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Pimenta rosa é base de bebidas artesanais

*Foto: Divulgação

Matéria publicada originalmente 04/01/2022

Os Campos, de Barra do Riacho, zona industrial de Aracruz (ES), sempre foram ligados ao ramo de alimentos. O restaurante da família existe há 54 anos na localidade. O patriarca Otacílio Campos, falecido há dez, era um chef conhecido e cozinhou até para o príncipe Charles e a princesa Daiana, quando estiveram no Espírito Santo, em visita à Suzano, na década de 1990.

Mas a pandemia da Covid-19 os impactou diretamente. Além de terem que fechar o tradicional estabelecimento, o filho Anderson do Rosário Campos, dono de uma empresa de inspeção de solda, ficou impossibilitado de prestar o serviço para indústrias de alimentos em todo o Brasil.

A volta por cima veio da cultura em ascensão na região. De olho no movimento em torno da pimenta rosa, Anderson passou a se informar sobre a especiaria, testou as plantas do próprio quintal e reaproveitou toda a estrutura do restaurante para desidratar o fruto da aroeira para o mercado de exportação e ainda transformar o condimento em cachaça.

A ideia surgiu das viagens constantes a Salvador, onde se tornou apreciador da cachaça Gabriela, com várias versões saborizadas. “Descobri um valor agregado da pimenta rosa e me envolvi por esporte. Catando a mão, separando os grãos e fazendo um trabalho completamente diferente das indústrias”, conta o empresário.

Anderson produz, em média, 70 litros da bebida por batelada a cada 15 dias. O processo é bem artesanal e utiliza os equipamentos em inox da cozinha inativa do restaurante.

“É um produto que, se eu fizer cem litros, vendo tudo. Caiu no gosto, não sobra”, diz o empresário, que vende a cachaça entre amigos e pela internet.

O destilado artesanal é só uma parte dos novos negócios dos Campos nos últimos dois anos. Segundo Anderson, as primeiras edições da bebida foram feitas com pimenta nativa, adquirida junto aos indígenas de Aracruz. A partir de 2022, a expectativa é de a matéria-prima vir da produção própria de 25 mil pés plantados há um ano. “A planta começa a produzir normalmente em dois anos, mas de dezembro a janeiro costuma ocorrer uma safra ‘temporona’ e devo colher umas cinco toneladas”, diz Anderson. 

A rede de apoio contribui para o sucesso da família com pimenta rosa. O empresário teve suporte do exportador Tarcísio Malacarne “que começou a me inserir no mercado, dando toda instrução e ajudando a montar a base”. 

De acordo com Anderson, no interior do restaurante ele adaptou os congeladores e self-services como estufas infravermelhas para obter produto de qualidade superior, mantendo todas as propriedades da aroeira valorizadas pelos compradores.

Além da cachaça, em Regência (Linhares) já existe cerveja à base de pimenta rosa. “A pimenta rosa é um produto que pode agregar valor sem interferir no mercado do condimento. Trata-se de um mercado que, muitas vezes, absorve os resíduos da produção, usando para adubar, embora seja um material riquíssimo. Ao produzirem cerveja, cachaça e hidrolatos, esses produtores estão dando uma destinação muito mais nobre à especiaria”, avalia Fabiana Ruas, bióloga do Incaper.

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos