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Pimenta-do-reino plantada em tutor vivo rende prêmio nacional a capixaba

por Rosimeri Ronquetti

em 29/02/2024 às 0h52

5 min de leitura

Pimenta-do-reino plantada em tutor vivo rende prêmio nacional a capixaba

Fotos: arquivo pessooal

*Matéria publicada originalmente em 25/01/2023

Quando decidi plantar sabia que era um risco. Muitos diziam que era doideira, mas foi um risco que corri e deu certo”. A frase é do produtor rural José Sartório Altoé, de Jaguaré, no Norte do Espírito Santo, e o plantio em questão acaba de conquistar o 3º lugar no primeiro Prêmio Planeta Campo, promovido pelo Canal Rural.

A lavoura, 33 mil pés de pimenta-do-reino plantados no nin indiano, tutor vivo que substitui a estaca de eucalipto tratado, concorreu com outras 170 experiências de todo o país, na categoria produtor rural de médio porte. A premiação aconteceu em dezembro passado e não foi a única. O plantio da especiaria também foi o grande vencedor do prêmio Biguá de 2022, na categoria sustentabilidade e preservação ambiental.

Mas o que de especial tem, afinal, essa plantação? Quem responde é a mulher do produtor e responsável pela parte administrativa da fazenda, Terezinha Lúcia Sossai Altoé, conhecida por “Morena”.

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Nós plantamos árvores e não as cortamos, este é o nosso maior diferencial. No cultivo convencional da pimenta é preciso cortar o eucalipto e trata-lo com produto químico para a estaca não estragar. Já com o uso do nin, plantamos árvores e não usamos produtos químicos”, explica Morena.

Além da “lavoura premiada”, com sete anos, a família plantou mais 16.500 pés em 2022 e prepara o solo para mais 18 mil, todos no nin. O objetivo é sair de 33 mil para 70 mil pés de pimenta. O rendimento anual da propriedade é de 5.500 quilos por hectare.

 

Autodidata

Quando o cafeicultor resolveu começar o processo de diversificação de culturas na fazenda Bela Morena, localizada no Córrego Barroquina/Jundiá, optou pela pimenta-do-reino por ser muito comum no município. Jaguaré é o segundo maior produtor estadual da especiaria. No entanto, diferente dos demais pipericultores da região, José decidiu pelo plantio no nin, em vez da estaca, para diminuir os custos de produção.

O eucalipto tratado é muito caro. Pesquisando na internet uma alternativa vi a viabilidade do nin. Era algo novo, quase ninguém sabia dizer nada na época, não tinha referência, pesquisei sozinho, aprendi a conduzir a planta, errei, acertei e, hoje, colhemos o resultado. Economizamos no plantio e cuidamos do meio ambiente ao mesmo tempo”, pontua Sartório.

Por se tratar de uma árvore, o nin cresce e precisa ser podado para controlar a altura dos pés de pimenta. Para ajudar nessa tarefa, José criou uma máquina de podar. “No início, a poda era fácil, até uns seis anos da planta. Agora ficou mais difícil devido à altura da árvore. Então, desenvolvi uma máquina para podar e melhorar a qualidade do serviço, fazer mais rápido e economizar com mão de obra”.

Além do café e da pimenta, o produtor também produz coco consorciado com café e começou uma experiência com coco consorciado com cacau.

Caminho sem volta

Morena conta que eles eram produtores convencionais, como quaisquer outros que produzem sem muita consciência ambiental e de preservação. Porém, nos últimos anos, isso vem mudando. Começaram a participar de cursos, palestras e lives e a se interessar mais pelo assunto.

Na prática, além do plantio da pimenta no nin, a família trocou a irrigação feita no pivô central pelo gotejamento- o que ajudou significativamente na economia de água- a energia elétrica pela solar, que atende todas as demandas da propriedade e a casa da família em Jaguaré; e o pouco defensivo utilizado é biológico.

É um caminho sem volta.  As pessoas ainda não acreditam muito nessa questão de preservação, acham que o plantio no nin não funciona, e a nossa roça está lá bonita, tem perspectiva de aumento de produtividade e isso vem acontecendo ano após ano. Hoje, temos essa filosofia de preservação ambiental na nossa propriedade e as premiações mostram que estamos fazendo o certo: o futuro é a conservação. É uma satisfação grande para nós, produtores, saber que o que acreditamos está certo”, relata Morena.

Para a produtora, não é um caminho fácil e os desafios são muitos, mas não pensam em desistir. “A gente vai se adaptando. Tudo o que podemos fazer para não agredir o meio ambiente estamos fazendo. Esse é o desafio, fazer diferente. Não temos intenção nenhuma de voltar ao passado. Estamos muito felizes com o que temos feito na propriedade e ainda tem muito o que melhorar”.

Josember Lima Passos, técnico de campo no programa de Assistência Técnica e Gerencial (Ateg), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES), que atende a fazenda, fala do empenho da família quanto à preservação ambiental e à evolução dos produtores capixabas de maneira geral.

No Senar trabalhamos com uma ferramenta de indicadores socioambiental e temos a oportunidade de motivar e conscientizar os produtores para iniciativas voltadas para a sustentabilidade. É surpreendente e satisfatório ver a tamanha preocupação e compromisso deles com o meio ambiente. Aliás, de modo geral, a evolução da responsabilidade ambiental dos produtores rurais no Espírito Santo é extraordinária. É bom destacar que, além do compromisso de produzir alimentos, eles preservam matas e também são produtores de água“.

 

 

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