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Cláudia Sabadini

Claudia Sabadini é jornalista e escritora, com seis livros publicados.

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A natureza não está de mau humor

por Cláudia Sabadini

em 03/05/2024 às 17h40

4 min de leitura

A natureza não está de mau humor

Foto: Divulgação/freepik.com

Aconteceu de novo. O sul do país vive nova catástrofe climática, que a mídia já trata como a maior de todos os tempos. Está penoso acompanhar nos noticiários e nas redes sociais a exploração desmedida da tragédia e o engajamento de pessoas interessadas unicamente em polarizar o debate, esquecendo-se que esta não é uma pauta de centro, direita ou esquerda, é de todos nós que assistimos estarrecidos a mais uma crise, mesmo com todos os alertas vermelhos.

O que ocorre no Rio Grande do Sul não é um fenômeno isolado, está no centro das atenções como esteve o Espírito Santo há pouco mais de um mês, quando cidades capixabas foram quase que inteiramente destruídas pela força das águas, num patamar jamais visto. Não é necessário ser apocalíptica para entender que a natureza vem dando sinais há décadas, avisando como uma mãe protetora, que está difícil tolerar os desacordos com a humanidade. O que mais precisa acontecer não sei, só sei que a natureza não tem sede de vingança, nem está de mau humor, está entregando os pontos, cansada de ser ignorada pelo homem.

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A cada nova crise climática centenas de óbitos, desaparecidos, desabrigados, perdas materiais, prejuízos, flagelos. É possível que o número de mortos e desaparecidos suba, porque há mais previsão de chuva para o fim de semana. Enquanto isso, o sudeste vive novo alerta de calor excessivo para os próximos dias, em pleno outono. Está claro que passou da hora de corrigirmos o rumo, alinharmos responsabilidades e sairmos do discurso. Quem não está indignado, está com medo, porque já entendeu que ninguém está seguro, mesmo que não esteja em áreas de riscos, será impactado diretamente pela escassez de recursos. Numa tragédia todos sofrem pela falta de alguma coisa: água, alimento, gasolina, atendimento público, comunicação, mobilidade, emprego. O brasileiro é solidário, faz doação, pratica ajuda humanitária e voluntariado, mas só isso não basta; sem o comprometimento com planos de prevenção trataremos eternamente o socorro, enquanto mais pessoas sofrerão.

Não podemos mais ignorar as mudanças climáticas e continuarmos vivendo tranquilamente nossas vidas, enquanto cidades inteiras desaparecem seja pelas secas ou pelas enchentes. Inspirados pela nossa dor ou pela a do outro, é urgente sairmos de achismos, de negações e favorecimentos particulares para tratarmos com prioridade a vida e o futuro do planeta. Populações de todos os continentes estão vulneráveis, e o pior, com a clareza do que ainda pode vir a acontecer a partir destes eventos climáticos extremos.

Não faltam recursos financeiros para o país cuidar de forma antecipada destes eventos; faltam regulação, fiscalização, transparência. Falta que o interesse público prevaleça sobre o privado. Falta uma nova consciência coletiva, que valorize a ciência, os estudos ambientais, as tecnologias. Falta incentivo aos profissionais alocados em instituições sérias debruçados sobre as soluções, mas sem apoio governamental. Falta gente certa no lugar certo e sobram analfabetos ambientais e climáticos, alheios aos cenários devastadores.

Por onde começar? Você pode estar se perguntando. O primeiro passo é reconhecer que vivemos uma crise climática e já estamos nela há bastante tempo; depois buscar informação correta, por meio de estudos e resultados; acompanhar as pautas ambientais do país, seu Estado e município, se mobilizando para proteger seu lugar; por fim, escolher representantes comprometidos com a pauta ambiental, cobrando deles e exercendo uma cidadania participativa e ativa. Os acordos já existem. Basta uma pesquisa rápida sobre o Acordo de Paris, encontrado facilmente no site do Ministério do Meio Ambiente. Então, o que falta mais fazer? Que as nações cumpram o combinado.

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