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O berço das orquídeas brasileiras fica na Mata Atlântica entre ES e RJ

Das 3.500 espécies catalogadas no país, 1.500 ficam em uma faixa compreendida entre os dois Estados

por Leandro Fidelis

em 22/02/2024 às 0h00

5 min de leitura

O berço das orquídeas brasileiras fica na Mata Atlântica entre ES e RJ

(*Fotos: Leandro Fidelis- Imagens com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

*Matéria publicada originalmente em 24/10/2022

A Mata Atlântica do Sudeste, principalmente a faixa compreendida entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro, apresenta a maior variedade de orquídeas nativas do mundo. O número aproximado é de 1.500 espécies, das 3.500 catalogadas no Brasil. A conta não inclui, por exemplo, as micro orquídeas só conhecidas in loco por quem visita as florestas com este propósito, mas nos dá a dimensão da riqueza do bioma predominante entre os Estados vizinhos.

A constatação é de especialistas capixabas, que ajudam a ranquear o Espírito Santo como referência em tecnologia de reprodução de orquídeas para melhoramento genético e conservação das espécies. Segundo o orquidófilo Aloísio Falqueto, apenas algumas áreas da Colômbia se aproximam da quantidade de orquídeas nativas da Mata Atlântica brasileira. Em todo o planeta, são pelo menos 36 mil espécies.

“O bioma do Sudeste brasileiro é a maior riqueza do mundo. Hoje, é muito difícil descobrir uma espécie nova de orquídea. É uma planta que já foi muito estudada e investigada. Todas estão catalogadas”, afirma Falqueto.

Com 22 anos de experiência na área, o orquidófilo ressalta que a variedade de climas no Espírito Santo é o que proporcionou a diversidade de plantas ao longo dos milênios e deu “a maior riqueza de espécies ao Estado”. “Isso nos torna um laboratório natural para diversificar e gerar novas orquídeas. Só de curiosidade, aqui tem muito mais espécies que na Amazônia onde, apesar da rica biodiversidade, predomina apenas um tipo de clima”.

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Aloísio Falqueto afirma que apenas algumas áreas da Colômbia se aproximam da quantidade de orquídeas nativas da Mata Atlântica brasileira.

A espécie nativa que mais se sobressai na Mata Atlântica são as Catlleyas, embora não muito valorizadas pelos colecionadores. Os destaques são as plantas das variedades warneri, schilleriana, velutina, amethystoglossa (mais comum no Norte capixaba e Sul baiano) e outras originárias do Cerrado mineiro, a exemplo da Cattleya walkeriana, também uma das mais reproduzidas no Brasil.

Aloísio Falqueto é sócio-proprietário do laboratório Viridescens, em Venda Nova do Imigrante, que produz 35 mil mudas por mês para atender 13 Estados do país. No município sede, assim que as plantas crescem, ele e sua equipe as plantam nas matas e nas árvores de jardins para repovoamento. “É uma maneira de preservar e aqui, onde tem o maior plantel de orquídeas nativas, a gente leva vantagem em relação ao resto do país”.

O laboratório se tornou referência ao mudar o modelo de trabalho com orquídeas. O principal é o sistema de tapagem do frasco, que permite cultivar a planta sob luz natural e variação climática. “Isso deu grande avanço, porque a muda sai muito mais adaptada que as produzidas em luz artificial, pois reconhece a luz do sol”, afirma Falqueto.

Ele conta que foi criticado pelas instituições de concessão de crédito quando lançou o laboratório porque, segundo eles, afirmavam que os orquidófilos “destroem a natureza”.

“É o contrário. Tudo o que vemos hoje é produzido em laboratório. Então, é uma maneira de preservar o patrimônio natural. Hoje em dia, se uma pessoa quer comprar uma orquídea, adquire a produzida em laboratório, pois já vem com melhoramento genético e é muito mais vistosa do que a planta nativa”.

Orquídea rara é campeã em exposição

O melhoramento genético das orquídeas atrai um público bem específico, disposto a pagar até o valor de um carro para ter híbridos perfeitos como matrizes e continuar aperfeiçoando as espécies. Em setembro, a 6ª Exposição Nacional de Venda Nova do Imigrante foi a oportunidade de especialistas e leigos adentrarem neste universo.

Um concurso com a participação de 23 expositores e jurados provenientes do Espírito Santo, Minas Gerais, Goiânia e Rio de Janeiro contou com orquídeas valendo entre R$ 15 mil e R$ 30 mil. A campeã da mostra foi a Cattleya amethstoglossa salmonela, premiada pela qualidade genética e raridade entre as plantas participantes.

De acordo com o orquidófilo Heron Gonçalves (Casa das Orquídeas), de Venda Nova, as Cattleya amethystoglossa são a bola da vez. Elas começam a florescer em setembro, tem alto valor agregado e perfume maravilhoso. “As orquídeas desta espécie que foram julgadas são plantas de alto padrão de melhoramento genético. O colecionador quer uma planta premiada porque vai valorizar e fazer uma nova genética dela, cruzando duas plantas para terem novos filhos. Isso é que leva o colecionador para a exposição”, diz.

Mercado asiático é o que mais valoriza genética

O orquidófilo Domingos Sávio Calimam, de Venda Nova do Imigrante, soma 40 anos de experiência na área. Dono de um dos maiores orquidários em atividade no Brasil, ele reafirma a posição do Espírito Santo no ranking nacional como referência na reprodução da planta.

Ainda de acordo com Caliman, o mercado asiático é o que mais valoriza orquídeas geneticamente melhoradas. “Os asiáticos valorizam genética porque sem este trabalho as orquídeas morrem na natureza. Só restou 7% das espécies nativas na Mata Atlântica”, diz.

Recentemente, um híbrido desenvolvido no orquidário foi parar no Japão. Estamos falando de plantas de alto valor agregado, a exemplo da Cattleya schilleriana albescens, que custa R$ 80 mil (*na foto abaixo).

Sávio e o irmão Cleto Nilo Caliman, o “Queco”, são pioneiros no Estado no fornecimento de cachepô feito com tronco de café em substituição do vaso plástico. Segundo a dupla, o produto barateia o custo para os produtores de orquídeas. “Hoje, a orquídea voltada ao público em geral não sai tão cara por conta disso”, afirma Sávio.

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