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Geral

Esthério Colnago

Presidente do Sistema OCB-Sescoop/ES

por Redação Conexão Safra

em 08/10/2013 às 0h00

9 min de leitura

Esthério Colnago



Quando e com que objetivo surgiu o sistema OCB-SESCOOP/ES?


A criação da OCB/ES aconteceu em decorrência do crescimento do número de cooperativas em nosso Estado na década de 70. Assim, em 04 de setembro de 1972, foi constituída a Organização das Cooperativas do Estado do Espírito Santo (OCEES) com o objetivo de realizar estudos, promover a divulgação do sistema cooperativista, criar novas cooperativas, dar assessoria técnica, manter a integração com outros órgãos do cooperativismo e representar o Sistema perante as autoridades de uma forma genérica.


Como foi a evolução do movimento cooperativista no Estado do Espírito Santo?


As primeiras cooperativas, no Espírito Santo, nasceram no meio rural entre 1930 e 1940. Entre 1950 e 1958 foram criadas duas cooperativas de consumo e algumas cooperativas agrárias e, posteriormente, foram sendo criadas cooperativas nos ramos escolar, agropecuário, crédito urbano, crédito rural, habitacional e trabalho. A partir da década de 60, a criação de cooperativas deu-se em maior escala, impulsionada por diversos fatores e influências. As principais condições que contribuíram para a evolução das cooperativas, principalmente no meio rural, foram a situação geográfica do Estado, a imigração européia (alemães e italianos), a Igreja Católica, o Serviço de Extensão Rural, o qual foi criado com o objetivo precípuo de ajudar a família rural a ajudar-se e a Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo &ndash,(ACARES) que posteriormente passou a se chamar EMATER-ES, hoje INCAPER, cuja filosofia se assemelhava à própria filosofia cooperativista. A década de 60 despontou como um período de grandes transformações e com necessidades de apoio técnico e aumento da produtividade, além de vir delineando novos conceitos de mercado para produtos e comercialização. Outro fator importante foi o sentido de sobrevivência e o aumento da rentabilidade para os produtores rurais. O quadro era claro para o corpo técnico da ACARES e as cooperativas se apresentavam como um instrumento notável para a consecução desses objetivos, as quais eram carentes de um instrumental de técnicas para incentivo da agroindústria cooperativista no Estado. Por esta razão, foi incluído como meta prioritária no programa de trabalho de 1960 “o estímulo e orientação ao cooperativismo rural ”. Esse trabalho se desenvolveu, em grande parte, voltada aos produtores de leite e café, tendo como resultado a constituição de várias cooperativas agrárias com treinamento nas áreas administrativas, armazenagem, padronização e comércio. Nas cooperativas leiteiras foram introduzidas técnicas de produção de laticínios e industrialização. A maioria das cooperativas agrárias incluíam seções de consumo para oferecer insumos agrícolas e bens de consumo em geral para os cooperados e seus familiares. A economia rural, na década de 60, representava cerca de 60% da renda bruta do Estado e este fator, aliado à imigração européia, influenciou positivamente a criação e crescimento das cooperativas. Os imigrantes trouxeram para o Espírito Santo uma forte herança cultural dos seus países de origem, uma vez que as práticas associativas na Europa remontavam à idade medieval com as famosas corporações de ofícios. Historicamente o cooperativismo iniciou no século XIX, 1844, em Rochdale, Manchester, na Inglaterra.

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Os italianos, alemães e outros povos que vieram para o Espírito Santo iniciar nova vida estavam familiarizados com o trabalho em grupo, objetivo e resultados comuns porque já conheciam as cooperativas europeias. Fica fácil entender que as condições estavam formadas para assimilar a nova filosofia no território espírito-santense. Como exemplo, citamos os chamados “grupos de venda ”, grupos de cafeicultores de Afonso Cláudio, Domingos Martins e Santa Teresa que, sob a orientação da ACARES juntavam seus cafés até completar um caminhão que seria levado a Vitória para vender aos exportadores. Eram, como podemos notar, ações pré-cooperativistas que fundamentaram os conceitos e prepararam o terreno para a constituição das cooperativas no modelo que conhecemos. A Igreja Católica, através da ação dos Padres da Ordem dos Combonianos, contribuíram para criação de várias cooperativas no Estado, face sua proximidade com as comunidades e conhecimento das suas necessidades. O trabalho da ACARES foi realizado com a colaboração técnica de seu quadro funcional, formado por engenheiros agrônomos, técnicos em laticínios e administradores. Nas suas atividades, além das reuniões com as lideranças rurais para fomentar a criação de cooperativas, ministravam cursos, treinamento de conselheiros, contabilidade, qualidade do leite e outras formas de orientação e assessoria técnica. Esse trabalho teve um papel significativo e fundamental para o cooperativismo no período entre 1966 e 1970, época que ocorreu a erradicação do café, que resultou na eliminação das lavouras cafeeiras.


O que aconteceu com o movimento cooperativista a partir daquele momento?



As cooperativas foram profundamente afetadas, principalmente as agrárias de café, tornando-as ociosas, deficitárias e acarretando fechamento de várias delas. As Cooperativas de Crédito Mútuo, na sua maioria, foram estimuladas e assistidas pela Federação Leste Meridional das Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo (FELEME), que operava em âmbito nacional e foi desmembrada em várias Federações Estaduais. A FELEME tinha escritório no Rio de Janeiro e atendia o Espírito Santo. O desenvolvimento deste ramo no Estado se iniciou em 1961 e hoje possui várias cooperativas e duas Centrais de Crédito: Rural e Mútuo. O Cooperativismo de Crédito Rural nasceu em Pedro Canário, na localidade de Cristal, em dezembro de 1986. Registra-se a marcante atuação, no incentivo ao Cooperativismo de Crédito Rural através do extinto Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC).


Como está organizada a estrutura da OCB/ES?


O que a diferencia das demais OCBs? A OCB/ES possui uma linha de atuação diferente de diversas unidades estaduais, tendo o foco na prestação de todos os serviços que as cooperativas capixabas necessitam para se organizar, desenvolver e crescer. Optamos por ter no quadro de colaboradores técnicos que pudessem realizar visitas “in loco ” para assessorar em diversas áreas, assim como trazer demandas para que internamente possamos ajudar na solução das mesmas.


No Ano Internacional das Cooperativas, quais são as principais ações que a OCB/ ES está desempenhando?


O Sistema OCB-SESCOOP/ ES promove diversas ações, cursos, eventos, monitoramento, visitas e assessorias em diversas áreas (jurídica, parlamentar, contábil,comunicação,etc.). &Agrave, medida que esses eventos vão acontecendo, o Sistema procura levar a mensagem da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre a importância das cooperativas para o desenvolvimento sócio econômico mundial, para a inclusão social com sustentabilidade, para a geração de emprego e renda, além da distribuição mais justa dessa renda. Além disso, ao longo do ano, fizemos ações publicitárias em impressos, rádio e internet sobre o cooperativismo e sua contribuição para a população capixaba. Também veiculamos busdoor e enviamos releases com informações atualizadas para tentar mídia espontânea, fazendo assim com que a nossa 6ª edição Prêmio de Jornalismo Cooperativista tenha ainda mais sucesso.


No sul do estado, grande parte dos produtores rurais da pecuária leiteira está organizada em cooperativas. Com isso, quais são as grandes conquistas do setor?


Assim como em todos os ramos do cooperativismo e não só da pecuária leiteira, a organização por meio de cooperativas promove a inclusão de seus membros no mercado competitivo de produtos e serviços, ganhos em escala, além de melhorar a qualidade de vida, aumentar a renda e criar novos postos de trabalho. Dentro desse universo também estão inseridas famílias e comunidades inteiras, o que provoca um desenvolvimento sustentável mais amplo com justa distribuição de renda para a sociedade.


Uma das mais tradicionais cooperativas de laticínios do sul do estado, a Colagua &ndash, Cooperativa Laticínios Guaçuí, que reunia mais de 700 produtores de leite, passa atualmente por uma série crise de gestão, que culminou com a desestabilidade financeira da entidade e a evasão de vários cooperados. Com toda a sua experiência, deve ter visto esse cenário se repetir algumas vezes. O que o senhor considera que aconteceu com a Colagua e como a OCB/ES está atuando para amenizar a situação? O atual momento é de esperança? O senhor pode nos relatar algum caso similar?


A Colagua é uma cooperativa com mais de 50 anos de tradição e que há alguns meses se mostrou em grandes dificuldades, com risco inclusive de fechar suas portas. Infelizmente, o Sistema OCB- -SESCOOP/ES só tomou ciência das reais dificuldades do que estava ocorrendo quando as notícias foram divulgadas pela imprensa do Estado e desde então estamos tomando providências, juntamente com uma nova diretoria, com os cooperados e diversos parceiros onde devemos destacar o forte e importante apoio recebido da SEAG através do Secretário Enio Bergolli. Desde a época os técnicos do Sistema OCB estão visitando “in loco ” a cooperativa, juntamente com a diretoria do Sistema OCB para auxiliá-los, além de já termos conseguido uma grande parceria para consultoria aplicada através da ADERES e SEBRAE. Estamos fazendo um trabalho forte no que diz respeito à volta da entrega do leite por parte de alguns cooperados que já haviam saído da cooperativa e isso já está acontecendo. Temos cooperativa parceira (Veneza) que recebe todo o leite, para não deixar que os cooperados se dispersassem e continuassem a entregar seu leite na Colagua. Sendo assim, o momento é de esperança e muita! A nova diretoria está animada da mesma forma que seus cooperados. Já estamos conseguindo ver resultados, já pagaram contas atrasadas, os salários de funcionários e a folha do leite estão em dia, e assim vamos caminhando! Outros casos semelhantes de dificuldades em Cooperativas já ocorreram, não só no Estado como em outros lugares do Brasil, não podemos generalizar, precisamos reconhecer os bons exemplos como a Selita, o Sicoob, a Unimed, a Veneza, a Serrana, Coopeavi, Cooabriel, Cocafé, e muitas outras que crescem e nos dão orgulho de norte a sul do Espírito Santo.


E quais são as cooperativas voltadas ao agro negócio no sul capixaba que têm apresentado melhor desempenho? Além das tradicionais cooperativas de leite, café e de crédito rural algum novo segmento tem aderido ao movimento cooperativista?


Todas as cooperativas do ES tem apresentado bom desempenho, algumas são maiores e com mais tempo de existência e outras novas que estão chegando agora e com muita garra e vontade de fazer o melhor. Em todos os setores as cooperativas são o Orgulhos dos Capixabas!




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