Setores apontam ações para coibir violência em escolas
por Assessoria de imprensa Ales
em 04/04/2023 às 17h44
7 min de leitura
Somente no ano de 2022, o setor de inteligência da Polícia Militar (PMES) identificou 34 ameaças de ataques em escolas no Espírito Santo, fora as que de fato acabaram se concretizando. Os números apresentados pelo comandante da Companhia Especializada de Polícia Escolar (Cepe), capitão Eliandro Claudino de Jesus, preocupam as forças de segurança e acendem um alerta. O tema foi debatido na reunião ordinária da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa (Ales), nesta terça-feira (4).
“Na nossa unidade nós não encaramos nem uma frase em banheiro como uma brincadeira ou um trote. Nenhum desses eventos nós encaramos como uma simples brincadeira, todos nós levamos à máxima seriedade na apuração. Infelizmente alguns ainda não são possíveis de identificar a autoria. (…) No segundo dia de aula, no dia 2 de fevereiro (de 2023), nós tivemos um evento marcante em uma escola, na identificação de um aluno com reais intenções de promover um evento desse porte”, alertou.
Desde o último ataque realizado em uma escola de São Paulo, há duas semanas, a Cepe já identificou três reais ameaças em instituições de ensino capixabas. “Eu não estou falando para causar pânico ou para causar temor, pelo contrário, é para nós refletirmos que o problema está posto e nós precisamos discutir cada vez mais, para chegarmos a medidas mais protetivas, garantir pelo menos a proteção”, ressaltou.
O presidente do colegiado, deputado Delegado Danilo Bahiense (PL), cobrou urgência na adoção de medidas. “Nos acendeu um sinal forte de alerta. Isso tem exigido das autoridades ligadas à Segurança Pública, Saúde e Educação, profundas reflexões e urgência em ações preventivas e repressivas, pois afeta profundamente a comunidade escolar e toda sociedade, de um modo geral”, opinou.
O parlamentar chamou a atenção para os sinais da violência nos ambientes escolares, nos últimos anos. “Na realidade os sinais do crescimento da violência no ambiente acadêmico já vinham sendo dados, por meio de agressões verbais, físicas e psicológicas, com atitudes recriminatórias, vandalismo, desrespeito de alunos com os professores, bullying e com a criação de diversos mecanismos de interação através das mídias sociais”, frisou.
“Também vimos ameaças, ofensas e humilhações que já vinham apontando para o cenário que vivemos hoje. Pois nos últimos 20 anos, ao menos 23 ataques foram cometidos em escolas (brasileiras), praticados por estudantes ou ex-estudantes. As escolas já foram um lugar seguro, onde os pais deixavam seus filhos, despreocupados. Porém, em razão da violência, esse não é o cenário atual, uma vez que a escola passou a ser um caso de polícia”, lamentou.
Para o deputado, a solução passa pela construção de ações interdisciplinares, envolvendo sociedade, comunidade escolar, iniciativa pública e forças de segurança. “É necessário grande esforço e a mobilização de diversos órgãos e instituições, no âmbito estadual, municipal e federal, para que juntos, possamos de modo multidisciplinar e multissetorial, enfrentar a violência nas escolas”, concluiu.
Atuação nas escolas
O comandante da Cepe falou sobre sua experiência ao longo dos últimos anos, atuando nas escolas da rede pública do Estado. “Não é um tema com soluções simplistas. Envolve muita reflexão, muito diálogo e algumas mudanças de mentalidade, por assim dizer, ou quebras de paradigmas, principalmente quando nós precisamos abordá-lo de forma mais clara”, afirmou o capitão Eliandro Claudino de Jesus.
O policial explicou que as ações vão sendo construídas com o aprendizado das equipes que atuam nas escolas. “Desde 2010, quando começamos essa atuação dentro das escolas, vem acontecendo um constante aprendizado de atuação da PMES junto às escolas do nosso estado. Um aprendizado porque realmente é um ambiente que merece toda atenção e merece a reflexão, dada a sua complexidade”, ressaltou.
Relações sociais
Uma “mudança drástica de comportamento” e uma percepção real de transformação das interações sociais são identificadas pelo capitão como um sinal de uma nova era, não só no ambiente escolar, mas em toda sociedade. “Um grande mergulho em mundos virtuais e um grande afastamento de relações sociais. Isso tudo tem nos trazido mais complexidade nas relações, nas interações humanas, principalmente nas escolas. O que torna esse assunto tão complexo e tão importante”, opinou.
“É importante conhecer o tema e não apenas temer o problema. O que nós temos visto hoje é um grande temor, um pavor instaurado, mas pouca busca em conhecer o porquê, um jovem entra numa escola com a intenção de matar pessoas, sejam professores, sejam alunos. Por que? O que está por trás disso?”, questionou.
Mais Conexão Safra
O especialista chamou a atenção para pontos em comum que ligam os eventos ocorridos nos últimos 25 anos, citando casos ocorridos nos Estados Unidos nas últimas décadas até as mais recentes tragédias registradas no Brasil. “Todos os casos têm sinais aparentes antes de acontecer. Pelo menos oito vezes, no mínimo, o indivíduo que praticou o atentado deixou explícito de alguma forma que ia promover. Pelo menos uma pessoa sabia, isso são dados estatísticos de todos os eventos”, explicou o comandante.
Comitê integrado
Após os últimos eventos ocorridos no estado, o governo optou pela criação de um Comitê Integrado de Segurança Escolar, em uma parceria entre as secretarias estaduais de Segurança (Sesp) e Educação (Sedu), voltado para o desenvolvimento de ações de prevenção e enfrentamento à violência nas escolas da rede pública do Estado. O comitê é formado por 15 grupos temáticos, criados com o objetivo de direcionar os esforços.
O subsecretário estadual de Educação, André Melotti, falou sobre as ações integradas, que estão sendo coordenadas pela Sesp, mas que contam com a colaboração de outros setores. “Nós entendemos que esse é um projeto de governo. A partir disso, a Secretaria de Segurança Pública está desenvolvendo o projeto, com os nossos incrementos, junto com a Secretaria de Governo, para fazer um plano único, com as experiências de cada setor”, disse.
Medidas
O capitão Eliandro falou sobre diversas medidas que sempre são apontadas para prevenir que novos ataques ocorram. Portas giratórias com detectores de metal, instalação de alarmes e de botão do pânico, câmeras com inteligência artificial, entre outras. O especialista explicou que nenhuma dessas ações, por si só, garante uma segurança efetiva aos estabelecimentos.
“Nada disso irá funcionar se a equipe que está dentro da escola não estiver devidamente capacitada para entender essas ferramentas. Não adianta eu ter um botão do pânico, por exemplo, que vai conceder celeridade ao acionamento, se a resposta desse acionamento não for tão célere quanto o botão. (…) De que adianta eu botar uma porta giratória ou detector de metal na entrada de um estabelecimento, se o que cerca aquele estabelecimento de ensino são muros baixos ou cercas?”, indagou.
Rede privada
Os últimos acontecimentos no estado também acenderam o alerta das instituições privadas de ensino do Espírito Santo. O presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito (Sinepe-ES), Bruno Loyola, falou sobre o esforço integrado dos estabelecimentos, promovendo palestras com especialistas nas escolas e discutindo o assunto entre elas. “Assim vamos intercalando temas, tentando despertar cada vez mais esse olhar para a segurança patrimonial, e para a segurança em especial dos nossos alunos”, concluiu.
Tecnologia
Já a promotora de Justiça Moema Ferreira Giuberti falou sobre o uso da tecnologia no enfrentamento, na prevenção e na compreensão das novas gerações. Ela defendeu a tese de que é preciso compreender os processos e a forma como as relações pessoais se desenvolvem nos dias de hoje, antes de adotar medidas de prevenção nas escolas.
“É importante que a gente coloque as polícias, as forças de seguranças nas escolas, mas, acima de tudo, é necessário que nós entendamos o processo de violência nas escolas. E a gente vai conseguir entender esse processo, quando nós adotarmos um processo de audição para com esses menores e jovens. Numa sociedade em que nós vivemos hoje no ciberespaço, a gente não pode mais pensar de forma analógica, nós temos que pensar de forma tecnológica”, destacou a representante do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
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