a rotina pesada da roça e entram em depressão”, conta.

Para ela, o tema se tornou ainda mais evidente após a leitura da reportagem que é capa desta edição, assinada pelo jornalista Leandro Fidelis, sobre os altos índices de suicídio em municípios do interior capixaba. “Senti a urgência de focar no assunto ao ler os relatos dos produtores, que se sentem sobrecarregados. Líderes religiosos também deram seus testemunhos sobre as tantas cerimônias de despedida de pessoas que tiraram a própria vida. E quando consultamos pesquisas, percebemos que os índices de depressão e ansiedade no campo são ainda maiores do que nas cidades. É um paradoxo: todos querem viver no lugar calmo e tranquilo, mas, na prática, a realidade rural pode ser dura e solitária”, afirma.
Kátia reforça que o desafio é maior porque, diferentemente do trabalhador urbano, o produtor rural muitas vezes não tem a opção de se afastar.
“Na cidade, alguém com carteira assinada que adoece, pode se afastar do trabalho e se cuidar. Mas, no campo, não existe esse tempo remunerado. O produtor pode estar com depressão, ansiedade ou síndrome do pânico, mas mesmo assim precisa dar comida para os animais, cuidar da roça, dirigir o beneficiamento do café. Ele não pode parar”, ressalta.
A editora acredita que o papel da comunicação é essencial para jogar luz sobre o problema e abrir caminhos de acolhimento. “A ideia é mostrar que isso existe, que está diante dos nossos olhos, e ouvir quem já conseguiu superar situações de adoecimento. Vamos continuar a falar sobre isso, conversar com psicólogos, psiquiatras, terapeutas, líderes religiosos e, principalmente, com os produtores. A saúde mental do homem e da mulher do campo precisa estar no centro do debate”, defende.
A Conexão Safra, segundo Kátia, prepara uma série de conteúdos voltados ao tema, em sintonia com iniciativas como o Saúde no Campo, programa do Senar-ES que leva assistência à saúde física e mental das famílias rurais. “O trabalho da Safra sempre foi dar protagonismo ao produtor, mas agora precisamos ampliar esse olhar: um produtor só pode ser protagonista de verdade se estiver com a mente saudável”, conclui.





