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Agroecologia

A transformação agroecológica que acontece no Norte do Espírito Santo

Iniciativas de agroecologia e produção orgânica estão gerando uma verdadeira revolução nas regiões Noroeste e Norte do Espírito Santo. Confira primeira parte da série especial "Revolução verde capixaba"

por Leandro Fidelis

em 05/06/2024 às 5h00

7 min de leitura

A transformação agroecológica que acontece no Norte do Espírito Santo

A introdução da batata-doce biofortificada impactou diretamente a renda das famílias agricultoras de Montanha. É o caso da professora Manoelita Alves Peruchi, da comunidade de Cristóvão. (*Fotos: Divulgação)

No Norte, Noroeste e Extremo Norte capixabas, uma revolução silenciosa está em curso. Nas comunidades rurais de Ecoporanga, Montanha, Nova Venécia, Pedro Canário, Pinheiros e Ponto Belo, agricultores familiares dão novo rumo à produção de alimentos, que não só promete uma agricultura mais saudável e sustentável, mas também reescreve as narrativas do desenvolvimento rural na região do Espírito Santo com clima característico do semi-árido.

A agroecologia emerge como uma força transformadora nas propriedades, promovendo uma nova visão de vida e saúde para agricultores e consumidores. O projeto “Multiplicando Saberes, Produzindo Vida“, desenvolvido pela Fundação de Desenvolvimento e Inovação Agro Socioambiental do Espírito Santo (Fundagres Inovar), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação (Fundeci), administrado pelo Banco do Nordeste (BNB), dentro do Programa de Desenvolvimento Territorial (Prodeter)- PAT Agroecologia, é um exemplo vívido dessa revolução verde.

A jornada começa em Ecoporanga, onde agricultores resilientes enfrentaram desafios pessoais e ambientais para abraçar a agroecologia. Sob o olhar atento do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e com o apoio do Incaper, da Fundagres Inovar e do BNB, eles se uniram para formar uma Organização de Controle Social (OCS), possibilitando a comercialização direta de produtos orgânicos. Não é apenas uma história de sucesso econômico, mas também um testemunho de transformação pessoal e coletiva, onde a saúde, o bem-estar e o respeito ao meio ambiente são priorizados, como veremos adiante.

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Em Ponto Belo, a agroecologia floresce como uma nova esperança para agricultores que buscam uma vida mais digna e sustentável. Através de iniciativas como a Unidade Agroecológica de Experimentação Participativa, onde a olericultura e a fruticultura são destaque, eles estão aprendendo e compartilhando conhecimentos, integrando a ciência com saberes ancestrais para cultivar alimentos de forma mais saudável e respeitosa com o meio ambiente. A colaboração entre instituições como Fundagres e Incaper fortalece esse movimento, transformando o campo em um epicentro de inovação e vitalidade.

A agroecologia também se mostra como uma alternativa viável e promissora para o desenvolvimento rural sustentável em Nova Venécia, Pedro Canário e Pinheiros. Agricultores dos três municípios estão adotando práticas agroecológicas, diversificando cultivos e buscando mercados institucionais para garantir renda estável para suas famílias. Com o apoio do Incaper e do Banco do Nordeste, eles estão abrindo caminho para uma agricultura mais justa e regenerativa. Enquanto na primeira cidade, agricultores criaram a que promete ser a primeira cooperativa orgânica do Estado, em Pedro Canário e Pinheiros, “guardiões” preservam sementes crioulas devido à demanda crescente por alimentos saudáveis e livres de contaminantes.

Andressa Alves (Incaper)

Já em Montanha, a agroecologia é mais do que uma prática agrícola: é uma filosofia de vida que permeia a gestão municipal e inspira comunidades inteiras. A lei que promove a produção orgânica e o respeito ao meio ambiente em vigor foi encaminhada pela comunidade, sendo posteriormente sancionada pelo prefeito, André Sampaio. Uma das iniciativas é o atendimento à comunidade Cristóvão, recolhendo o lixo para evitar queimadas no local. Além disso, a gestão articula a comunidade para receber equipamentos do governo do Estado, visando melhorar a produção agrícola. Para o próximo ano, o município pretende sensibilizar mais produtores, utilizando o caso de sucesso de Cristóvão. Paralelamente a isso, o Incaper local iniciou um processo de incentivo à produção da batata-doce biofortificada “Beauregard”, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dando um rumo inovador à produção agroecológica de Montanha, como veremos a seguir.

E outros municípios estão criando marcos legais da agroecologia por meio do comitê gestor formado por Incaper, Banco do Nordeste e Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). De acordo com Andressa Alves (Incaper), coordenadora do ‘Multiplicando Saberes’, o Instituto participa dessas mobilizações em níveis municipal e estadual. Com isso, além de Montanha, Nova Venécia, Linhares e Viana já aprovaram ou estão a caminho de aprovação de legislações de incentivo à agroecologia e/ou inserção de alimentos orgânicos nas compras governamentais. Neste último município, o Ministério Público (MP) articulou o projeto “Pacto Agroecológico em Viana”, onde um dos resultados foi a criação de uma política municipal de agroecologia. A intenção, segundo Andressa, é incentivar iniciativas semelhantes em outros municípios capixabas, com apoio do MP e do Fórum Espírito-Santense de Combate aos Impactos de Agrotóxicos e Transgênicos (Fesciat).

Como ressalta a coordenadora de agroecologia, a sociedade está cada vez mais preocupada com os impactos da ação humana no planeta e na própria saúde. “Aquecimento global, poluição, alimentação saudável são temas presentes no nosso dia a dia. A agroecologia e a produção orgânica vêm ganhando espaço a cada dia entre os agricultores que não querem se contaminar com agrotóxicos e se preocupam com a terra que passará para os filhos e os consumidores que se preocupam com o meio ambiente e com uma alimentação mais nutritiva e sem agrotóxicos”, diz.

Andressa completa que, na agroecologia, também se luta para que o alimento seja produzido de forma local, respeitando os ecossistemas, a tradição alimentar e as formas de comercialização direta em feiras e mercados populares. “Para que esses agricultores se mantenham prestando esses serviços ambientais é importante terem renda garantida. Por isso, o Incaper apoia e incentiva o acesso a mercados institucionais como a comercialização dos produtos orgânicos para merenda escolar, o programa Compra Direta de Alimentos, onde os alimentos adquiridos dos agricultores são doados a lares de acolhimento a idosos, serviços de acolhimento institucional para crianças e adolescentes e famílias atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), entre outras”. Assim, são oferecidos alimentos saudáveis e de qualidade para essas pessoas e, ao mesmo tempo, garantem renda estável para as famílias de agricultores.

Essas histórias de sucesso não seriam possíveis sem o apoio dedicado de indivíduos e instituições comprometidas com uma visão de futuro mais verde e equitativa. Agentes de desenvolvimento como Sonia Lucia de Oliveira Santos, da Célula de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste- Superintendência do Espírito Santo, encontram gratificação pessoal e profissional no trabalho com agricultores agroecológicos. Sonia é citada “por 11 em cada dez agricultores agroecológicos”, o que valoriza esses heróis muitas vezes anônimos e que estão pavimentando o caminho para uma agricultura mais justa e regenerativa. “A minha experiência com os agricultores agroecológicos, através do Prodeter, é muito gratificante. Oportunidade de crescimento pessoal e profissional”, define.

Sonia Santos (Banco do Nordeste)

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