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Viticultura: Produtores de Vargem Alta vão da uva para o vinho

por Redação Conexão Safra

em 07/10/2013 às 0h00

7 min de leitura

Viticultura: Produtores de Vargem Alta vão da uva para o vinho


O café ainda é uma cultura forte no sudeste do país, principalmente no sul do Espírito Santo. Na região, grande parte dos agricultores vivem do cultivo do grão. Porém, aos poucasf essa realidade começa a mudar.


O Espírito Santo é privilegiado por ter um clima que varia de uma região para outra devido à nossa proximidade com o mar e as montanhas. Visando fugir um pouco dessa monocultura alguns produtores buscam novas alternativas de cultivarem outras culturas.


Um exemplo de agricultor que mesmo tendo o café como carro chefe, tem há 12 anos investido no cultivo da uva é Ozeas Pasti. Ele e sua esposa Antonieta Piazola Pasti cuidam atualmente de 1.200 videiras em 0,7 hectares, no interior de Vargem Alta, na localidade de Taquarussu. E, além disso, os dois ainda produzem vinhos, sucos e geléias da fruta.


Ozeas conta que a paixão pela uva vem desde pequeno. “Sempre gostei de mexer. Lembro que era moleque e queria subir para podar, mas não conseguia. A verdade é que tem que estar no sangue, se não tiver não tem jeito. Se você falar assim: vou investir para ganhar dinheiro, o primeiro problema que dá desiste, porque é muito complicado ”, afirmou o produtor.


Mudança


Mesmo com esse amor pelo cultivo de videira, ele só começou a dedicação à cultura por volta de 2007. As primeiras variedades que Ozeas plantou foram a Niágara Rosada, que é de mesa, ou seja, aquele tipo que compramos nos mercados e Moscatel, uma variedade para a fabricação de vinhos. “Esse ano consegui tirar 300kg da Moscatel para fazer o vinho branco. Já comecei até processálo. A ideia é fazer um espumante de forma manual, a princípio é somente experiência, pois o processo é muito difícil ”, disse. Das variedades que o produtor cultiva, apenas uma é para comercialização, que é a Niágara Rosada. “As outras variedades as pessoas podem ir ver e degustar, experimentar, tanto a Violeta quanto a Bordô, mas por enquanto não estou comercializando ”, frisou.


Até o ano de 2007, tudo que Ozeas sabia sobre o cultivo da videira vinha dos anos de experiência com a cultura. “Esse trabalho quando a gente começou plantando, foi assim, como diz um colega meu do Sebrae, por tentativas e erros, de qualquer maneira, colocando a videira, nos fios na espaldeira, que é a cerca, sem ter forma de conduzir ela direito. Depois de 2007 fiz um curso em Jales, São Paulo, que foi por meio do Sebrae. Aí comecei a aprender algumas coisas, sobre como é o manejo, totalmente diferente do que a gente fazia ”, explicou.

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Uvas


O cultivo de uva na região é antigo, ao contrário do que muitos pensam. De acordo com Ozeas, Vargem Alta tem produtores há mais de 60 anos. “Os primeiro produtores plantavam a variedade Isabel, isso há 60 anos. E nos anos 80 surgia a variedade Niágara, tem colega que tem pé dessa planta com mais de 28 anos. Aqui na propriedade papai tinha a Isabel. Hoje estou com 40 anos e quando ele comprou as alianças tirou uma parte da uva dele que colhia para ajudar a pagar as alianças na época. Então, é tradição da família italiana, todo mundo tem que ter um pezinho de uva no quintal ”, disse.


Manejo


Todo o cuidado com os pés é praticamente manual, apenas a irrigação das plantas é feita por microasperção: o trabalho com a limpeza dos bagos, eliminação do excesso de matos, poda das plantas e retirada do excesso de folhas.


“Aqui a terra é bem íngreme, é morro, mas o manejo aqui é bem frequente, é direto, você tem que estar sempre aqui. Porque você faz a poda, o encaminhamento de ramos e a capação, o desnetamento, o controle dos cachos, o tamanho de cachos ”, explica. Esse trabalho é realizado por ele e pela esposa.


Algumas técnicas de como manejar de forma efi ciente as plantas, Ozeas aprendeu com ajuda de cursos realizado por meio do Sebrae. “Depois do curso, pude perceber que o manejo era diferente do fazíamos. Antes não importava se desse uva ou não, mas agora tenho que fazer a videira produzir ”, explica.


Os pés são conduzidos no sistema latada 3×2, sendo três metros de linha e dois de pé a pé para melhorar a produção. E entre asmedidas para aumento da qualidade dos frutos está o cuidado com os cachos. Na variedade Niágara Rosada o produtor faz a retira dos cachos em excesso, se saem quatro o mesmo ramo, deixa-se apenas dois. No entanto, em variedade para a produção de sucos e vinhos não é necessário ter este cuidado.Como no período de maturação a planta precisa receber mais luz solar, é importante também a retirada de algumas folhas.


Produção


Para o produtor hoje a média de sua produção é satisfatória, pois tem alcançado números que se equiparam com a média do norte do estado, onde há cultivo de uva há mais tempo e com maior desenvolvimento tecnológico.


“Consegui uma produção de 16 quilos por planta da Niágara Rosada. Então já estou satisfeito, porque a média aqui no Espírito Santo ainda é bem baixa. Santa Tereza hoje está numa média de 20 toneladas, mas o município hoje está evoluindo, já estão trabalhando há um tempo e acompanhando a tecnologia ha mais tempo que nós ”, ressalta Ozeas. Ele completa dizendo que no sul estão apenas começando a preocupação com o cultivo.


Os pés na propriedade são plantas por portas-enxerto, no sistema de garfagem, os usados são os 572 e 766. Ozeas planta o cavalo por volta do mês de agosto, e um ano depois ele faz a enxertia.Com cerca de 45 dias ela ‘pega’ e daí é so fazer a condução. Os primeiros frutos começam a aparecer depois de dois anos.


“O ciclo dela fi ca em torno de 134 e 140 dias da poda à maturação. Então ela tem o ciclo todo de maturação, fl oração, fase chumbinho, endurecimento de baga até o amadurecimento ” informou.


Doenças


Devido à altitude da localidade de Taquarussu, que está há mais de 1000 metros acima do nível do mar, o maior problema enfrentado por Ozeias é a umidade. Com ela vem os fungos e são eles que causam doenças as plantas. Os mais comuns são o mídio e o oídio. “Com insetos não tenho problemas, estou deixando matos ao redor, não estou arrancando mais, só roço, não estou aplicando herbicidas, só a recadeira. O próximo passo é controlar o fungicida, tenho a esperança de trabalhar natural ”, disse Ozeas.


Os fungos atigem tanto os cachos quantos as folhas, cada uma tem uma reação diferente. O oído age na parte superior da folha, já o mídio age na parte baixa da folha, dando um mofo, que deixa a folha toda branca. O oído faz o contrário. O mídio no caroço dá um mofo branco, depois fi ca preto e cai, o oídio dá uma mancha branca no caroço e ele fica duro e não cai o pé, todos os dois comprometem mesmo a produção.


Pós-colheita


Após a colheita, os pés são pulverizados para manter as folhas por 60 dias, para que ela reponha as energias. Após isso as folhas caem e a planta entra em dormência, que vai de março a junho. Se o ano for muito chuvoso o período se estende de abril a maio. Geralmente junho e julho ela está sem folha. “Se você deixar ela brotar por conta própria, só volta quando o período acabar, mas como faço um controle aqui, irrigo, adubo então a gente quebra a dormência e a planta começa a brotar mais cedo ”, conta.


Visitas


O local é aberto à visitação, então muitas pessoas vão para conhecer a viticultura. Porém é importante ressaltar que a planta tem um período certo de produção. Não são todos os meses do ano que tem cachos de uva no pé. Segundo Ozeas, é provável que o restante da colheita das uvas seja feita até o final de fevereiro.


A propriedade Vôttilio, nome das terras da família de Ozeas, recebe visitantes de vários estados e municípios do estado para conhecerem os produtos feitos a partir das uvas e muitos vão especialmente para ver os parreirais.


“Nós já recebemos gente de muito lugar. Geralmente o pessoal tem parente que mora na região, mas recebemos visitantes de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, de toda a região. Tivemos a visita de um indiano, que mora nos EUA que nunca tinha visto uma parreira de uva, o cara fi cou encantado, recebemos um rapaz da Bahia que mora no Canadá ”, contou Antonieta.


Segundo o casal, a cada ano aumenta mais o número de visitantes no lugar, eles ainda afi rmaram que recebem mais pessoas de Vitória do que de Cachoeiro, mesmo com a proximidade do município.


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