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Associação ajuda a melhorar renda de agricultores

por Redação Conexão Safra

em 08/10/2013 às 0h00

7 min de leitura

Associação ajuda a melhorar renda de agricultores


Venda do café feita de maneira coletiva garante melhores preços do grão. Agricultoras também começaram a fazer cursos de industrialização caseira


Outra grande difi culdade dos agricultores de Palmeiras era vender bem a produção de café. Cada família comercializava as suas sacas por conta própria. Como o volume era pequeno, os atravessadores desvalorizavam o grão. A virada começou quando a associação entrou em contato com o Cetcaf, Centro Tecnológico do Café, uma organização não governamental que faz pesquisa e transferência de tecnologia. O objetivo era montar uma unidade moderna de benefi ciamento que permitisse tanto o trabalho em grupo quanto a melhoria da qualidade do café.


Com o projeto do CETCAF e apoio da Cafesul, a benefi ciadora saiu do papel em 2006. Os equipamentos foram todos doados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre a aparelhagem está a máquina que faz a seleção dos grãos. O produto é lavado e passa por esteiras e peneiras. No fi nal, é separado em três categorias.


O agrônomo Marcos Teixeira explica que, depois da divisão, cada lote de café deve seguir, separadamente, para o tambor giratório, onde ocorre a secagem dos grãos em aproximadamente 36 horas, o que é ótimo para a qualidade do produto. Na sequência, o café da comunidade passa por um equipamento que retira uma película fi na que envolve o grão. No fi nal, é só ensacar.


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A venda do café também passou a ser feita de maneira coletiva, o que garante preços melhores. Além do ganho extra pela qualidade, José Cláudio diz que, de uns anos pra cá, o café da comunidade passou a ser exportado para a Europa com um selo social, o que aumenta ainda mais o preço do produto.


O chamado fair trade, que quer dizer comércio justo ou comércio solidário, foi conseguido em um projeto da Cafesul, a cooperativa da região. Para manter a distinção, os agricultores têm que manter crianças na escola, seguir leis do trabalho e respeitar a natureza.


A associação também resolveu diversifi car e apostar em novas fontes de renda para a comunidade. Nesse caminho, a ferramenta fundamental, mais uma vez, foi o conhecimento. As agricultoras da comunidade começaram a fazer cursos de industrialização caseira. A ideia é produzir pães, bolos, geleias e doces de maneira profi ssional.


A economista doméstica Eliana Cabral, instrutora do Incaper, comenta “é fundamental dentro de uma propriedade rural a diversifi cação. No ano em que o café não dá um preço muito bom, eles têm a agroindústria e a fruticultura ”, diz. Rosa, esposa de José Cláudio, apostou na fabricação de pães. No começo, ela fazia tudo na cozinha de casa. Mas como o negócio cresceu, o casal resolveu construir uma mini-indústria bem equipada. Os agricultores de Palmeiras também fabricam biscoitos e bolos, polpa de fruta e doces variados. Além de vender a produção em feiras e mercados locais, a comunidade também conta o PAA – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar. O projeto, mantido pelo governo federal, garante a compra de produtos de pequenos sitiantes em todo o Brasil. Atualmente, o programa público compra, por ano, R$ 85 mil em produtos da comunidade.


Ao longo dos anos, os agricultores da associação não investiram apenas em atividades produtivas, como agricultura e agroindústria. A comunidade também se envolveu com outras mudanças de comportamento ligadas ao meio ambiente e à qualidade de vida.


O trabalho regular de coleta do lixo deixou as propriedades da comunidade mais limpas e arrumadas. Todo material recolhido e vendido para um centro de reciclagem transforma-se em fonte de renda. O dinheiro é aproveitado em projetos da associação ou em melhorias para a comunidade.


Outra mudança fundamental foi resolver o problema do esgoto doméstico. Até alguns anos, todo material que saía das casas dos agricultores era despejado no rio da comunidade. A solução veio com a construção de fossas sépticas nos 40 sítios de Palmeiras. O projeto foi pago pela Fundação Banco do Brasil , outra entidade pública atraída pela associação. Circulando por caixas enterradas, o esgoto é fi ltrado e passa por um tratamento. O líquido que sai no fi nal é uma água meio amarelada que tem 95% de pureza.


Vale lembrar que com essa implantação, 220 famílias deixaram de poluir os córregos do lençol freático, os seus próprios quintais e além disso, ainda usam o efl uente, ou seja, a água que é liberada no processo, como adubo orgânico. O recurso repassado para a implantação das fossas na comunidade foi no valor de R$ 282.700,00, sendo R$ 265.100,00 repassado pela Fundação Banco do Brasil a fundo não reembolsável.


Crianças com computadores é outra cena que se tornou corriqueira na comunidade. A sala de informática, inaugurada em 2009, é o resultado da capacidade dos agricultores de aproveitar oportunidades e projetos disponíveis para quem vive no campo.


As melhorias na educação, no meio ambiente e nas atividades produtivas deram ao pessoal de Palmeiras uma vida com mais dignidade e mais conforto. Nos últimos quatro ou cinco anos, quase todas as casas foram reformadas, ampliadas ou até reconstruídas do zero. As famílias, que no passado eram pobres, contam com móveis, eletrodomésticos e equipamentos modernos. Já tem até agricultor com piscina do lado da roça.


Somando café, banana, agroindústria e outras fontes de renda, cada família da comunidade consegue atualmente uma renda média líquida de cerca de R$ 2,5 mil por mês, descontados os custos de produção. Além da força de vontade, um dos segredos desse trabalho é que os agricultores souberam aproveitar oportunidades e projetos que estavam disponíveis na região.


Prêmio Valores do Brasil 2012


O Banco Brasil contemplou a Associação dos Moradores de Palmeiras pelas mudanças que desenvolveram a comunidade com o Prêmio Valores do Brasil. A comunidade disputou com projetos de toda a região sudeste. José Cláudio, representante da comunidade, esteve em Brasília dia 26 de novembro para receber o prêmio. O Plano de Negócio DRS &ndash, Desenvolvimento Regional Sustentável – Cafeicultura de Palmeiras, relatava a experiência “renovação da lavoura cafeeira, aumento de produção e produtividade, adoção de práticas conservacionistas, com implantação de fossas sépticas, despoluição de mananciais e diminuição do analfabetismo da comunidade. Houve também melhoria da qualidade do café, o que garantiu um sobrepreço de aproximadamente 15% ”.


A comunidade atua de maneira muito eficiente na captação de recursos. Mantém uma rede de entidades apoiadoras porque elabora projetos sempre consistentes. “Não fizemos nada sozinhos. Muitas organizações nos ajudaram e continuamos contando com elas ”, relata Isaque. Alguns parceiros importantes da comunidade são Incaper, Senar e Sindicato Patronal de Mimoso do Sul, CETCAF, Cafesul, Banco do Brasil e Fundação Banco do Brasil, SEAG, SECT, Ministério das Comunicações e Prefeitura Municipal de Mimoso do Sul.


“Nos tornamos referência para outras associações. Começamos em um tempo que não havia ninguém que nos inspirasse. E ficamos muito tempo sem colher nenhum fruto ou benefício. Quase dez anos depois de formada a Associação é que conseguimos um celular, algo muito pequeno para tantas necessidades. Ficamos dez anos, esperando a terra prometida. Mas conseguimos. Agora é administrar com honestidade e transparência, pensando em todos e seguir em frente ”, comenta José Cláudio.


O pensamento da comunidade é sempre acreditar na coletividade e respeitar a opção de cada indivíduo. “Ninguém aqui quer obrigar os jovens a se fixarem na roça, a se plantarem no campo como se fossem uma árvore. Queremos oferecer possibilidades. E sempre respeitando a escolha de cada um. E acreditamos que estamos conseguindo ”, finaliza o presidente Isaque Teodoro.

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